Agentes da polícia confiscaram munições, materiais de propaganda e livros sobre nazismo, além de deterem um jovem de 26 anos. Naquele momento, o objetivo da operação era a possível ligação de brasileiros com membros da organização neonazista internacional Misanthropic Division (proibida na Rússia), que opera em mais de 15 países e tem provocado distúrbios no território ucraniano.
A Sputnik Mundo entrou em contato com o comissário Paulo César Jardim, encarregado das investigações sobre ações de neonazistas no Rio Grande do Sul, para pedir informações sobre a investigação e suposto recrutamento de jovens brasileiros para participar de atividades paramilitares e extremistas na Ucrânia.
De acordo com o comissário-chefe, havia suspeitas de que estavam fabricando uma bomba. "Detectamos um laboratório, mas ali não teria condição para fazer aquilo", disse Jardim à Sputnik Mundo. O agente insistiu que as investigações estão sendo realizadas secretamente e apenas concordou em informar que todos os interrogados deste então estão em liberdade, mas foram processados por violar a lei que proíbe "produzir, vender e difundir propaganda nazista", entre outros crimes.
O delegado disse ter encontrado naquela época uma legião de tatuados com suásticas e frases como "I hate your face" (Eu odeio sua cara). O comissário começou a estudar a filosofia deles e entendeu que "estão aborrecidos pelo movimento brasileiro se limitar a exibir tatuagens e se opor à polícia e à cadeia, em casos mais extremos".
"Por que a Ucrânia?", essa era uma pergunta que o intrigava. "Delegado, nós somos jovens guerrilheiros urbanos e nós temos uma causa: nosso orgulho é tombar em combate", acrescentando que sonham com isso "porque nesta sociedade retrógrada e capitalista, financiada pelos judeus", como afirmaram os neonazistas para o delegado, não encontraram espaço para cumprir seu sonho romântico de morrer lutando", contou o comissário.
O responsável pelas investigações ressaltou que tais aspirações heroicas são expostas em materiais, propagados entre eles, como se fosse um manual verdadeiro de conduta e uma "bíblia neonazista", em que defendem ódio a judeus e a homossexuais, exaltando "a pureza de sua raça".
"Como pode ser prazeroso para alguém odiar, causar dor, causar um mal, sangrar as pessoas? E eles entendem isso como uma naturalidade surpreendente, eles me respondem assim: 'delegado, quando na sua casa o senhor vê uma barata no chão, o senhor pisa em cima e mata, não? […] E barata é uma subespécie, uma sub-raça, então a gente não tem que ter pena do judeu, do negro ou do homossexual'", citou alguns dos pensamentos dos interrogados.
"Os aliados obrigaram o Brasil, ou seja, Getúlio Vargas, a decretar que o partido nazista que havia no Brasil deveria ser expulso, e ele passou à clandestinidade", diz o delegado, mas lamenta pelos nazistas terem continuado suas atividades. "O Brasil tem cidades que se originaram a partir de colônias alemãs, italianas e polonesas, instaladas naquele período e onde até hoje falam alemão e possuem evidências de alguma herança cultural do nazismo", explicou.
Segundo o delegado, há certo modismo de querer ser fundamentalista e cita exemplos de negros e homossexuais que seguem uma cultura nazista no país.