O primeiro-ministro do país Matteo Renzi já tem dito que, caso no domingo a maioria dos italianos vote contra a reforma, ele está pronto para se demitir.
RIA Novosti: Senhor vice-presidente [do Parlamento], nós agora estamos num local histórico – o Palácio Montecitório em que funciona o Parlamento, um dos centros do poder supremo na Itália. Ainda cinco anos atrás, nenhum dos analistas políticos poderia sequer imaginar que o representante de um movimento de protesto ocuparia um dos postos mais altos na hierarquia política do país. O que, na sua opinião, significa a chegada do MoVimento 5 Estrelas à grande política?
A propósito, o presidente da República Sergio Mattarella nos agradeceu por, continuando na oposição, nós prestarmos nosso serviço no Parlamento e em suas comissões.
RN: O senhor mencionou as previsões que não se cumpriram. Recentemente, todos nós vimos como nas eleições nos EUA, não obstante todas as previsões e pesquisas, a vitória foi conquistada por Donald Trump…
LM: Há um sentimento que na Itália e em outros países da União Europeia, e em grande parte do mundo ocidental em geral, já não existe a compreensão dos problemas reais que as pessoas enfrentam e que são prioritários para os cidadãos. Na sociedade existe a demanda pelo que muitas vezes é marcado como "populista". <…>
RN: Voltando à vitória de Trump. O que o senhor poderia dizer sobre as perspectivas das relações com os EUA?
Já o chefe do gabinete de ministros da Itália Matteo Renzi fez um erro grave por ter abertamente apoiado Hillary Clinton. Podemos dizer que todo o nosso país, se julgarmos pela posição da maioria governativa, apoiou o lado de Clinton. E, claramente, isso não é muito agradável para aquele que venceu as eleições. Estas, de fato, são ações diletantes em política externa.
RN: Tanto quanto sei, o senhor também faz parte da comissão parlamentar que trata da política da União Europeia. Como vê o futuro da UE após o Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia]?
Quanto ao Reino Unido, uma coisa é clara: os laboristas e dois terços dos conservadores queriam que o país deles continuasse sendo membro da UE. Quer dizer, os dois maiores partidos apoiaram a posição daqueles que perderam, porque a vitória foi obtida pelos apoiantes do Brexit. Isso mostra que atualmente os eleitores europeus estão encolerizados com os partidos tradicionais que os levaram para uma União Europeia destas. <…>
RN: Então qual é a sua visão da UE?
<…> Continuar dentro das margens daqueles parâmetros da UE que matam a Itália economicamente é uma loucura. Esses parâmetros devem ser mudados.
RN: No verão do ano corrente [inverno no hemisfério sul], os parlamentares do MoVimento 5 Estrelas tentaram fazer passar na Câmara de Deputados uma resolução para o levantamento das sanções antirrussas, mas ela foi bloqueada pela maioria governamental. Em geral, qual é a posição do senhor relativamente à Rússia?
LM: Achamos que para nós é extremamente importante manter as relações com a Rússia. Não especificamente com Vladimir Putin, mas Putin é hoje o presidente da Federação da Rússia, e é correto nós mantermos as relações com o vosso país através do seu presidente. O nosso objetivo é ter boas relações com o povo russo, seus cidadãos e seus representantes.
E outra coisa. Nós achamos que devemos absolutamente proteger as nossas empresas, que perderam 7 bilhões de euros por ano como resultado das contrassanções introduzidas pela Rússia, inclusive em relação à Itália. É hora de mudar a situação. <…>
RN: Gostaria de tratar de mais uma questão que tem a ver com a Rússia. Como é sabido, na cúpula da OTAN de julho em Varsóvia foi tomada a decisão sobre o envio de batalhões da Aliança, inclusive 150 militares italianos, para as fronteiras ocidentais da Rússia. Os parlamentários do MoVimento 5 Estrelas criticaram duramente esta decisão. Como o senhor vê o futuro da OTAN e suas relações com a Rússia?
LM: A presença de nossos militares nas fronteiras com a Rússia, é claramente uma via de continuação da criação de tensão internacional. E nós queremos que a atmosfera seja menos tensa e isso, claramente, não é um caminho para esse objetivo.
RN: A propósito da política externa. Literalmente há uns dias, o Parlamento Europeu aprovou a resolução sobre "a propaganda de terceiros países", sob os quais se entendem a Rússia e os terroristas islâmicos. Os representantes do MoVimento 5 Estrelas votaram contra o documento…
LM: Fazer alguma analogia entre a Rússia e o Daesh, do ponto de vista do envio de sinais internacionais, eu vejo como um passo bastante hostil. Foi por esta razão que nós não votamos a favor da resolução. É possível raciocinar sobre os mecanismos de divulgação de informação e a influência de outros países, mas fazer tais analogias é inaceitável.