Como experiência colombiana pode se aplicar na Ucrânia de hoje?

© REUTERS / Jose Miguel GomezLos militantes de las FARC (archivo)
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Há pouco, sob a vigilância dos pacificadores da ONU, começou o processo de desarmamento dos rebeldes das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC). O colunista da Sputnik Andrei Veselov comenta como a experiência colombiana pode servir de "lição" para a Ucrânia.

O porta-voz oficial do secretário-geral da ONU, Stefan Dyuzharrik, comentou que o desarmamento deve terminar até finais de maio do ano corrente.

Vale destacar que nos documentos assinados pelo governo e pelos comandantes da FARC não há tal conceito de "desarmamento". Em vez disso, se usa um termo "depor as armas", o que quer dizer que os rebeldes não se consideram como a parte derrotada no conflito.

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"Continuaremos a luta por nossos ideais no palco político", afirmou o chefe das FARC Timoleón Jiménez, mais conhecido sob a alcunha de Timochenko, que ele adotou em homenagem ao marechal soviético. Os ex-rebeldes receberam garantias de imunidade, possibilidade de participar das eleições e até uma "reserva" de 5 assentos em ambas as câmaras do parlamento.

As autoridades foram obrigadas a dar tal passo após constatarem não poder derrotar as FARC em um conflito armado aberto. Em algum sentido, isto aproxima a situação na Colômbia com o conflito no Leste ucraniano. De mesmo modo, Kiev não conseguiu vencer as repúblicas não reconhecidas e agora, para aprender a estabelecer o diálogo, tem que estudar a experiência colombiana, destaca o colunista da Sputnik.

Guerrilha de meio-século

A história das FARC começou em 1964, quando o ex-colhedor de café Pedro Marín (depois conhecido sob o nome de Manuel Marulanda Vélez) e o estudante comunista Jacobo Arenas organizaram um pequeno destacamento camponês e foram combater para a selva, se armando com as ideias de Marx, Lenin e Bolívar e chamando de maiores rivais os grandes proprietários de terra, bem como o imperialismo global.

"Queremos restaurar a justiça em todo o planeta, começando pela nossa Pátria", dizia o manifesto das FARC. Na verdade, nos anos 60 a Colômbia não era um padrão de justiça e, por isso, as fileiras dos rebeldes se vinham enchendo com camponeses na miséria, índios e… mulheres. Até o momento do desarmamento, o número dos combatentes de sexo feminino atingiu a percentagem inédita de 40%.

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O exército de guerrilha logo se tornou o maior e mais influente agrupamento deste tipo na América do Sul. Ao mesmo tempo, o Departamento de Estado americano incluiu esta organização em uma lista de agrupamentos terroristas.

"Os métodos usados pelas FARC eram muito contestáveis, mas não se pode chama-la verdadeiramente terrorista", opina o jornalista Andrei Veselov. Nos meados da década de 80, as FARC controlavam quase metade do país, tendo seus próprios municípios, inspeções tributárias, tribunais e escolas. O ensino primário no território "terrorista" era de qualidade e o acesso maior do que nas regiões controladas pelo governo.

Às vezes, as FARC são acusadas de estarem envolvidas no tráfego de drogas, o que não é completamente justo, afirma Andrei Veselov. Claro que alguns comandantes várias vezes "se destacaram" por negócios deste tipo. Mas eles sempre provocaram uma reação muito dura por parte da chefia dos rebeldes.

Derrota do partido beligerante

Foi o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe quem pela primeira vez determinou, no início do século XXI, como seu objetivo liquidar as FARC se assegurando do apoio de Washington em troca de entregar às corporações americanas todos os recursos existentes nos territórios controlados pelos rebeldes.

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De qualquer modo, o exército colombiano começou a receber montes de armas americanas, sendo que os conselheiros dos EUA também tomavam parte das operações militares no território latino-americano, enquanto sua aviação recebia dados de inteligência do Pentágono. Em resultado, Uribe conseguiu alguns sucessos, mas apesar de enormes investimentos militares americanos a derrota dos rebeldes acabou por ser impossível.

Vale ressaltar que a influência dos guerrilheiros se alastrava muito além dos territórios que eles controlavam. "Nossos soldados e policiais podem entrar em uma aldeia, mas as pessoas lá também apoiam os terroristas", afirmava um dos generais das Forças Armadas da Colômbia.

Tais declarações parecem com as pronunciadas há pouco pelo prefeito da região de Nikolaev, Aleksei Savchenko, que chamou os residentes da área de "separatistas latentes".

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O conceito começou a mudar com a chegada de Juan Santos em 2010 que inicialmente seguia o rumo do seu antecessor, mas apesar de se dar de conta que a atividade das FARC vinha crescendo, escolheu o caminho da diplomacia. As negociações que se iniciaram na cidade norueguesa de Oslo em 2012 eram obstaculizadas por acusações mútuas e alegadas provocações, mas a despeito disso o governo e os agrupamentos separatistas acabaram por assinar um acordo de paz em agosto de 2016.

O presidente colombiano recebeu o Prêmio Nobel da Paz por esta conquista, mostrando para o mundo que, por maiores que sejam as divergências, há sempre caminhos para o diálogo. Talvez esta lição possa ser aprendida também por Kiev.

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