A Fábrica de Helicópteros de Kazan constitui um dos pilares do consórcio, com seus eminentes Mi-8, Mi-14, Mi-17, Mi-38, Ansat e suas inúmeras modificações. A Sputnik Brasil, em parceria com a Rostec, conseguiu visitar a "forja" tecnológica russa e descobrir mais sobre sua história e vida cotidiana.
Da guerra até os nossos dias
A impressionante "lenda" da fábrica começou antes da Segunda Guerra Mundial com a criação dos chamados biplanos, ou seja, aeronaves ligeiras construídas de madeira ou tecido. É interessante que estes aviões, cuja produção na época atingiu o patamar de cerca de 1.000 unidades, eram fabricados principalmente por mulheres e crianças, pois a maior parte dos homens tinha ido defender a Pátria nos campos de combate com os fascistas.
Estes aviões serviam para fins de treinamento, reconhecimento e assistência médica, funcionando também como bombardeiros ligeiros noturnos. No período pós-guerra, a fábrica se reorientou para produzir colhedeiras, mas, com a chegada da Guerra Fria e começo de uma corrida armamentista com os EUA, a empresa se empenhou de novo na produção de helicópteros, em primeiro lugar, de orientação militar.
Após o Mi-4, a fábrica começou a produzir o helicóptero "histórico" Mi-8 de nova geração e com motores a turbina, que reforçou a presença russa no mercado internacional.
Depois chegaram o Mi-14 e Mi-17, que, como uma vez foi assinalado por especialistas, representam uma espécie de "Kalashnikov da aviação", ou seja, são o seu cartão de visita reconhecido por todo o mundo. Deste modo, os seus melhores produtos — Mi-4, Mi-8 e Mi-17 — fizeram a fábrica de Kazan conquistar "mais de 80 países estrangeiros", segundo realçou Valery Pashko, o diretor de marketing da entidade.
Rumo à modernidade
Após o colapso da União Soviética e a transição do país para o modelo de economia aberta de mercado, a companhia passou a se focar mais na produção civil, com a nova estrela da sua produção, os inovadores helicópteros multifuncionais Ansat, com a capacidade de deslocamento de 3.500 toneladas. Mais de 50 unidades deste modelo operam hoje em dia na Força Aeroespacial russa no contexto da instrução de pilotos, bem como no Ministério das Emergências russo.
De acordo com Pashko, hoje em dia a maior aposta na fábrica de Kazan se faz precisamente neste avião, cujo nome do tártaro se traduz como "simples", e suas modificações. De acordo com os responsáveis da empresa, o Ansat é um veículo genuinamente multifacetado, dado que pode ser adaptado a "qualquer gosto" dos clientes, inclusive VIP, e realizar quaisquer tarefas civis.
"Sabem que aqui na Rússia tudo é gigante. O tamanho da Rússia, os equipamentos, por exemplo o helicóptero Mi-26, cujo peso excede 50 toneladas e que pode carregar ainda outras 20 toneladas a bordo. Sempre 'sofremos' do chamado gigantismo", gracejou Pashko, assinalando que o Ansat, por sua vez, é um célebre representante de veículos ligeiros na lista de produção do Vertolyoty Rossii.
Entre os outros produtos que passaram a ser produzidos na "novíssima época" da história russa, ou seja, após a dissolução da União Soviética, também está o semipesado Mi-38, sendo que ele é mais pequeno que o Mi-26, mas muito mais tecnológico do que o Mi-17. Ademais, sua versão militar, particularmente, logo integrará a Força Aeroespacial russa, substituindo, no futuro, os Mi-8 e Mi-17, por usar equipamentos mais inovadores, inclusive sistemas radioeletrônicos.
Deste modo, a empresa hoje em dia desfruta de três principais enfoques: o Mi-8, isto é, um "produto já amplamente reconhecido", nas palavras de Pashko, o Ansat, que é novo mas já conquistou boas posições globalmente, e o Mi-38 que "esperamos seja do mesmo modo tão bem sucedido" como as outras "estrelas" da fábrica.
Ao mesmo tempo, vale ressaltar que os helicópteros desenhados ainda na época soviética continuam representando uma significativa parcela na lista de vendas, porém, é preciso tomar em conta que são apresentados em versões modernizadas em conformidade com todos os padrões da atualidade e já têm pouco a ver com seus "bisavôs".
Berço dos helicópteros russos visto por dentro
A Fábrica de Helicópteros de Kazan constrói os componentes e monta seus helicópteros, para além de os submeter a provas, sem "joint ventures" com fábricas estrangeiras. Desde as peças e fuselagem da aeronave até sua pintura — tudo é efetuado pelos operários da enorme usina.
Todas as oficinas foram radicalmente modernizadas e os equipamentos da década de 40 foram substituídos por novos quando a fábrica integrou o consórcio Vertolyoty Rossii, o que sucedeu em 2007. Por exemplo, as peças que antigamente eram fabricadas em 7 tornos, hoje em dia são-no em apenas um, mas muito mais tecnológico.
Na oficina de fresadoras, por exemplo, toda a produção já foi automatizada: deste modo, as peças são produzidas 24 horas por dias de forma automática, basta apenas iniciar um programa para o efeito. A mesma coisa acontece nos armazéns: os funcionários não precisam procurar nada, devem só saber dominar um aparelho especial que, por sua vez, faz mover as prateleiras e seleciona o item.
Depois, chega a hora de montagem. A primeira oficina se ocupa apenas da montagem de fuselagens, dado que paralelamente são montados três helicópteros (caso único na Rússia) — Ansat, Mi-8 e Mi-38. A montagem se efetua por meio de um modelo 3D inovador.
Ademais, os especialistas usam uma máquina de chuva especial para checar se os helicópteros correspondem aos padrões de hermeticidade. Já na secção de montagem final, os especialistas instalam todo o "recheio" necessário nos veículos, por exemplo, o sistema de navegação e o sistema hidráulico.
Para concluir o longo processo de fabricação destes "donos dos céus", os helicópteros passam por todo um ciclo de provas, tanto em terra como no ar.
A Sputnik Brasil conseguiu fixar momentos impressionantes dos truques aéreos executados pelo Ansat e Mi-8, bem como a inédita imitação de decolagem a partir do porta-aviões Admiral Kuznetsov no aparelho de treino. Será que dá para distinguir da realidade?