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Quem tem culpa na questão do embargo da carne brasileira pelos Estados Unidos?

© AFP 2023 / RODRIGO FONSECAInspeção de carne brasileira que foi efetuada pelo ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi, 21 de março de 2017
Inspeção de carne brasileira que foi efetuada pelo ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi, 21 de março de 2017 - Sputnik Brasil
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A notícia causou grande impacto no Brasil: o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, anunciou na quinta-feira, 22, a suspensão das importações de carne bovina fresca do Brasil. O que aconteceu? Membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária responde com exclusividade à Sputnik Brasil.

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O motivo do embargo americano à carne brasileira foi informado pelas autoridades dos EUA: os testes aplicados em 11% da carne examinada mostraram que ela continha abscessos típicos da reação do gado à aplicação da vacina contra a febre aftosa.  

Para o veterinário Luiz Octavio Pires Leal, membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, toda a responsabilidade por esse fato deve ser imputada ao Brasil ou, como ele mesmo diz, “à negligência da nossa fiscalização”. Com isso, Pires Leal rejeita as interpretações iniciais da atitude dos Estados Unidos como possíveis medidas protecionistas ou, até mesmo, uma eventual retaliação pelo fato de, em sua viagem à Rússia, o Presidente Michel Temer ter contribuído para a consolidação do mercado russo como grande comprador da carne bovina brasileira.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Luiz Octavio Pires Leal afirma com veemência:

“Em minha opinião, não há nenhuma relação. A culpa deste gigantesco vexame, que terá consequências muito graves, depois de a gente lutar por mais de 10 anos para exportar carne in natura para os Estados Unidos. Isto é uma desculpa. Essa história de que é uma forma de retaliação, de que os Estados Unidos estão fazendo jogo de cena para baixar o preço da carne [exportada pelo Brasil] é tudo conversa fiada. A verdade, assim como eu a vejo – e eu consultei recentemente um colega da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, que foi presidente da organização mais importante de controle de febre aftosa, que tem sede no Brasil – é a seguinte: nós exportamos carne bovina não congelada, in natura, para os Estados Unidos depois de mais de 10 anos de lutas.”

Pires Leal detalha sua explicação:

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“Tradicionalmente, a parte do bovino para se injetar a vacina contra a febre aftosa é a parte dianteira do animal. Por quê? Porque é mais fácil e porque é a parte que fica mais exposta quando se prende o animal no confinamento para se aplicar a vacina. Além disso, a carne da parte dianteira do animal é a que o Brasil exporta para os Estados Unidos. Por deficiência na forma de aplicar a injeção, ou mesmo por motivos outros e esporádicos, pode ter formado um abscesso. O que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos diagnosticou – em 11% do material examinado, o que é uma quantidade absurda – foi consequência desses abscessos que tornam a carne inadequada para consumo humano.”

Sputnik Brasil também procurou o empresário Antônio Jorge Camardelli, presidente da ABIEC (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne), para que ele falasse sobre como a entidade recebeu a proibição determinada pelo Governo dos Estados Unidos. Segundo a assessoria de Camardelli, porém, ele teve o dia inteiramente tomado por inúmeros compromissos, razão pela qual nos enviou a seguinte nota oficial:

“A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC) lamenta a suspensão das exportações de carne bovina in natura pelos EUA e esclarece que as ações corretivas para adequação dos processos produtivos já estão sendo tomadas. Elas serão apresentadas em missão coordenada pelo Ministério da Agricultura, prevista para as próximas semanas. Baseado no próprio comunicado norte-americano, a entidade acredita que, confirmados o encontro e a apresentação das medidas para correção das irregularidades encontradas, as exportações podem ser retomadas a curto prazo.”

“A ABIEC”, continua o texto, “como representante das empresas exportadoras de carne bovina, tem entre suas principais preocupações a segurança alimentar dos consumidores, seja no Brasil ou no exterior. A Associação estimula o desenvolvimento técnico, profissional e social das companhias e o aprimoramento constante da execução dos programas sanitários que garantem a saúde pública e a sanidade animal.”

Ainda de acordo com a nota da ABIEC, “a indústria de carne bovina brasileira atua com responsabilidade e segue altos padrões de vigilância sanitária severamente auditados e monitorados, envolvendo inspeções periódicas em toda a sua cadeia produtiva. “Esse processo” diz a nota, “ressalta a qualidade dos padrões adotados no Brasil, que exporta para mais de 160 países.”

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