Deputado italiano: sanções contra Rússia prejudicam segurança do próprio Ocidente

© AFP 2023 / FILIPPO MONTEFORTESessão no Parlamento italiano
Sessão no Parlamento italiano - Sputnik Brasil
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No próximo domingo, 4 de dezembro, na Itália será realizado o referendo sobre a bastante controversa reforma constitucional recentemente proposta pelo governo.

O primeiro-ministro do país Matteo Renzi já tem dito que, caso no domingo a maioria dos italianos vote contra a reforma, ele está pronto para se demitir.

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O correspondente da agência RIA Novosti em Roma Sergei Startsev pediu ao político, que é geralmente considerado como um possível candidato do MoVimento 5 Estrelas ao posto de premiê italiano, que compartilhasse seu ponto de vista sobre uma série de questões fundamentais da agenda internacional. Além disso, Luigi di Maio partilhou da possível perspectiva para a situação política na Itália de acordo relação com os resultados do referendo. A Sputnik apresenta a entrevista editada do político italiano.

RIA Novosti: Senhor vice-presidente [do Parlamento], nós agora estamos num local histórico – o Palácio Montecitório em que funciona o Parlamento, um dos centros do poder supremo na Itália. Ainda cinco anos atrás, nenhum dos analistas políticos poderia sequer imaginar que o representante de um movimento de protesto ocuparia um dos postos mais altos na hierarquia política do país. O que, na sua opinião, significa a chegada do MoVimento 5 Estrelas à grande política?

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Luigi di Maio: O MoVimento 5 Estrelas desmentiu as previsões dos analistas durante os últimos cinco-seis anos. <…> Nós fomos apresentados como uma força política de uma espécie de bárbaros, prontos para pôr a fogo e espada as instituições do poder. Mas nós mostramos que podemos ocupar postos políticos dirigentes. Isso não significa de todo a recusa da luta política. O nosso objetivo é a "revolução delicada": mudar o país com a ajuda das instituições democráticas sob a permissão de cidadãos.

A propósito, o presidente da República Sergio Mattarella nos agradeceu por, continuando na oposição, nós prestarmos nosso serviço no Parlamento e em suas comissões.

RN: O senhor mencionou as previsões que não se cumpriram. Recentemente, todos nós vimos como nas eleições nos EUA, não obstante todas as previsões e pesquisas, a vitória foi conquistada por Donald Trump

LM: Há um sentimento que na Itália e em outros países da União Europeia, e em grande parte do mundo ocidental em geral, já não existe a compreensão dos problemas reais que as pessoas enfrentam e que são prioritários para os cidadãos. Na sociedade existe a demanda pelo que muitas vezes é marcado como "populista". <…>

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Na Itália se começou falando de uma tal "maioria silenciosa" que não diz em quem vota, e é exatamente por isso que os analistas não compreendem nada. Na verdade não há maioria silenciosa, só há um establishment surdo, que jamais ouve os cidadãos e por isso não é capaz de responder aos problemas de pobreza e desemprego, os problemas ligados ao cumprimento do direito à saúde e à proteção do ambiente. Tudo isso atualmente está em segundo plano na Itália, enquanto se trata da legislação eleitoral e da reforma constitucional, sobre coisas que não são prioritárias para os cidadãos.

RN: Voltando à vitória de Trump. O que o senhor poderia dizer sobre as perspectivas das relações com os EUA?

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LM: O presidente dos EUA, escolhido pelo povo americano, se tornará o nosso interlocutor, porque o nosso objetivo é a manutenção de boas relações com todos os países, inclusive com os Estados Unidos. Temos uma série de ideias na área da política externa, e nós esperamos que estas sejam compatíveis com as ideias de Donald Trump. Julgando por tudo o que ele disse, nós entendemos que existem certas linhas na política externa que são compatíveis com o nosso programa para a política externa. Mas isso não significa que somos "tiffosi" [fãs] de Trump, como não fomos "tiffosi" de Hillary Clinton.

Já o chefe do gabinete de ministros da Itália Matteo Renzi fez um erro grave por ter abertamente apoiado Hillary Clinton. Podemos dizer que todo o nosso país, se julgarmos pela posição da maioria governativa, apoiou o lado de Clinton. E, claramente, isso não é muito agradável para aquele que venceu as eleições. Estas, de fato, são ações diletantes em política externa.

RN: Tanto quanto sei, o senhor também faz parte da comissão parlamentar que trata da política da União Europeia. Como vê o futuro da UE após o Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia]?

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LM: O futuro da União Europeia será determinado no ano seguinte. Haverá eleições na França, Alemanha, e espero que na Itália também. Se no referendo de 4 de dezembro vencerem os adversários da reforma, vamos exigir novas eleições em 2017, e esperamos que o presidente da República concorde com isso. Assim, o "diretório europeu" – França, Alemanha, Itália – se encontra na dependência das eleições nacionais, provavelmente as mais importantes em toda a história do Velho Mundo.

