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Como Brasil vira parceiro agrícola cada vez maior da Rússia graças a sanções ocidentais

© AFP 2023 / Yasuyoshi ChibaCarne bovina em um dos supermercados no Rio de Janeiro
Carne bovina em um dos supermercados no Rio de Janeiro - Sputnik Brasil
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Já é pela 15ª vez na sua história que, entre 11 e 14 de setembro, a exposição WorldFood Moscow reuniu os mais marcantes produtores de alimentos nacionais e estrangeiros. A Sputnik Brasil visitou o evento e falou com o chefe da delegação brasileira, Pedro Viana Borges, sobre as questões mais sensíveis dos laços comerciais com a Rússia.

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Tradicionalmente, a feira atrai milhares de cidadãos e empresários, pois representa toda a fina flor, não só da produção agrícola russa, mas também de outras nações, inclusive bem distantes e até exóticas. Os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer e provar os sabores de todos os cantos do planeta, desde os frutos do mar marroquinos até às couves picantes asiáticas.

Entre os numerosos pavilhões, também esteve presente o impressionante estande brasileiro, juntando mais de uma dezena de empresas nacionais de vários enfoques, desde cachaça, frutos secos, sementes de chia e açaí até carnes de todo o tipo.

© Sputnik / Ekaterina NenakhovaChefe da delegação brasileira, Pedro Viana Borges, na exposição WorldFood Moscow, em 14 de setembro de 2017
Chefe da delegação brasileira, Pedro Viana Borges, na exposição WorldFood Moscow, em 14 de setembro de 2017 - Sputnik Brasil
Chefe da delegação brasileira, Pedro Viana Borges, na exposição WorldFood Moscow, em 14 de setembro de 2017

A Sputnik Brasil falou com o responsável pela presença brasileira no evento, o representante do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Viana, que, para além de tudo, nos revelou que esse estande foi fruto de uma parceria da sua entidade "com o Ministério das Relações Exteriores via Embaixada do Brasil em Moscou".

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Sputnik: Essa exposição, para vocês, é uma oportunidade de mostrar seus produtos ao público russo, buscar novas parcerias ou tudo ao mesmo tempo?

Pedro Viana: O objetivo principal é consolidar a parceria que existe entre os fornecedores brasileiros e importadores russos, dado que a parceria mais consolidada é do setor de carnes, setor mais tradicional, agora se vende muita carne para a Rússia: carne bovina, carne suína e carne de frango. Então, são empresas que já tradicionalmente exportam para a Rússia, e eles vem consolidar os laços já com seus atuais clientes, tentar prospectar novos clientes.

Mas para além das carnes, nós temos outros produtos: o amendoim, que é um produto interessante, e tem uma empresa que está presente aqui no pavilhão, a Rússia é um bom mercado deles. Temos também empresa de cachaça, empresa de produtos derivados de açaí, castanhas do Brasil, enfim, estamos tentando também diversificar o nosso portfólio de exportação de produtos agropecuários para a Rússia.

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No contexto do evento que, segundo Viana, contribui muito para o estreitamento dos laços bilaterais, basta relembrar o plano acordado na 6ª cúpula dos BRICS em Fortaleza. Na época, a Rússia e o Brasil acordaram alcançar US$ 10 bilhões no balanço comercial como a meta dos próximos cinco anos. Hoje em dia, sublinha Viana, nós estamos em cerca de US$ 5 bilhões.

Entretanto, o alto responsável oficial expressou que há genuinamente grande probabilidade de que este objetivo seja alcançado como previsto.

"É difícil de dizer, porque a conjuntura político-econômica mundial é difícil de prever. […] Tudo isso influencia muito. Então a gente não sabe exatamente o que é que vai acontecer, obviamente, mas ela [meta] é plausível, não é nada impossível", especificou.

A Sputnik também fez questão de abordar outros temas sensíveis na agenda, especialmente no âmbito dos acontecimentos mais recentes.

