Na lista longa de "ameaças" estão o programa nuclear do país, "jogos com os terroristas", atividade no golfo Pérsico e ciberespionagem. Como de costume, os políticos norte-americanos propõem que se lute contra tudo isso via sanções. Trump deve dar sua resposta até o fim de setembro. Este artigo é dedicado aos motivos possíveis da nova onda de demonização do Irã, bem como aos objetivos que este persegue.
Novamente sanções
Por "agressão" as autoridades norte-americanas entendem o apoio por parte do Irã a grupos xiitas no Iraque, ao Hezbollah na Síria, aos houthis no Iêmen e aos palestinianos na Faixa de Gaza. Além do mais, os EUA não gostam dos episódios de aproximação de navios iranianos e veículos aéreos não tripulados aos navios da Marinha dos EUA no golfo Pérsico. O plano também apresenta recomendações para o combate à "ciberespionagem iraniana" e uma nova lista de medidas dedicada à contenção do programa nuclear.
Funcionários norte-americanos, que pediram anonimato, disseram à Reuters que no documento apresentado a Trump ainda não foram mencionados instrumentos miliares para atuar sobre as forças pró-iranianas no Iraque ou na Síria, mas ele chama a atenção para a necessidade de impedir o Irã de apoiar os houthis no Iêmen. No fim das contas, tudo resultará em sanções contra bancos, empresas e indivíduos.
Trump deve confirmar ou desmentir o cumprimento pelo Irão dos termos do acordo e decidir o destino do documento em outubro, durante seu encontro com o Congresso. Enquanto isso, o resultado é bastante previsível, no verão o presidente norte-americano já expressou a opinião que o Irã não cumpre nada e não tem sentido continuar com o acordo. Segundo os dados do jornal The New York Times, os norte-americanos já estão ativamente sondando o terreno e avisando seus aliados europeus sobre sua provável saída do acordo.
Novo estágio do conflito
Contudo, nada é assim tão simples. Além dos EUA, ninguém mais culpa o Irã destes "pecados". Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, o país não está violando suas obrigações, a União Europeia também não tem queixas.
Os EUA podem ter problemas em justificar as acusações contra o Irã de apoio ao terrorismo perante a comunidade internacional. Por exemplo, o Grupo de Ação Financeira Internacional (FATF, sigla em inglês) está satisfeito com as ações do Irã no combate ao financiamento de organizações terroristas.
De fato, a saída do acordo não beneficia ninguém além dos EUA, porque todo o mundo percebe muito bem que é melhor ter um acordo assim e monitorar o programa nuclear iraniano do que se decidir pelo confronto e ficar sem saber nada.
As verdadeiras causas
As forças pró-norte-americanas na Síria sofreram uma derrota grave. As conversações quanto à regulação da crise síria estão sendo realizadas não em Genebra, mas em Astana [capital do Cazaquistão, país vizinho da Rússia]. Nelas, um delegado da oposição síria referiu abertamente que a influência norte-americana na região tem diminuído, mas que ninguém tem pena disso.
Os EUA não estão contentes com o que lá está acontecendo agora. Países como o Egito, Líbia, Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e até o Iraque, que está cheio de tropas norte-americanas, demonstram a intenção de cooperar com a Rússia. A Turquia, que faz parte da OTAN, já assinou o contrato de aquisição de sistemas russos de defesa antiaérea S-400. O Qatar e a Arábia Saudita entraram em um confronto radical.
Pouco a pouco, a Europa tem estado fortalecendo os laços econômicos com o Irã, este tem chances de se tornar seu fornecedor de recursos energéticos. Em 2016, o Irã e as empresas europeias firmaram acordos no valor total de 40 bilhões de dólares. Vale ressaltar que os acordos abrangem múltiplas áreas industriais, incluindo as estratégicas. Além do mais, a República Islâmica do Irã coopera ativamente com a Rússia e está disposta a desenvolver as relações comerciais.
Deste ponto de vista, a ameaça de saída do acordo nuclear e de possíveis sanções se destinada, não a minar o programa nuclear iraquiano, mas a fazer o país reduzir sua atividade política e econômica externa. E, sem dúvidas, assim os EUA querem demonstrar a todos os atores na região que eles ainda estão tomando o pulso da região.
Ilia Plekhanov, para Sputnik.