Em entrevista à Sputnik Brasil, Marcelo Jackson faz duras críticas às recentes ações de Temer e da diplomacia brasileira no exterior.
"Quando a gente fala de um chefe de estado, a gente fala de alguns itens que devam ser cumpridos por ele. Primeiro se portar como chefe de estado, ou seja, representar efetivamente o país. Não vamos entrar em detalhes como chegou ao poder, se foi por obra de Deus, como o senhor Michel Temer acredita, ou se foi por outros caminhos que a teoria política chama de golpe de estado ou artimanhas que podem se aproveitar da legislação vigente", afirma.
Jackson recorda que na última reunião do G20 em Hansun, na China, no ano passado, Temer frustou todos os chefes de estado ao responder que o governo não tinha mais proposta alguma em relação aos compromissos assumidos durante pelo menos uma década quanto a questões de acordos de proteção ambiental, muitos assinados pelo Brasil a nível internacional. O professor da UFOP disse que foi grande a frustração não só entre os mandatários, mas também junto à comunidade acadêmica, uma vez que muitos professores brasileiros trabalham na universidade local e ele próprio, em função disso, acompanhava com vivo interesse o pronunciamento do presidente brasileiro sobre o tema.
"Na medida em que esses compromissos foram assinados independentemente dos governos, essa é uma política de Estado e não uma política de uma liderança qualquer que parece surgida de um fundo de quintal de uma cidadezinha do interior. Lamentavelmente foi essa a postura que ele teve", relembra Jackson, dizendo que, assim, não foi surpresa que nas primeiras fotos oficiais do encontro Temer aparecesse sempre como último nas fileiras de dirigentes.
"Ele tirou do Brasil o protagonismo. Isso é um erro imperdoável para um chefe de estado. Agora comete uma gafe imperdoável em relação ao governo russo. Meu sobrinho de 11 anos sabe que o nome é Federação Russa. Na Noruega troca e chama de rei da Suécia".
Na visão do professor da UFOP, Temer deveria ter feito um discurso de mea culpa, que fosse retransmitido internacionalmente, e aí ele viajaria e tentaria colocar uma postura melhor. Para Jackson o maior erro de Temer e de sua equipe e não entenderem que eles representam o Estado. Na questão da integração internacional do Brasil, o professor lembra a gafe cometida pelo então ministro das Relações Exteriores, José Serra, que, durante uma coletiva de imprensa, à exceção do Brasil, não soube identificar os países que compõem a sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Na cúpula do G20 em Hamburgo, Temer teria a oportunidade de concretizar dois encontros há muito aguardados, com o presidente Donald Trump e a com a chanceler Angela Merkel. O presidente brasileiro também não participará do encontro informal dos países-membros dos BRICS, que será presidido pelo presidente chinês Xi Jinping.