É bem evidente que ninguém está disposto a entregar Palmira, que foi reconquistada dos jihadistas na primavera pela segunda vez. Fica também bem claro que os arquitetos da ofensiva entendiam perfeitamente que as tropas governamentais seriam obrigadas a deslocar unidades em boas condições de combate de Aleppo para Palmira, ou seja, tinham uma estratégia e escolheram o momento certo.
Segundo comentou o vice-chefe do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Damasco, Taleb Ibrahim, em uma entrevista à Sputnik Internacional, "ainda alguns dias atrás os militantes não conseguiriam reunir tantos combatentes para o ataque, mas a ofensiva contra Raqqa de repente parou e a inteligência ocidental não reparou na sua mudança de localização".
"Por isso existe a probabilidade de uma conspiração entre os terroristas e a coalizão ocidental", concluiu.
Ao falar da situação atual em Palmira, o especialista comunicou que o Exército Sírio está perto da cidade, tendo conseguido evacuar a maioria dos civis e se reagrupar.
"Agora se estão travando combates contra o Daesh e, acredito eu, o exército Sírio começará a contraofensiva daqui a alguns dias ou mesmo horas", adiantou. "Acho que 80-90% da população conseguiu fugir. A meu ver, neste momento devem estar apenas entre 300 e 500 civis na cidade", sugeriu Ibrahim.
Mas o fator principal, conforme ressalta o especialista, é a tática que o Daesh está usando para atacar. O próprio grupo chama isso de "tática de vespões": no início, pequenos grupos de militantes atacam as posições do Exército e depois lançam vagas de ofensiva, uma após outra, até tomar pleno controle do território.
"É uma tática muito eficiente e eu acredito que as forças governamentais não estavam preparadas para ela", destacou o analista.
Vale relembrar que o Daesh está fazendo frente a várias grandes operações militares: em Mossul, no norte do Iraque, e em Raqqa, no norte da Síria. Levando isso em conta, surge uma pergunta — como é que o grupo conseguiu mobilizar tantos combatentes para a reconquista de Palmira?
Em uma conversa com a Sputnik Persa, o cientista político e ex-conselheiro do chanceler e embaixador iraniano na Organização para a Cooperação Islâmica, Sabbah Zanganeh, explica que tal estratégia é, de fato, própria dos terroristas:
"Quando os militantes do Daesh e da Frente al-Nusra são sujeitos à pressão e aos ataques que levam ao seu extermínio total, eles tentam se deslocar para as outras regiões. Após a cidade iraquiana de Mossul ter sido bloqueada, uma parte considerável da província de Aleppo perto de Al-Bab foi reconquistada aos terroristas. <…> Os militantes do Daesh e outros terroristas, visando escapar a este cerco de ataques, empreenderam uma tentativa de invadir outro território — o de Palmira."
O especialista fala em uníssono com o primeiro entrevistado e assegura que esta operação não teria sido possível sem a ajuda dos "patrocinadores" estrangeiros — Turquia, Arábia Saudita, Qatar e EUA.
Ao resumir, o especialista ressaltou que a operação de Raqqa encabeçada pelos EUA foi apenas uma preparação para que os militantes fossem capazes de se deslocarem de Mossul para Palmira. "Toda esta campanha foi planejada e se realizou em colaboração com os EUA e outros atores regionais", expressou.