Quase uma dúzia de pessoas foram mortas até agora neste mês e cerca de 4.000 foram obrigadas a abandonar suas casas devido ao aumento da tensão na linha de controle no estado indiano de Jammu e Caxemira. Nova Deli e Islamabad se acusam mutuamente pelo fogo cruzado.
O Ministério da Defesa da Índia acusou os militares paquistaneses de terem como alvos os civis durante seus ataques de artilharia. O Paquistão, por sua vez, acusou a Índia de violar o regime de cessar-fogo em 21 de julho.
O ex-ministro indiano da Informação Venkaiah Naidu, recentemente nomeado candidato do partido da Aliança Democrática Nacional à vice-presidência, disse no domingo (23) que o Paquistão deveria se lembrar das baixas na Guerra Indo-Paquistanesa de 1971, que resultou na independência do Bangladesh em relação a Islamabad.
Entretanto, na semana passada o ex-ministro da Defesa indiano e o presidente do partido opositor Samajwadi, Mulayam Signh Yadav, declarou que a China está se preparando para atacar a Índia e está procurando usar o arsenal nuclear paquistanês contra Nova Deli.
Mais cedo, analistas disseram ao The New York Times que havia prova circunstancial que Nova Deli se está preparando para rever sua doutrina nuclear, segundo a qual a Índia não pode ser o primeiro a recorrer às armas nucleares, ou seja, o país pode usar seu arsenal nuclear para um ataque de retaliação contra cidades do inimigo em caso de um ataque paquistanês.
Agora, alertam os especialistas, o exército indiano está considerando modificar sua doutrina para nela incluir ataques preventivos limitados contra o arsenal nuclear do Paquistão, ostensivamente para legítima defesa. Por enquanto, a ideia é uma especulação baseada em uma análise de declarações recentes das autoridades indianas.
Neste ano, o Paquistão já acusou a Índia de acelerar o seu programa nuclear e de se preparar para a produção de 2.600 ogivas nucleares. No início de julho, no relatório do Instituto de Pesquisa da Paz Internacional de Estocolmo sobre arsenais nucleares globais foi revelado que ambos os países estão expandindo seus estoques de armas nucleares.
Na semana passada, o brigadeiro do exército paquistanês Feroz Khan, um especialista do programa nuclear do Paquistão, disse em Washington que a doutrina de Islamabad de uso de armas nucleares é semelhante à que a OTAN teve durante a Guerra Fria, quando a política da Aliança era usar armas nucleares táticas contra os países do Pacto de Varsóvia em caso de guerra.
Segundo Plekhanov, para a Índia o arsenal de armas nucleares paquistanês se tornou um problema estratégico. "Se o Paquistão usar apenas armas nucleares táticas e apenas no campo de batalha, então uma resposta indiana envolvendo o bombardeio das cidades paquistanesas parecerá muito ruim", explicou o autor.
O novo presidente dos EUA, Donald Trump, é outro motivo para aumentar a assertividade indiana, acrescentou o jornalista. "A Índia acredita que, com o novo presidente americano, ela terá muito mais liberdade na tomada de decisões sobre política nuclear. As relações entre os EUA e o Paquistão com Trump também estão em declínio: Washington não considera Islamabad como um aliado confiável na luta contra os terroristas no Afeganistão. A Índia, evidentemente, fica mais tranquila com isso", ele disse.
Plekhanov avisa que o agravamento do conflito na região pode ter graves consequências. Segundo ele, a escalada do conflito em Jammu e Caxemira ou um grande ataque terrorista na Índia pode desencadear uma cadeia de acontecimentos que poderá levar a um ataque nuclear preventivo.
De acordo com o jornalista, o problema principal é que ninguém sabe quais são os critérios de uso das armas nucleares pelo Paquistão e o que ele pode considerar como o início da guerra por parte da Índia. O segundo problema é que os ataques terroristas na Índia podem não estar ligados ao Paquistão, mas será muito difícil convencer a Índia disso.
Em 2008, foi publicada uma pesquisa norte-americana sobre consequências de uma guerra nuclear entre a Índia e Paquistão. Segundo os cientistas, o uso das armas nucleares levará a uma catástrofe climática que resultará em problemas na agricultura e em fome. Numa década, cerca de um bilhão de pessoas morrerão, por isso o problema é importante para todo o mundo.