Com uma dívida estimada em US$ 100 bilhões, o governo venezuelano se aproxima cada vez mais da possibilidade de não honrar os seus compromissos. Isso automaticamente deixaria o país fora do mercado de capitais, o que seria um golpe ainda mais duro à já fragilizada economia local.
“Os credores poderiam aproveitar os ativos — petroleiros, refinarias, contas — pertencentes à empresa estatal de petróleo PDVSA. E a crise humanitária poderia se aprofundar, já que os recursos essenciais importados e limitados desapareceriam completamente e os cidadãos mais desesperados saem do país”, diz análise publicada pela rede alemã Deutsche Welle (DW).
Da sua parte, o governo do presidente Nicolás Maduro esteja priorizando o pagamento de dívidas, deixando todo o restante de fora das prioridades, incluindo medicamentos, alimentos e outros itens de necessidade básica à população venezuelana.
Com 96% das suas exportações vinculadas ao petróleo, a Venezuela sofre – como a maioria dos países da OPEC – com a queda no preço do barril no mercado internacional. Consequentemente, até mesmo a produção está em queda, assim como as reservas nacionais, hoje estimadas em apenas US$ 10 bilhões.
EUA e Rússia no caminho
O petróleo venezuelano corresponde a aproximadamente 8% das importações do produto pelos EUA. Para a Venezuela, o peso na balança é maior: 30% da sua produção vai para a nação estadunidense, sendo que 15% retorna a Caracas após ser refinada pela Citgo, subsidiária da PDVSA.
E é aqui que as coisas podem complicar ainda mais para Maduro. Como garantia à estatal russa de petróleo, a Rosneft, a Venezuela concedeu a Citgo como garantia. Se os empréstimos da Rússia não forem honrados pelo governo do país latino-americano, os russos podem tomar o controle de uma fornecedora de petróleo aos EUA, algo que deverá desagradar Washington e cair na “malha fina” das recentes sanções impostas a Moscou.
Um dos caminhos necessários a Caracas para evitar a própria insolvência seria renegociar as suas dívidas. Contudo, a falta de legitimidade apontada por boa parte da comunidade internacional quando o tema é a Assembleia Constituinte, que pretende reformar a Constituição do país, deverá ser um obstáculo.
Segundo analistas econômicos, o apoio financeiro de Rússia e China poderá prolongar a permanência de Maduro no poder. Contudo, sem renegociar as dívidas já existentes e, com o risco de mais sanções dos EUA e outros países, o aprofundamento da crise poderia levar até mesmo a um caos humanitário maior – por isso Washington tende a manter, por ora, a importação de petróleo venezuelano.
Manter o apoio de Moscou e Pequim é fundamental ao governo venezuelano, porém há sérias questões em torno de “até quando” dos dois governos externos irão ajudar financeiramente um país que está atrasado (em 10 meses, no caso da China) nas suas entregas e outros compromissos envolvendo petróleo.
Diante de tantas dificuldades, a permanência de Maduro no comando da Venezuela é tida como improvável, de acordo com analistas ouvidos pela DW.
“A probabilidade é que o aumento da deterioração do atual cenário econômico de recessão / hiperinflação e a crise política desencadeiem uma mudança de regime”, opinou Andres Abadia, economista sênior na Pantheon Macroeconomics.
Há, porém, quem ache que tal desfecho é hoje uma mera especulação. Sobretudo sem ser possível visualizar um cenário de transição, tampouco quem seria a figura responsável por isso em Caracas.