S: No caso do escândalo Carne Fraca, a Rússia foi um dos países que não cedeu a essa, digamos, histeria toda em torno dos exportadores brasileiros. Como você avaliaria a dinâmica das relações entre os dois países nesse contexto?

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PV: Exatamente, o Brasil e a Rússia têm essa questão da parceria mesmo em tempo de crise. Então, houve essa histeria injustificada do ponto de vista técnico, sanitário por conta da Carne Fraca e a Rússia, como você bem afirmou, foi um parceiro que continuou, enfim, comprando do Brasil, assim como o Brasil no início [da introdução] das sanções da Europa Ocidental e dos EUA contra a Rússia. O Brasil continuou como um parceiro comercial, confiável, a despeito das sanções. Então, é uma relação de reciprocidade interessante que existe entre os dois países.

S: Também em relação às exportações de trigo. Que eu saiba, as conversações têm sido bem obstaculizadas por conta de um regulamento bem rigoroso, inclusive da parte russa. Como estão hoje em dia?

PV: Na verdade, existe uma questão técnica. É de certificação fitossanitária para o Brasil, a Rússia [tem que passar por ela para] exportar para o Brasil. Existe uma questão técnica que está impedindo esse comercio, […] a Rússia não consegue certificar determinados requisitos que são essenciais para o Brasil. Mas os especialistas da área, inclusive do Ministério, já estão estudando [o tema] para tentar ver qualquer possibilidade de que o comércio finalmente se abra.

Sendo que falamos com Pedro Viana no último dia do evento, de fato, quase na hora do seu encerramento, não perdemos a oportunidade de descobrir mais detalhes sobre os resultados da viagem. De acordo com o funcionário, foram firmados alguns acordos novos, porém, ainda não há "números fechados" devido ao processo de recolha de informações dos expositores.

"Que eu posso dizer é que, apesar de nós estarmos num momento de crise, tanto no Brasil como na Rússia, houve uma queda no começo dos últimos anos entre os dois países, já no passado recente foi bem melhor, mais é exatamente por isso que estamos aqui. Para tentar… Estamos voltando até a um volume maior no comércio entre os dois países e o nosso trabalho aqui é tentar ajudar nesse sentido", manifestou.

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S: Já que abordamos o tema dos BRICS… A seu ver, é algo que na verdade contribui para a parceria? Vocês, na sua entidade, estão sentindo um efeito positivo?

PV: Certamente. Somos países grandes, bastante distintos entre si, mas que guardam também várias similaridades pelo fato de serem grandes, pelo fato de serem emergentes, pelo fato de terem a renda per capita mediana… […] Eu acredito que os BRICS é um fórum que tem colaborado certamente para as relações entre todos os membros, Índia, China, Brasil, África do Sul, inclusive na esfera comercial.

Aliás, o chefe da delegação brasileira sublinhou que a agricultura é, obviamente, uma esfera sensível para todos os países-membros devido às suas grandes populações, e por isso merece um destaque especial a ser dado.

Em resumo, descobrimos que as próprias sanções antirrussas introduzidas pelos países europeus em 2014, sendo nocivas para uma esfera, garantiram novas oportunidades para as outras, e o Brasil aqui não ficou à parte.

S: A coisa até engraçada é que, pelo visto, as sanções ocidentais contra a Rússia até têm contribuído para o melhoramento da parceria entre a Rússia e os países da América Latina, inclusive o Brasil, não é?

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PV: Exato. Com o Brasil, com Argentina, com outras nações que têm agricultura importante. Tem que buscar o fornecimento de outro lugar […] e diversificar de outro lugar. Por exemplo, me lembro que quando teve início essas sanções, a Europa ocidental vendia muito queijo para a Rússia. E o Brasil começou a vender queijo para a Rússia. Mesmo que em pequenas quantidades e em pequena variedade, mas, apesar de que nosso produto, por conta da distância, logística, não era tão competitivo, tão variado quanto o dos europeus, mas começou a entrar na Rússia por conta disso.

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