Em entrevista à Sputnik, o Representante do Governo Regional do Curdistão (KRG) na Rússia, Aso Jangi Talabani, considerou que o referendo foi precipitado e mal planejado.
"Eu acredito que foi uma decisão apressada para realizar um referendo. Ela provoca seriamente os países vizinhos. Recebemos avisos de todo o mundo contra esta votação, e não consigo ver por que teve que ser realizada tão cedo", afirmou Talabani.
Na segunda-feira, a votação pela independência ocorreu na região autônoma iraquiana do Curdistão, bem como nas áreas em disputa oficialmente controladas por Bagdá, mas de fato sob o controle das autoridades curdas. Mais de 91% dos eleitores votaram em favor da independência do Iraque, de acordo com a mídia local.
"Com votos de 3,44 milhões de pessoas computados, 91,83% responderam positivamente, enquanto 8,17% negativamente", disse à Sputnik a comissão eleitoral do Curdistão.
Diante do desfecho que se desenha, as críticas e ameaças já começaram.
As autoridades iraquianas disseram que o referendo não era legítimo e sublinharam que não iriam conversar com as autoridades do Curdistão iraquiano sobre a questão da votação. O plebiscito também foi criticado pelos vizinhos do Curdistão, Irã e Turquia, que estão preocupados com o fato de que a votação possa afetar suas próprias minorias curdas.
As Nações Unidas, os Estados Unidos e outros países alertaram os curdos contra a votação sobre os temores de que o movimento possa desestabilizar a situação no Iraque.
"Os avisos dos Estados Unidos, do Reino Unido e de outros países são muito sérios. Além disso, há avisos muito sérios provenientes de nossos países vizinhos, em particular, da Turquia. Recentemente, observamos consultas trilaterais entre o Iraque, a Turquia e o Irã. Pensam que estão tentando prejudicar o governo regional [do Curdistão iraquiano] de alguma forma. Estamos aguardando suas reações", afirmou Talabani, ressaltando que a possibilidade de um bloqueio econômico e o fechamento do espaço aéreo pelo Irã e Turquia eram muito preocupantes para a região autônoma.
O dirigente curdo acrescentou que o Parlamento iraquiano poderia discutir mais medidas contra o Curdistão iraquiano já na quarta-feira.
"[Na quarta-feira], o primeiro-miistro iraquiano [Haider Abadi] convocará o Parlamento. Já foram várias as propostas para tomar medidas severas contra o governo curdo regional. Vejamos se o aceitam ou não", continuou ele.
O referendo curdo sobre independência já levou o Iraque e seus vizinhos a tomar diversas decisões com o objetivo de atacar o Curdistão. O Iraque exigiu das potências estrangeiras transferir sob seu controle todos os cruzamentos da fronteira do Curdistão e realizar todos os negócios do petróleo apenas com Bagdá.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou cortar um oleoduto vital de curdo em resposta ao referendo, enquanto o Irã fechou o céu para ligações aéreas com a região autônoma.