O roteiro do debate estava de antemão traçado: os partidos de direita iam falar da "crise do governo e da falência do Estado" e o Partido Socialista, e os partidos à sua esquerda, iam exibir os bons resultados econômicos do país.
Na sua intervenção inicial, depois de dez minutos dedicados à tragédia de Pedrógão Grande e à necessidade de uma reforma florestal, o primeiro-ministro António Costa recordou que pela primeira vez o país cresce mais do que a média dos países da União Europeia, que a taxa de desemprego alcança 9,5%, que o déficit, em 2017, será de 1,7%, que o investimento atingirá os níveis maiores dos últimos oito anos e que "pela primeira vez em dez anos foi cumprido o orçamentado". Um otimismo econômico que é confirmado pela Universidade Católica ao prever que o país crescerá 2,7% neste ano, um número nunca alcançado no século atual.
À intervenção de Montenegro, o primeiro-ministro respondeu com os dados econômicos e afirmando — aproveitando a resposta a uma intervenção de um deputado do seu partido, o PS — que "nenhum português deseja o regresso ao Portugal pobrezinho e sem direitos que a direita propõe".
As críticas mais fortes ao governo vieram de Assunção Cristas, líder do CDS-PP, como protagonista. Cristas pediu a demissão da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa, por serem responsáveis pela tragédia dos fogos de Pedrógão Grande e do roubo de material militar em Tancos, respectivamente.
Para Passos Coelho, o país está vivendo à conta das reformas do seu governo e da boa conjuntura internacional. O ex-primeiro-ministro reconheceu a melhoria econômica, mas disse que esta melhoria não se deve ao atual governo. "O governo maravilha perdeu tempo, ritmo no crescimento", afirmou. Passos disse ainda que "o país poderia estar melhor hoje e no futuro se o governo não andasse a boleia da conjuntura e a colher frutos das reformas que impulsionam o crescimento futuro", e acusa o executivo de estar agarrado a sua "política preferida – a política da comunicação". Uma intervenção muito aplaudida pelos deputados do PSD, mas que tropeçou no fato das desgraças econômicas, previsto por eles há um ano.
"É absolutamente evidente que a questão dos incêndios e da forma como se lida com a floresta tem sido transversal a vários governos, mas o que acontece neste incêndio é que ocorreu algo que nunca tinha acontecido: a morte de 64 pessoas. E é sobre esta responsabilidade, que um governo, que está há mais de dois anos, tem de assumir o que fez e não fez", defende o deputado do PSD.
A próxima batalha do governo será o Orçamento, vamos ver como consegue superar essa prova, entre as exigências dos partidos mais à esquerda e a "ditadura" econômica da UE.