Arábia Saudita 'joga em dois campos' ao aproximar-se de Moscou?

© Sputnik / Valery Melnikov / Acessar o banco de imagensRei saudita, Salman bin Abdulaziz al Saud, chega à capital russa, em 5 de outubro de 2017
Rei saudita, Salman bin Abdulaziz al Saud, chega à capital russa, em 5 de outubro de 2017 - Sputnik Brasil
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Na primeira semana de outubro, Moscou evidenciou um acontecimento inédito – a visita do rei saudita à capital russa. Ao mesmo tempo, recentemente se cumpriram 2 anos da operação russa na Síria. A Sputnik explica se isso significa a ascensão do país eslavo no mundo árabe e que prejuízos isto provocaria para o maior ator externo da região, os EUA.

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Oriente Médio é notório por sua instabilidade e numerosas discrepâncias internas. Washington, por sua vez, já faz muito que se dotou de uma espécie de privilégio para mediá-las, "promover a democracia", "lutar pelos direitos humanos", ou seja, para intervir.

Entretanto, há dois anos as peças se baralharam. Após uma longa "anabiose" provocada pela queda do poder soviético, Moscou voltou a aparecer no palco árabe, desta vez como pacificadora e libertadora da tenebrosa ameaça jihadista.

Reino 'de todos os muçulmanos'?

A Arábia Saudita, além de ser o maior país no Oriente Médio, também tem tido as maiores ambições de liderança regional. Isto se justifica não só pelo seu território vasto, mas sobretudo pela riqueza mitológica do reino saudita. Além disso, ele se encontra na encruzilhada dos percursos de todos os muçulmanos — ou seja, abarca Meca e Medina, os maiores santuários da religião islâmica.

Esta aspiração implacável de liderar o mundo árabe tem sido questionada e ameaçada, por sua vez, por outro ator regional — o Irã. O conflito entre os dois países atingiu tal patamar que até recebeu o nome de "Guerra Fria no Oriente Médio". A "corrida à liderança" se agrava, além de tudo o mais, pelo fato deles representarem ramos diferentes do islã — o sunita e o xiita.

Essa concorrência, por sua vez, definiu a estratégia estadunidense na região. Logo após a revolução islâmica no Irã, a Casa Branca começou a manifestar apoio aos sauditas e a desafiar Teerã e, com a passagem do tempo, virou o maior fornecedor de armamentos a Riad.

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Até hoje, a confrontação entre os dois países muçulmanos continua tensa, enquanto a Arábia saudita apresenta cada vez mais pretensões em relação à liderança regional. Recentemente, por exemplo, ela foi um dos "construtores" de um bloqueio diplomático sem precedentes contra Qatar, entusiasmando outros vizinhos a aderir.

Relações dolorosas com Washington

Muitos especialistas indicam: após várias décadas de controle total efetuado pelos EUA a partir de fora, já no início do século corrente os sauditas começaram a se fartar de seu papel de "fantoche". A intervenção cada vez maior dos norte-americanos provocou descontentamento e uma espécie de protesto, porém "o ponto de não retorno" ocorreu em 2001, quando quase 3.000 cidadãos americanos morreram na sequência dos atentados de 11 de setembro, alegadamente organizados pelo saudita Osama bin Laden e sua organização Al-Qaeda.

A posterior intervenção estadunidense nos territórios iraquiano e afegão, realizada no marco da operação Guerra ao Terror, suscitou o esfriamento das relações, por menores que sejam as semelhanças entre os sauditas e os territórios ocupados. De qualquer maneira, o reino, dado seu papel do líder, não podia ficar cego perante uma uma violação tão séria de soberania nacional.

Entretanto, todo o leque de contradições acabou por não afetar a disponibilidade das partes para comerciar. Os sauditas continuaram comprando todo o tipo de armas a Washington e, mais que isso, se juntou a ela em uma operação aérea militar contra a Síria.

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De fato, as relações americano-sauditas sempre tiveram um caráter meramente prático, como, obviamente, a maior parte das estratégias geopolíticas da Casa Branca. Os sauditas, por sua vez, também costumam se nortear por lucros mais que por princípios. Porém, uma coisa certamente não os poderia ter deixado indiferentes. Esta foi a "maior vitória diplomática" de Obama, ou seja, a celebração do acordo nuclear com Teerã.

Nisso, Riad viu uma traição por parte dos seus parceiros, tanto mais que, na época, na sua região começavam a surgir outros atores externos de grande perspectiva — inclusive a Rússia.

'Judô geopolítico' de Putin

No mandato corrente do líder russo, aconteceu muita coisa no que se refere à política externa. A Rússia se reunificou com a Crimeia, as relações com a Ucrânia atingiram o ponto mais crítico, foram impostas sanções e contrassanções… Contudo, nesta lista também está um fator que não escapou a todos os analistas do mundo — tanto russos quanto ocidentais.

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Passados dois anos desde a campanha síria, quando já se pode evidenciar seus resultados reais, a maioria dos especialistas concorda: a Rússia "fez o impossível" na Síria, enquanto Washington fracassou. Tudo isso foi possível graças à mestria geopolítica ou, melhor dizendo, ao "judô geopolítico" do presidente Putin, que aproveitou uma "janela de oportunidades" deixada pelos americanos no Oriente Médio.

Nesse contexto, não é de estranhar que a recente visita do rei saudita, Salman bin Abdulaziz al Saud, provoque um pânico tormentoso em Washington. Um pânico tão grande, que as autoridades americanas se apressam a aprovar um acordo comercial que por muito tempo mantinham em suspenso — o de compra dos sistemas de defesa antimíssil THAAD — provavelmente para fazer Riad "mudar de ideia" e voltar ao seu colo.

Enquanto isso, a mídia internacional não para de falar dos resultados frutíferos do encontro entre Vladimir Putin e Salman bin Abdulaziz al Saud. Entre eles está a decisão da Arábia Saudita, país-líder da OPEP, de diminuir a produção de petróleo para conter a consequente queda de preços e impulsionar a demanda. E uma notícia ainda mais sensacional: isto é, a possível compra de sistemas S-400 russos pelo reino.

Atualmente, os especialistas se dividem nas avaliações desta parceria: uns dizem que, mesmo sendo frutífera, ela não poderá minar a aliança duradoura Riad-Washington apesar de todos os seus desentendimentos.

Outros, aliás, duvidam que os sauditas, na verdade, fechem esse acordo e se tornem o terceiro país, além da China e Turquia, a adquirir os sistemas de defesa antiaérea russos. Já os terceiros afirmam que Riad pode se contentar tanto com o THAAD, como com os S-400, pois eles atuam a diferentes altitudes, e participar de um "jogo em dois campos".

Entretanto, todas estas opiniões coincidem em uma ideia comum: após décadas de domínio norte-americano, a Rússia, finalmente, virou um ator de grande peso no Oriente Médio e hoje em dia isto já é impossível de ignorar.

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