Quanto ao Reino Unido, uma coisa é clara: os laboristas e dois terços dos conservadores queriam que o país deles continuasse sendo membro da UE. Quer dizer, os dois maiores partidos apoiaram a posição daqueles que perderam, porque a vitória foi obtida pelos apoiantes do Brexit. Isso mostra que atualmente os eleitores europeus estão encolerizados com os partidos tradicionais que os levaram para uma União Europeia destas. <…>

RN: Então qual é a sua visão da UE?

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LM: Primeiramente, vemos a União Europeia como uma união entre povos. Em nossos países há várias centenas de milhares de desempregados, mas o tempo é gasto com a salvação de bancos. Para ter uma razão de ser, a UE deve ajudar os cidadãos europeus e os proteger do fenômeno de migração. O que isso significa? A UE desempenha um papel significativo na área da política externa. Ela poderia introduzir uma moratória à exportação de armas para aqueles países que desestabilizam outros países, poderia apresentar um ultimato aqueles países que financiam organizações terroristas no estrangeiro e poderia facilmente começar se opondo ao negócio que está sendo criado na migração como acontece, por exemplo, na Itália.

<…> Continuar dentro das margens daqueles parâmetros da UE que matam a Itália economicamente é uma loucura. Esses parâmetros devem ser mudados.

RN: No verão do ano corrente [inverno no hemisfério sul], os parlamentares do MoVimento 5 Estrelas tentaram fazer passar na Câmara de Deputados uma resolução para o levantamento das sanções antirrussas, mas ela foi bloqueada pela maioria governamental.  Em geral, qual é a posição do senhor relativamente à Rússia?

LM: Achamos que para nós é extremamente importante manter as relações com a Rússia. Não especificamente com Vladimir Putin, mas Putin é hoje o presidente da Federação da Rússia, e é correto nós mantermos as relações com o vosso país através do seu presidente. O nosso objetivo é ter boas relações com o povo russo, seus cidadãos e seus representantes.

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Porquê? Porque atualmente o levantamento das sanções contra a Rússia na política externa também significa a criação de uma frente comum antiterrorista. Ele significa o descongelamento da atmosfera de tensão internacional, que agora não nada é útil para os países que fazem esforços gigantescos na luta contra terrorismo. Os vossos [russos] serviços especiais têm conhecimentos importantes que devem ser unidos aos conhecimentos dos nossos serviços especiais para esforçar o combate contra o fenômeno do terrorismo, em particular o Daesh [grupo terrorista proibido na Rússia]. Assim, as sanções contra a Rússia são primeiramente um obstáculo à maior segurança do próprio Ocidente.

E outra coisa. Nós achamos que devemos absolutamente proteger as nossas empresas, que perderam 7 bilhões de euros por ano como resultado das contrassanções introduzidas pela Rússia, inclusive em relação à Itália. É hora de mudar a situação. <…>

RN: Gostaria de tratar de mais uma questão que tem a ver com a Rússia. Como é sabido, na cúpula da OTAN de julho em Varsóvia foi tomada a decisão sobre o envio de batalhões da Aliança, inclusive 150 militares italianos, para as fronteiras ocidentais da Rússia. Os parlamentários do MoVimento 5 Estrelas criticaram duramente esta decisão. Como o senhor vê o futuro da OTAN e suas relações com a Rússia?

LM: A presença de nossos militares nas fronteiras com a Rússia, é claramente uma via de continuação da criação de tensão internacional. E nós queremos que a atmosfera seja menos tensa e isso, claramente, não é um caminho para esse objetivo.

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Sobre a OTAN nós sempre dissemos uma única coisa: nós não queremos que [os países] saiam da OTAN, nós queremos que saiam dos limites da OTAN. O mundo está mudando e o Tratado do Atlântico Norte já não existe do ponto de vista histórico. Deve existir uma coalizão de países para combate, inclusive do ponto de vista militar, à nova ameaça que em uma série de casos é invisível e vive na nossa sociedade e que é o terrorismo. <…>

RN: A propósito da política externa. Literalmente há uns dias, o Parlamento Europeu aprovou a resolução sobre "a propaganda de terceiros países", sob os quais se entendem a Rússia e os terroristas islâmicos. Os representantes do MoVimento 5 Estrelas votaram contra o documento…

LM: Fazer alguma analogia entre a Rússia e o Daesh, do ponto de vista do envio de sinais internacionais, eu vejo como um passo bastante hostil. Foi por esta razão que nós não votamos a favor da resolução. É possível raciocinar sobre os mecanismos de divulgação de informação e a influência de outros países, mas fazer tais analogias é inaceitável.

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