Novo vice-presidente dos EUA conseguirá impor a Trump postura agressiva face à Rússia?

© AFP 2023 / MANDEL NGANFuturo vice-presidente dos EUA Mike Pence aperta a mão de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, Nova York, EUA, 9 de novembro de 2016
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Enquanto todo o mundo está chocado com o fato de o novo presidente norte-americano ser Donald Trump, o governador do estado do Indiana, Mike Pence, se prepara para tomar posse como novo vice-presidente do país.

Quem é Mike Pence?

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Pence é pouco conhecido fora do seu estado. Uma caraterística destacável dele é o conservantismo radical. Muitos pensam que Pence fará todo o possível para que todos os esforços de Obama sejam arruinados. Na política externa, até o último momento, ele era apoiante da linha militarista com retórica agressiva em relação à Rússia. Entretanto, a última palavra neste assunto, bem como em muitos outros, será do presidente Trump.

Pence é um católico de origem irlandesa. Assuntos de fé e valores religiosos sempre foram muito importantes para ele. As suas tentativas de entrar no palco político, no fim dos anos de 1980 e início dos 1990, fracassaram e ele se tornou apresentador de rádio. Desde 1992, ele tinha seu próprio show de rádio sobre política.

Quando se tornou conhecido, ele conseguiu vencer as eleições para a Câmara dos Representantes, se tornando deputado pelo estado do Indiana. No Partido Republicano obteve uma reputação de conservador feroz, fazendo oposição constante à administração de George W. Bush.

Em 2012, Pence se candidatou ao cargo de governador do Indiana e venceu a corrida com uma pequena margem. Neste posto realizou uma política conservadora – diminuiu despesas de educação, serviços sociais, prisões, mas ao mesmo tempo diminuiu os impostos. A economia do estado crescia de forma lenta, mas conseguiu manter o rating de crédito muito alto.

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A figura de Pence se tornou ainda mais controversa quando ele assinou uma lei, segundo a qual as empresas podem se recusar a prestar serviços a gays com a base em princípios religiosos. Além disso, Pence está categoricamente contra os casamentos homossexuais. No seu estado ele introduziu uma lei que exige que mulheres realizem funerais dos fetos depois de abortar.

Pence como candidato à vice-presidência

Trump escolheu Pence como seu vice-presidente obrigando-o a renunciar à candidatura ao segundo mandato como governador do Indiana. Segundo a mídia, foram familiares de Trump que o aconselharam a escolher Pence depois de seu avião ter ficado avariado e ele se ter demorado no Indiana. Pence, como conservador feroz que é, não apoiou Trump nas primárias, sua escolha foi Ted Cruz que cedeu o Indiana a Trump. O site FiveThirtyEight chamou Pence de candidato à vice-presidência mais conservativo nos últimos 40 anos.  Ele representa um antípoda de Trump, que no passado apoiou democratas e teve posições liberais.

A hora de triunfo de Pence foi em 4 de outubro nos debates vice-presidenciais contra seu adversário democrata Tim Kaine. Nos debates, os dois políticos pouco conhecidos tinham de fortalecer suas posições no palco político. O tema principal dos debates foram as relações com a Rússia. Kaine acusou Trump e Pence de seu amor pela Rússia.

Pence respondeu que a política fracassada de Clinton no cargo de secretária de Estado norte-americana levou à "agressão russa" que ele e Trump enfrentarão.

"As provocações da Rússia têm de enfrentar a força dos EUA. Se a Rússia quer continuar os ataques bárbaros contra civis em Aleppo, os EUA devem estar prontos a usar suas forças militares para atacar alvos militares do regime (do presidente da Síria Bashar) Assad", disse Pence.

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Além disso, Pence se manifestou a favor da instalação do sistema de defesa antimíssil na República Tcheca e Polônia, do que tinham desistido Barack Obama e Hillary Clinton "para não ofender os russos", em 2009.

"Há um velho provérbio que diz que o urso russo nunca morre e somente entra em hibernação", disse Pence. Não existe tal provérbio nem em inglês, nem em russo.

As declarações de Pence impressionaram o establishment norte-americano, que receava as "simpatias de Trump pela Rússia". Muitos observadores locais pensavam que Pence teria o papel de novo "falcão" nas relações com Moscou. Entretanto, Trump diretamente disse nos debates presidenciais que não está de acordo com a posição de Pence sobre a confrontação com a Rússia.

Serviços secretos dos EUA disseram repetidamente que a Rússia apoiava a candidatura do republicano Donald Trump. O presidente russo Vladimir Putin afirmou que as declarações de que Trump é o favorito de Moscou é um método para manipular a opinião pública e de travar a luta política.

Vice-presidente na política externa

O papel do vice-presidente não está muito claro na constituição dos EUA. O vice-presidente deve substituir o chefe do Estado em caso de incapacidade deste para exercer suas funções. Isso aconteceu, por exemplo, quando o presidente John Kennedy foi assassinado em 1963 e seu posto ocupou Lyndon Johnson.

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Entretanto, o papel do vice-presidente variou muito. Na era contemporânea sua influência sobre a política dos EUA aumentou. Assim, Dick Cheney podia ser comparado, em termos de sua influência, com o presidente George W. Bush. Joe Biden também teve grande importância na administração Obama e frequentemente executou missões importantes, como na questão ucraniana. Mas em ambos os casos a última palavra sempre foi do presidente.

O próprio Pence disse que quer imitar o seu antecessor Dick Cheney. Os primeiros passos de Trump mostraram que ele confia em Pence – na semana passada começou a chefiar o comitê transitório, responsável pela transmissão de poder para a administração de Trump.

Segundo disse à agência russa RIA Novosti o analista e investigador do Centro de Estudos de Segurança da Universidade de Georgetown, Paul Pillar, a política externa ainda não está configurada. "O vice-presidente é um dos que exercerá influência sobre ela, mas não é o único e não necessariamente o mais importante na sua determinação", afirmou.

Outros especialistas pensam que agora é impossível determinar qual será a política de Trump, quando ainda não está claro quem será o secretário de Estado, uma das figuras mais importantes na política externa do país.

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