O Skolkovo, por sua vez, foi arquitetado como a primeira verdadeira "cidade da ciência" na Rússia pós-soviética (na URSS, tais aglomerações se chamavam de naukogrados) e às vezes até é chamado de "Vale do Silício russo". A robótica, entre outras áreas, tais como telecomunicações, espaço, eficiência energética e tecnologias nucleares, tem sido uma das prioridades na ação desta plataforma.
O conceito da conferência e da indústria robótica foi bem expresso pelo fundador do projeto Skolkovo Robotics, Albert Efimov, que disse:
"Se o nosso país não pensar nos seus robôs, outros robôs vão pensar no nosso país."
Para entreter e para trabalhar
Com a velocidade de desenvolvimento das tecnologias própria da época atual, pode ser que logo assistamos a uma "invasão de robôs" no nosso planeta. Eles penetram em nossas vidas, seja como animadores de festas ou como auxiliares no trabalho.
A empresa russa Green Space, por exemplo, se debruça sobre projetos artísticos e culturais, criando robôs para exposições, programas científicos na TV e quests (jogos eletrônicos trazidos para a vida real). A Sputnik Brasil falou com Sergei Tsyss, diretor criativo da empresa, cujo lema é "ligando a ciência, arte e tecnologia".
"Formalmente, eles são obras de arte, sim. Mas na verdade são projetos educativos também. […] O nosso princípio é: diverte e ensina. Sabemos atrair a atenção, garantir à pessoa alguma emoção positiva, provocar algo nela. Já após disso, fornecemos algum tipo de conhecimento. Fizemos muitos objetos interativos, algumas centenas de fato", partilhou ele.
Para a conferência Skolkovo Robotics, a equipe da Green Space passou um mês inteiro criando o fantástico robô Vasily que foi uma das maiores estrelas do evento.
"Em certo sentido, ele é um objeto único. Já que ele é, por um lado, uma espécie de comediante stand-up robotizado e, por outro, um dispositivo essencialmente educativo, porque é transparente e pode mostrar como é um robô típico por dentro", explicou Sergei, falando também sobre a experiência de cooperação com o Jardim Zoológico de Moscou.
De acordo com o diretor criativo da empresa, sua equipe elaborou uma maqueta de tubarão para mostrar às pessoas como o lixo no mar mata os animais. Apertando apenas um botão, os visitantes podem ver a água, com elementos de lixo, passando pelas brânquias e causando o sufoco do animal.
As tecnologias da Green Space também foram apresentadas na esfera do entretinimento, e não só na Rússia. Segundo comunicou Sergei Tsyss, a empresa colabora com o maior criador de quests dos EUA, o 60out, sendo que um deles imitou… o bunker de Putin.
Porém, os robôs não servem só para nos entreter ou ensinar — eles também podem fazer o trabalho em vez de nós, inclusive os deveres cotidianos. Por exemplo, o aparelho inédito AgroMultiBot Hyacinth, construído pelo Instituto de Ciência de Computadores e Problemas de Gestão Regional da Academia de Ciência da Rússia na república de Cabardino-Balcária, pode ajudar na safra.
"Apresentamos uma plataforma multifuncional de teste da inteligência artificial. São figuras híbridas, quase antropomórficas. Ou seja, a parte inferior se baseia em um trem de aterrissagem, enquanto a parte de cima é antropomórfica e até tem dedos. Tal configuração permite mais movimentos, já que os robôs que andam são menos eficientes, eles consumem mais energia e podem cair", contou à Sputnik Brasil o diretor da entidade, Zalimkhan Nagoev.
Entretanto, este robô não é usado apenas na área da agricultura. As caraterísticas do robô permitem que seja utilizado universalmente: desde a safra de legumes até à realização de tarefas especiais, inclusive treinamento de combate. O diretor do instituto destacou também que tais tecnologias começaram a ganhar fôlego após ocorrer um "boom" agrário na Rússia, que está relacionado com imposição de sanções econômicas por parte do mundo ocidental.
Amizade com robôs começa na infância
Hoje em dia, a geração dos atuais alunos escolares já não tem nada a ver com aquela que havia há várias décadas. Ainda mais importante é que eles devem ser ensinados já com os olhos colados ao impetuoso desenvolvimento da tecnologia do futuro. É por isso que o primeiro contato com os robôs acontece logo na escola.
