A Rodovia liga Manaus (capital do Amazonas) a Boa Vista (capital de Roraima) e foi construída em pleno regime militar, simultaneamente à Transamazônica. Os Waimiri-Atroari ocupavam uma extensa área da região e se recusaram a deixá-la apesar de todas as tentativas do governo (e particularmente da Funai, Fundação Nacional do Índio) de retirá-los do local.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Julio Araujo, um dos Procuradores que subscrevem a Ação Indenizatória contra a União, conta como foi elaborar esse trabalho e como os membros do Ministério Público Federal chegaram à conclusão de que as forças de segurança provocaram um autêntico extermínio entre aquele povo indígena:
Para Julio Araújo, o objetivo da Ação movida contra a União é impedir que outros massacres voltem a ocorrer na região e em todo país:
"A responsabilização é pedida de várias formas. A pretensão indenizatória chama a atenção sempre, o pedido de desculpas também, mas há várias outras garantias que a gente chama de não repetição que buscam justamente assegurar que nunca mais aconteça alguma ofensa ou alguma violação do território dos [índios] Waimiri-Atroari, seja por conta de novos empreendimentos naquela área, seja por qualquer tentativa de invadir o território desses índios, seja por conta de novos empreendimentos ou seja por conta de tentativas de invasão."
"Os problemas que ocorreram com a construção da BR 174, em relação aos indígenas, também ocorreram com a construção da Transamazônica. O auge dos problemas nas duas obras coincide com os anos 70. A Rodovia BR 174 tem uma peculiaridade: ela começou a ser pensada em 1967, teve as obras iniciadas em 1968, avança nos anos 70 e chegou a ser inaugurada, oficialmente, em 1977. Portanto, tudo se deu nos anos 70."
A imposição da força pelas forças de segurança só poderia ter resultado no extermínio dos indígenas, segundo Julio Araújo:
"Esse grupo de índios tinha muita dificuldade de se relacionar com outros grupos, brancos, digamos. Então, o governo decidiu montar estratégias de pacificação e de acolhimento como fez com outros grupos. Mas no caso dos Waimiri-Atroari, essa estratégia não deu certo. Com o fracasso da estratégia, o Estado decidiu construir a Rodovia BR 174 na marra e isso gerou uma violência sem precedentes, provocando milhares de mortes."