Há muitas chances que a Turquia possa ser o primeiro membro da OTAN a operar o sistema russo S-400, enquanto alguns outros países, entre eles Romênia, Bulgária, Grécia e Alemanha, possuem complexos S-200 e S-300 russos.
Ao comentar os resultados das negociações, a mídia dominante do Ocidente se mostrou alarmada com tal perspectiva.
"A Turquia e a Rússia estão tratando de assuntos de mísseis. A OTAN se deve preocupar com a amizade entre os dois países", diz um artigo do jornal The Economist no dia seguinte às negociações.
"Num momento em que a tensão entre a OTAN e a Rússia está em sua fase mais alta desde a guerra fria, esta compra, se for realizada, será avaliada como uma desfeita planejada para a Aliança. Também confirmará a impressão dos últimos anos, que Erdogan está contente com o fato da a Turquia se tornar, na verdade, um membro semiafastado da OTAN", explica o artigo.
No entanto, o analista militar e político e professor da Universidade de Ozyegin em Istambul, Mesut Hakki Casin, disse á Sputnik Turquia que a OTAN "deveria estar contente e não preocupada" com o possível acordo, pois com esta aquisição um país da organização irá obter um armamento muito avançado.
"Alguns membros da OTAN estão preocupados com a possível fuga de informações secretas para a Rússia. Porém, países como Bulgária, Grécia e Hungria já possuem estes sistemas, sendo também usados pela OTAN. Isso significa, que não há um problema de "integração" de que têm falado muitos especialistas", disse o analista político à Sputnik.
"Em vez de se preocupar, a OTAN deve estar contente, pois o desenvolvimento do sistema de defesa turco facilita de modo indireto o desenvolvimento do sistema de segurança de toda a Aliança", acrescentou ele.
"Desde os anos de 1950, a Rússia tem acumulado uma experiência significativa quanto a complexos de mísseis de curta, média e grande altitude. O S-400 é um sistema muito avançado. A aquisição de tal sistema será uma grande vantagem para a Turquia, que está lutando contra o Daesh, que ameaça a população turca", explicou ele.
O analista político também notou que a Turquia, de acordo com o Artigo 5 do Tratado da OTAN, está agindo em conformidade com o princípio de defesa coletiva. No entanto, no caso de haver ataques terroristas, que não cabem neste princípio, ela tem que se defender de forma independente.
Este sistema, disse o analista, não será usado contra a OTAN, pelo contrário, será usado como um obstáculo para qualquer ameaça que enfrentar.
Segundo disse o especialista, o acordo também contribuirá para o fortalecimento das relações entre a Rússia e a Turquia.
"Desde 1991, a cooperação russo-turca tem sido baseada na confiança, a Turquia tem confiado na Rússia do ponto de vista militar. De acordo com a Convenção de Montreux sobre o Regime dos Estreitos, a segurança no mar Negro está sendo controlada por estes dois países. Ainda por cima, a diplomacia russo-turca e os esforços pessoais de Putin e Erdogan desempenham um papel vital na segurança no Mediterrâneo Oriental e na resolução do conflito sangrento na Síria", disse ele.
Em um comentário separado quanto à questão, o tenente-general aposentado turco Erdogan Karakus disse à Sputnik que deste modo a Turquia está tentando se defender permanecendo independente da OTAN.
O tenente-general aposentado também sugeriu que assim haverá um certo equilíbrio entre a OTAN e a Rússia.
Segundo ele comentou, a Turquia pode satisfazer completamente suas necessidades comprando tanto o S-400 da Rússia, como o sistema Patriot dos EUA, ou conseguirá balançar entre os dois.
A Aliança, por sua vez, quer vender à Turquia 12 sistemas Patriot por 300 bilhões de dólares (R$ 948 bilhões), não querendo perder seu cliente permanente. Como a OTAN não tem vontade de diminuir o número de sistemas para instalação, então insistirá no fornecimento destes e se oporá à aquisição dos sistemas russos, concluiu o general.