França prepara opinião pública para negociações com Bashar Assad?

© AP Photo / George OURFALIAN / AFPDeputados franceses do partido Os Republicanos ('Les Républicains') Thierry Mariani (à esquerda) e Nicolas Dhuicq (terceiro à direita) visitam a cidade antiga de Umayyad em Aleppo em 6 de janeiro de 2017
Deputados franceses do partido Os Republicanos ('Les Républicains') Thierry Mariani (à esquerda) e Nicolas Dhuicq (terceiro à direita) visitam a cidade antiga de Umayyad em Aleppo em 6 de janeiro de 2017 - Sputnik Brasil
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Tal como da primeira vez, há um ano, a visita dos deputados franceses a Damasco e Aleppo por iniciativa de Thierry Mariani, membro do partido Os Republicanos ('Les Républicains') provocou polémica na França.

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Em ambiente de crítica tradicional em relação aos políticos que, apesar da posição oficial de Paris, estão mantendo contatos com o governo da República Árabe da Síria, aconteceu mais um evento imprevisto: no último dia da visita, o presidente sírio Bashar Assad foi entrevistado, por três mídias francesas em simultâneo, incluindo o canal público France Info e o canal oficial do parlamento francês.

"A verdade é a vítima principal dos eventos no Oriente Médio", declarou Bashar Assad às três mídias francesas. Uma transmissão em direto das palavras do presidente sírio a jornalistas franceses — não será isto um primeiro passo da política real da França na questão síria? Será que essa entrevista significa a disponibilidade da França para retomar o diálogo com Damasco? 

A Sputnik França entrevistou Jean Lassalle, membro independente da Assembleia Nacional da França e presidenciável francês, um dos três deputados que formaram a delegação de parlamentários chefiada por Thierry Mariani que visitou a Síria.

Ele falou sobre a evolução lenta da aceitação dos contatos com Damasco pela mídia:

"No início, a mídia foi muito crítica em relação à nossa viagem. Os que se encontraram com Bashar Assad mudaram um pouco sua atitude, mas a situação geral em França não vai mudar no futuro próximo."

Jean Lassalle é cético quanto à possibilidade de haver alterações na linha da política exterior francesa em relação à Síria antes as eleições: "Não acho que até às eleições presidenciais a França mude sua política quanto à Síria, François Hollande não vai abdicar das ideias principais da sua governança. A França não poderá rejeitar as ideias de Genebra e aderir às negociações em Astana."

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Segundo opina Alexandre del Valle, especialista em geopolítica e relações internacionais e autor do livro "Os verdadeiros adversários do Ocidente: da rejeição da Rússia à islamização das sociedades abertas" ("Les vrais ennemis de l'Occident, du rejet de la Russie à l'islamisation des sociétés ouvertes", edição de Editions du Toucan), ainda é muito cedo para falar de uma alteração de atitude em relação ao governo sírio. A entrevista com Bashar Assad não é necessariamente um sinal de mudanças nessa relação. Ao contrário, as palavras do presidente da Síria estão sendo usadas pelos políticos e jornalistas com determinados objetivos:

"Eu penso que alguma mídia gostou que Bashar Assad tivesse falado bem de Donald Trump e François Fillon. Há quem use isso para prejudicar esses dois políticos. Sabemos que hoje a maior ofensa no Ocidente é a proximidade ao regime sírio e à Rússia. Quando um líder ocidental é acusado de ser apreciado pelo senhor Putin ou pelo senhor Assad, isso geralmente é mau para aquele que é acusado de tais avaliações. Não estou seguro que se trate de alterações na avaliação do regime sírio ou até mesmo de Bashar Assad. Penso que isso é alarido, é para criar sensação: ‘Temos um presidente ditador, que é a quintessência do mal a nível mundial, e que fala bem do senhor Trump e do senhor Fillon.' É provável que essa informação possa ser interessante para a mídia exatamente para que consiga causar danos a essas duas pessoas."

Alexandre del Valle acha que os legisladores gaullistas que viajaram para a Síria desempenham o papel de uma espécie de ponte, e estão preparando a base para uma nova política após o retorno das forças da direita ao poder:

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"A presença dessas duas pessoas [deputados do partido Os Republicanos ('Les Républicains'), Nicolas Dhuicq e Thierry Mariani] — tem na verdade importância, ambos os legisladores fazem todo o possível para que algum dia o retorno dos gaullistas leve a uma aliança com a Rússia, o que, certamente, significaria no plano diplomático uma aproximação ao regime de Bashar Assad. Como você disse, citando o senhor Copé, isso seria 'uma espécie de mal menor em comparação com terroristas e islamistas em geral'. A oposição armada é composta não só por terroristas, mas também por islamistas radicais que têm a mesma orientação que a Irmandade Muçulmana, que segue a mesma ideologia dos terroristas, exceto que eles não fazem o mesmo e não têm o mesmo nome. Em minha opinião, estes deputados gostariam de impor a posição que até Hollande tomou após os atentados terroristas, percebendo que o adversário principal dos franceses é o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia) e revendo sua atitude para com a Rússia. É bastante provável que isso seja de certa forma tanto uma mensagem desses deputados, como do próprio Bashar Assad."

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