Em entrevista exclusiva à Sputnik Árabe, Abbas abordou em detalhes a postura controversa da ONU em relação à crise síria, revelando também sua opinião sobre eventuais planos dos EUA no país devastado pela guerra.
SA: O enviado especial da ONU para Síria, Staffan de Mistura, acredita que Idlib poderá se transformar em uma segunda Aleppo. Isso seria possível?
Quanto a Staffan de Mistura, estamos acostumados com suas declarações controversas. Primeiro, ele era a favor da retirada dos militantes para Idlib e estava pronto para se sacrificar e ir na frente à coluna dos terroristas, alegadamente, em prol da salvação dos civis. Mas, nunca falou algo a respeito do sofrimento dos sírios que viviam no território controlado por militantes. E agora ele fala sobre seus receios em Idlib.
Eu diria o seguinte: lá, estão se acumulando terroristas que penetram na Síria com a proteção dos seus patrocinadores ocidentais. Se o exército precisar expulsá-los de lá, o exército estará em situação mais vantajosa, diferentemente de Aleppo. Em primeiro lugar, para isso contribuirão a extensão da cidade de Idlib, a logística eficiente e a experiência dos militantes. Em segundo lugar, todos sabem que, desde o início da crise, lá se instalou a Frente al-Nusra, incluída na lista de grupos terroristas pela ONU. Isso significa que a comunidade internacional não poderá chamá-la de oposição moderada e não vai especular o direito internacional como aconteceu em Aleppo.
SA: Staffan de Mistura propõe organizar negociações com a oposição. Em sua opinião, eles poderão se sentar à mesa das negociações?
Há uma coisa mais importante. Será que os EUA vão proteger a Frente al-Nusra em Idlib a nível internacional? Tenho certeza que vão. Só que em breve eles darão outro nome à oposição armada e moderada – Dual al-mahalia.
SA: Será que o Conselho de Segurança da ONU continuará deturpando os fatos sobre a situação em Aleppo?
Ashwak Abbas: De fato, o Conselho de Segurança da ONU deixou de ser uma organização internacional, tornando-se uma representação dos EUA. Não chegaram nem a pensar se seria certa ou não forma de fazer cobertura da situação em Aleppo do ponto de vista informacional. Eles estão apresentando acusações falsas e afirmam que o exército sírio, alegadamente, faz represália sangrenta, sem apresentar foto alguma.
O povo sírio não lhes interessa. Quando eles falam sobre feridos, eles se referem a militantes feridos e ao seu destino posterior, a população civil não é importante para eles.
SA: John Kerry informou que hoje a solução da crise síria depende da Rússia e Síria. Poderia comentar por que os EUA não falam sobre seu papel?
SA: O conselheiro do enviado especial da ONU para a Síria, Jan Egeland, disse que os militantes gostariam de escolher o local de Aleppo de onde eles pretendem sair. Alguém está querendo ir para a Turquia. Como você acha que a Turquia vai proceder em relação a essas pessoas?
Ashwak Abbas: Vou dar os fatos, e não sugestões ou opiniões. Na véspera, Recep Tayyip Erdogan anunciou estar pronto para receber militantes que retornam de Aleppo. Vimos fotos com transporte turco que deveria leva-los à Turquia. Lá, eles serão treinados para realizarem novos ataques na Síria que já estão sendo preparados. Não acho que os turcos sigam princípios humanos. Esses são planos para o futuro.