Entre os numerosos pavilhões, também esteve presente o impressionante estande brasileiro, juntando mais de uma dezena de empresas nacionais de vários enfoques, desde cachaça, frutos secos, sementes de chia e açaí até carnes de todo o tipo.
A Sputnik Brasil falou com o responsável pela presença brasileira no evento, o representante do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Viana, que, para além de tudo, nos revelou que esse estande foi fruto de uma parceria da sua entidade "com o Ministério das Relações Exteriores via Embaixada do Brasil em Moscou".
Pedro Viana: O objetivo principal é consolidar a parceria que existe entre os fornecedores brasileiros e importadores russos, dado que a parceria mais consolidada é do setor de carnes, setor mais tradicional, agora se vende muita carne para a Rússia: carne bovina, carne suína e carne de frango. Então, são empresas que já tradicionalmente exportam para a Rússia, e eles vem consolidar os laços já com seus atuais clientes, tentar prospectar novos clientes.
Mas para além das carnes, nós temos outros produtos: o amendoim, que é um produto interessante, e tem uma empresa que está presente aqui no pavilhão, a Rússia é um bom mercado deles. Temos também empresa de cachaça, empresa de produtos derivados de açaí, castanhas do Brasil, enfim, estamos tentando também diversificar o nosso portfólio de exportação de produtos agropecuários para a Rússia.
Entretanto, o alto responsável oficial expressou que há genuinamente grande probabilidade de que este objetivo seja alcançado como previsto.
"É difícil de dizer, porque a conjuntura político-econômica mundial é difícil de prever. […] Tudo isso influencia muito. Então a gente não sabe exatamente o que é que vai acontecer, obviamente, mas ela [meta] é plausível, não é nada impossível", especificou.
A Sputnik também fez questão de abordar outros temas sensíveis na agenda, especialmente no âmbito dos acontecimentos mais recentes.
S: No caso do escândalo Carne Fraca, a Rússia foi um dos países que não cedeu a essa, digamos, histeria toda em torno dos exportadores brasileiros. Como você avaliaria a dinâmica das relações entre os dois países nesse contexto?
S: Também em relação às exportações de trigo. Que eu saiba, as conversações têm sido bem obstaculizadas por conta de um regulamento bem rigoroso, inclusive da parte russa. Como estão hoje em dia?
PV: Na verdade, existe uma questão técnica. É de certificação fitossanitária para o Brasil, a Rússia [tem que passar por ela para] exportar para o Brasil. Existe uma questão técnica que está impedindo esse comercio, […] a Rússia não consegue certificar determinados requisitos que são essenciais para o Brasil. Mas os especialistas da área, inclusive do Ministério, já estão estudando [o tema] para tentar ver qualquer possibilidade de que o comércio finalmente se abra.
Sendo que falamos com Pedro Viana no último dia do evento, de fato, quase na hora do seu encerramento, não perdemos a oportunidade de descobrir mais detalhes sobre os resultados da viagem. De acordo com o funcionário, foram firmados alguns acordos novos, porém, ainda não há "números fechados" devido ao processo de recolha de informações dos expositores.
"Que eu posso dizer é que, apesar de nós estarmos num momento de crise, tanto no Brasil como na Rússia, houve uma queda no começo dos últimos anos entre os dois países, já no passado recente foi bem melhor, mais é exatamente por isso que estamos aqui. Para tentar… Estamos voltando até a um volume maior no comércio entre os dois países e o nosso trabalho aqui é tentar ajudar nesse sentido", manifestou.
PV: Certamente. Somos países grandes, bastante distintos entre si, mas que guardam também várias similaridades pelo fato de serem grandes, pelo fato de serem emergentes, pelo fato de terem a renda per capita mediana… […] Eu acredito que os BRICS é um fórum que tem colaborado certamente para as relações entre todos os membros, Índia, China, Brasil, África do Sul, inclusive na esfera comercial.
Aliás, o chefe da delegação brasileira sublinhou que a agricultura é, obviamente, uma esfera sensível para todos os países-membros devido às suas grandes populações, e por isso merece um destaque especial a ser dado.
Em resumo, descobrimos que as próprias sanções antirrussas introduzidas pelos países europeus em 2014, sendo nocivas para uma esfera, garantiram novas oportunidades para as outras, e o Brasil aqui não ficou à parte.
S: A coisa até engraçada é que, pelo visto, as sanções ocidentais contra a Rússia até têm contribuído para o melhoramento da parceria entre a Rússia e os países da América Latina, inclusive o Brasil, não é?