‘OTAN é uma coisa anacrônica’, diz especialista brasileiro

© AP Photo / Sava RadovanovicBundeswehr troops operating as part of a NATO mission Bosnia, 2001.
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Até que ponto os países europeus podem prescindir da ajuda dos Estados Unidos e da OTAN em caso de ameaça externa? Pesquisa revela que 48% dos americanos acreditam que os países europeus têm condições de se defenderem sozinhos sem o apoio dos EUA e da OTAN. Já na Europa, mais da metade dos entrevistados disseram que não.

Os maiores percentuais da pesquisa foram registrados na Itália e na Polônia (65%) e também na Alemanha (63%), enquanto 33% na Espanha e 30% na França acreditam que não precisariam da ajuda americana ou da aliança do Atlântico Norte. 

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A idade média dos europeus que acreditam na capacidade de autodefesa da Europa é de 50 anos, uma opinião partilhada também pelos europeus de formação superior e de mais renda.

Para o coordenador de Assuntos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Fernando Almeida, a OTAN foi criada especificamente no ambiente da Guerra Fria, num contexto de disputa contra a economia planificada da União Soviética. 

"Quando ela [a URSS] se desfez, a OTAN ficou um tanto supérflua de fato. Ela foi mantida em função de outras preocupações, agora de contenção de possíveis desafiadores da ordem internacional, de tentativa de troca de regime. Na verdade, a OTAN é um organismo que não tinha mais necessidade de existir. Com a reconstrução da capacidade de intervenção do Estado russo, ela é retomada não mais contra a economia planificada, que não existe mais, mas contra a ascensão da Rússia e de outros países. Ela [OTAN] atua fora da Europa, inclusive", diz o professor de Relações Internacionais.

Com relação às faixas etárias, Fernando Almeida observa que todas as pessoas que nasceram depois de 1991 não têm noção do que era a Guerra Fria:

"Então, a OTAN fica realmente parecendo uma coisa anacrônica, e eu concordo que ela é mesmo. Ela vem sendo usada como instrumento de poder dos Estados Unidos. Os mais velhos têm os traumas existentes da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, compreensível porque há um choque geracional muito grande", afirma o especialista.

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No caso das despesas que os EUA têm para a manutenção da OTAN, Almeida diz que Trump tem razão: esse custo é alto e os países europeus têm no Reino Unido e na França arsenal nuclear, por isso não há necessidade desse tipo de ajuda. 

"Em 2015, os EUA lançaram um novo documento de defesa onde diziam que tinham que conter alguns Estados revisionistas: Rússia (objetivo principal da OTAN), China, Irã e Coreia do Norte. Trump está indicando que não vai procurar maiores atritos com os russos, mas sim com os chineses, por motivação basicamente econômica. Que desafio é esse que uma entidade como a OTAN tem que enfrentar? No momento não há risco de um ataque de Estado contra os países europeus. Mas vai haver retaliações de fundamentalistas e vão piorar com o pedido do Trump de que os generais apresentem em um mês um plano de destruição do Daesh. Essas retaliações podem não acontecer nos EUA, que são um país insular, mas certamente devem acontecer na Europa", finaliza Fernando Almeida.

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