Recolhendo frutos
Infelizmente, não se pode dar uma resposta otimista a esta questão, já que "estamos evidenciando como o maior país latino-americano recolhe frutos dos abalos do ano passado que muitos, inclusive no próprio Brasil e em outros países da região, estão sendo considerados como um golpe de Estado", afirma o acadêmico.
"Foi efetuado de forma meiga judicial-parlamentária que parece estar na moda atualmente", ironizou o cientista político. De qualquer modo, "há muita incerteza quanto à legitimidade desta mudança do poder, ou seja, da destituição de Dilma Rousseff".
É fato consumado que tanto no mandato de Dilma quanto no de Lula, seu antecessor e, apesar das intimidações de prisão, possível futuro candidato à presidência, não aconteceu "nada parecido" no país, ressalta Kharlamenko.
Sim, o poder de esquerda não conseguiu erradicar o problema, pois não tinha maioria nem no parlamento nem nos estados. Mesmo assim, nunca permitiu que a situação chegasse a tal ponto, realça Kharlamenko.
"Deste modo, o eixo-badeixo penitenciário se intensificou com a saída de Rousseff", resumiu a locutora do programa.
Fantasma mexicano
"O Brasil está enfrentando o fantasma mexicano. Algo parecido já aconteceu lá", diz.
Porém, após anos de reformas neoliberais, ele "vem se afogando em uma guerra civil não proclamada, que não é travada entre classes ou partidos, mas, como se declara a nível oficial, entre os clãs do narcotráfico".
Quem ganha com isso?
"No Brasil, as pessoas não temem revolução", observa o acadêmico.
Na opinião dele, o povo receia que as forças de extrema direita, que desde o início não têm aprovado a candidatura de Michel Temer, embora tenham o ajudado e favorecido "o derrube de Rousseff", estejam usando "tais métodos para permanecerem no poder".
"Fiquei preocupado com os recentes distúrbios sangrentos em um presídio de Natal, no Nordeste do país, tudo começou com a entrega de armas aos prisioneiros por cima do muro da prisão. Pessoas desconhecidas passaram as armas", especifica Kharlamenko.
"Eu suspeito que estejam envolvidos, primeiramente, traficantes de drogas e, em segundo lugar, forças de extrema direita que estão preparando já um impeachment para o próprio Temer", resumiu.
Vale ressaltar, diz Kharlamenko, que os nomes dos prováveis sucessores ainda não foram revelados, porque o "mais hilário" desta situação está relacionado aos "montes de dados comprometedores" sobre todos os políticos de extrema direita, "não somente sobre Lula e Dilma".
"Revelar nomes poderia complicar a vida de muitos", adiantou.