Por exemplo, a empresa russa TRIK se dedica a criar sets especiais de elementos e mecanismos que permitem criar seu próprio robô, desde as variantes primitivas até às mais sofisticadas. O chefe do Departamento de Gestão da empresa, Ilia Shirokolobov, partilhou com a Sputnik Brasil:
"Para encorajar as crianças a aprenderem matemática, física e programação, precisamos de novas ferramentas, já que as tecnologias mudam com uma velocidade muito grande, a cada 2-3 anos surge algo novo — smartphones, computadores, etc. Por isso, adaptamos alguns esquemas complicados à mente de uma criança."
"Eis um bom exemplo: parece ser apenas um sabre de luz, mas também é um instrumento de ensino. Serve para explicar o que é a tangente, cotangente, seno, cosseno e outras coisas pouco compreensíveis", disse, mostrando um aparelho que muda de cor conforme o ângulo de sua inclinação. "Para os alunos de hoje, os celulares são apenas caixinhas. Nós queremos lhes explicar como funcionam."
Outra empresa, a Sputnix, também coopera com as instituições de ensino, mas já num campo diferente — na pesquisa do espaço. As crianças envolvidas no projeto criam suas próprias versões de um satélite especial, aprendendo aos mesmo tempo as leis fundamentais da ciência.
"De fato, somos uma empresa que produz equipamento de bordo para satélites. Lançamos, por exemplo, o Aurora, o primeiro microssatélite russo produzido por uma empresa privada. Mas temos também uma direção de ensino, e aqueles equipamentos que se instalam em um satélite são adaptados para as crianças. Ou seja, eles podem criar uma maqueta de satélite, com um globo como a Terra, um projetor como a Lua, com campo magnético, etc.", partilhou conosco a representante oficial da empresa.
Além disso, ela revelou que a Sputnix está atualmente travando negociações com a Agência Espacial Federal Russa, Roscosmos, para que esta possibilite o lançamento gratuito de um satélite criado pela equipe ganhadora do concurso organizado pela empresa entre crianças.
Para atrair a atenção dos mais novos são usam diferentes ideias. Por exemplo, a empresa Liga dos Robôs utiliza peças de LEGO como material de construção. O professor do projeto, Mikhail Aleksandrovich, contou a Sputnik Brasil:
"É um projeto para crianças dos 6 aos 16 anos. […] As crianças aprendem o que é um mecanismo, o que são os programas, como se pode programar um robô, o que é uma variável ou ciclos de programação, por exemplo. Além disso, eles desenvolvem a mobilidade fina e o pensamento criativo."
Será que logo seremos substituídos?
Um dos objetos que geraram maior admiração entre os visitantes da exposição foi o robô Gagarin da Universidade Innopolis russa, que fez show funcionando em um regime de "espelho" e imitando as emoções das pessoas. Vadim Reutsky, engenheiro de pesquisa no Laboratório de Sistemas Robóticos Cognitivos e autor do projeto, nos contou os detalhes:
"Estes são regimes de demonstração: de fala e de imitação. O projeto de pesquisa visa entender como pode ser elaborado um sistema gestor de robôs antropomórficos para solucionar tarefas sociais, tais como vendas, consolações, recepções e assim por adiante."
Mas por quê Gagarin? "Então, primeiro é uma pessoa que todo o mundo conhece, um desbravador, uma pessoa destemida que certamente não vai provocar emoções negativas", respondeu.
Ao falar sobre se a sociedade atual já está preparada para este tipo de inovações ou se ainda está com medo de aparelhos robóticos tão parecidos com pessoas, Vadim afirmou:
"Claro que é fora de vulgar. As crianças ficam estupefatas, bem como os especialistas em tecnologias de informação, entre outros — há quem olhe com cautela ou com curiosidade. É um efeito do vale da estranheza [hipótese no campo da robótica que diz que quando réplicas humanas se comportam de forma muito parecida a seres humanos reais, eles provocam repulsa entre observadores humanos]", disse.
"Também faz parte dos nossos objetivos minimizar este efeito", adiantou o engenheiro. "No que trata da preparação da sociedade, é difícil dizer, já que na Rússia a situação é diferente daquela que há, por exemplo, no Japão. Lá os robôs estão por toda a parte, as pessoas os amam e não podem viver sem eles. Aqui é um pouco diferente, mas, de qualquer modo, isso vai acontecer e as pessoas se vão adaptar", resumiu.