Sputnik Brasil: Então, continuando o tema da política interna brasileira, queríamos saber: por que não vemos no Brasil uma grande coalizão de esquerda, como forma de resistência ao atual modelo implantado pelo governo que a senhora presidenta contesta?
Falando das razões para tal tendência dentro do país verde e amarelo, a petista defendeu: mesmo sem lideranças, o PT "se transformou em um grande partido de massa" e "desde a sua fundação veio crescendo".
Contudo, não poderia deixar à parte as recentes perturbações sofridas pelo respectivo partido, que, porém, na opinião da ex-presidente, foram criadas de modo planejado e politicamente motivado pelos "construtores" do impeachment. Entretanto, disse a política, essa estratégia parece estar a falhar.
"Veja você que no auge da crise, quando eles estavam me tirando do poder e perseguindo o PT e o Lula, nós ainda fomos o partido com maior apoio popular. E ao contrário do que eles esperavam, porque eles esperavam não só me tirar, e destruir o PT, o Lula e todo o mundo, o PT passou a crescer para 19% dos votos. Quanto têm os demais partidos? Cinco. Quantos mais temos partidos de esquerda? Um", afirmou ela em uma conversa exclusiva com a Sputnik Brasil.
"Eu congreguei alguns partidos de esquerda, Partido Comunista do Brasil, que sempre fez aliança conosco. Sempre participamos da eleição em conjunto. O Partido Socialista Brasileiro, o Partido Democrático Trabalhista. Esses três partidos estiveram sempre unidos ao PT desde a redemocratização. […] Mas é muito possível que, em primeiro turno das eleições, cada um apresente um candidato ou alguns apresentem candidatos. Isto não significa que no segundo turno não se juntem. Porque no Brasil sempre tem dois, sempre nas eleições presidenciais, até agora. Só uma vez não teve dois turnos [nesse aspeto, a ex-presidente errou: houve só um turno nas presidenciais de 1994 e 1998]. E o segundo turno é importante, é importante porque, de fato, a coalizão do governo se forma a partir daí", explicou a petista.
Analisando ainda as razões do enfraquecimento dos movimentos de esquerda em todo o mundo, Dilma sublinhou as dificuldades "de raíz" originadas pelas "rupturas entre os partidos comunistas, entre os partidos socialdemocratas e partidos socialistas".
"Agora, eu acho que as rupturas começam a ocorrer menos por isso e mais pelo fato que certo segmento dos partidos socialistas ou socialdemocratas são cooptados pelo neoliberalismo e passam a ter posições neoliberais muito fortes, apesar do nome ter este componente. Então, eu acho que mudam os motivos", resumiu.
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