Estratégia astuta do Ocidente: como Bálcãs estão sendo 'ocupados' pela OTAN

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Enquanto o Kremlin continua travando sua "política de agressão", os EUA e a Aliança Atlântica continuam ocupando cada vez mais territórios nos Bálcãs, criando uma espécie de zona-tampão, acredita o especialista do Instituto de Estudos Estratégicos da Rússia, Igor Pshenichnikov.

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Em seu artigo especial para a Sputnik, ele relembra que há pouco, a representante permanente estadunidense junto à OTAN, Kay Bailey Hutchison, afirmou que o bloco continuará realizando uma política de "portas abertas" para novos membros, falando precisamente sobre a Macedônia.

De acordo com a diplomata, os respectivos países devem "corresponder aos padrões democráticos e certas normas de caráter bélico". Hutchison prometeu, sobretudo, apoiar a Macedônia, que "pode ser o próximo país a passar a prova".

O candidato anterior

Em maio deste ano, ressalta o autor, a "prova" foi superada pelo Montenegro, que acabou por ser integrada no bloco.

"Este pequeno pedaço da ex-República Socialista Federativa da Iugoslávia foi primeiro arrancado da Sérvia através de um 'referendo popular' em 2006. Esta foi o primeiro teste de lealdade ao Ocidente coletivo efetuada por Milo Dukanovic que, ao longo dos últimos anos, já virou várias vezes tanto premiê como presidente do Montenegro", assinala o analista.

Em seu artigo, Pshenichnikov explica como, em opinião dele, este processo de assimilação decorreu realmente. Na década de 90, quando nos territórios ex-iugoslavos se travava uma guerra, Dukanovic organizou uma "rede mafiosa" para levar contrabando de cigarros à Itália. Na sequência disso, ele virou arguido no âmbito de um processo criminal em Nápoles, mas este nunca chegou ao fim.

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"Era muito mais vantajoso manter Dukanovic com rédea curta como um fantoche obediente. Em resultado disso, Dukanovic tirou o Montenegro da Sérvia, enquanto durante a última década ele tem puxado o país em direção à OTAN que nem uma locomotiva a vapor", manifesta o autor.

A segunda parte do plano, segundo Pshenichnikov, entrou em ação em outubro de 2016 nas eleições parlamentares montenegrinas. Na época, Dukanovic anunciou uma tentativa de golpe de Estado que alegadamente teria sido realizada por agentes de Moscou para "impedir a entrada de Montenegro na OTAN".

"Na sequência, para o parlamento foram 'eleitos' os deputados que, passados seis meses, votaram a favor da adesão montenegrina à Aliança", adianta o especialista. "Em outras palavras, as autoridades montenegrinas, apesar dos vínculos seculares entre russos, sérvios e montenegrinos, passaram a prova de russofobia com sucesso", resumiu.

Macedônia está na fila

Agora, chegou a ver de a Macedônia passar a prova, acredita Pshenichnikov. De acordo com ele, devemos esperar uma política russófoba do país no palco internacional, sua participação das campanhas midiáticas de propaganda planejadas "em Washington e na sede da OTAN em Bruxelas", a interpretação incondicional do papel "atribuído a ela nas provocações antirrussas" e assim por adiante.

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Entretanto, indica o autor, a "época dos exames" para Macedônia já começou. Assim, neste junho o Centro para Pesquisas de Corrupção e Crime Organizado (OCCRP, na sigla em inglês), patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA, publicou um relatório no qual afirmou que agentes dos serviços secretos russos, diplomatas e representantes de outras organizações teriam tentado interferir nos assuntos internos da Macedônia, espalhando "informação e desinformação no interesse da Rússia".

"Como evidência, foi apresentado um texto em macedônio, sem assinatura do autor, sem destinatário, sem título. Os curadores dessa ideia consideram todos os outros como idiotas absolutos, pois a provocação em relação à intervenção russa na Macedônia é completamente igual aos 'documentos do dossiê russo' sobre Trump, que circulam pela Internet e alegadamente provam a intervenção russa nas eleições nos EUA", sublinhou o autor.

Ataque contra o presidente

Pshenichnikov relembra uma situação interessante: em maio deste ano, o presidente macedônio Gjorge Ivanov visitou Moscou e se reuniu com Vladimir Putin. Após o encontro, a Rússia e a Macedônia falaram sobre uma dinâmica positiva das relações bilaterais. Logo depois, a Rússia foi submetida a mais um "ataque" da OCCRP.

Porém, afirma o autor, o próprio Gjorge Ivanov também foi alvo deste ataque.

"Pouco antes, ele foi objeto de uma pressão violenta por parte de todas as instituições euroatlânticas que intervieram grosseiramente na crise política interna na Macedônia. Eles exigiam que Ivanov aprovasse a ideia da oposição de formar um governo de ‘plataforma albanesa'. […] Para quê? Para enfraquecer as posições do presidente e da maioria étnica macedônia", explica Pshenichnikov.

Os partidos albaneses na Macedônia, por sua vez, são financiados e patrocinados diretamente pelo país vizinho, a Albânia, dado que seu "objetivo indisfarçado" é dividir a Macedônia e, no futuro, "acrescentar as regiões macedônias povoadas por albaneses à Albânia (membro da OTAN)".

Deste modo, assinala o autor, a oposição albana se torna uma ferramenta de pressão sobre Gjorge Ivanov, usufruída, por sua vez, por Washington e Bruxelas.

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"Logo após se ter formado o novo governo de oposição ao presidente, das suas fileiras surgiram declarações antirrussas", ressalta o autor, indicando, nomeadamente, as palavras da ministra da Defesa, Radmila Sekerinska, que qualificou os esforços macedônios para entrar na OTAN como uma tentativa para "se defender" da Rússia.

Na década de 90, frisa o autor, já houve um jogo parecido. Na época, quando decorria o conflito entre as autoridades centrais sérvias e os albaneses de Kosovo, no qual "Belgrado tentava conter uma rebelião antigovernamental, mas, ao final das contas, foi declarada como culpada de todos os pecados do mundo".

Na sequência, a região de Kosovo, que historicamente fazia parte da Sérvia, proclamou independência mesmo sem qualquer referendo… e todo o Ocidente a reconheceu.

Quem é o próximo?

Em opinião do jornalista, não há dúvida nenhuma que em um futuro breve Kosovo também será "puxado" para a OTAN apesar de possíveis protestos por parte de Belgrado. Entretanto, o candidato mais próximo, provavelmente, será a Bósnia e Herzegovina, indica o autor, dado que a instituição Heritage Foundation, considerada como o "think tank" de Trump, já falou sobre isso de um modo bem claro.

Entretanto, sublinha o autor, ainda é um enigma como é que os EUA vão efetuar essa campanha. O problema é que a Bósnia e Herzegovina, desde sua criação em 1995, sempre esteve dividida entre duas partes em confronto — a República Sérvia, povoada por sérvios ortodoxos, e a Federação da Bósnia e Herzegovina, habitada por croatas católicos e bósnios muçulmanos.

"A federação croata-muçulmana sonha com a OTAN. A República Sérvia olha com esperança para Belgrado e Moscou", escreve Pshenichnikov.

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Muitos analistas, sublinha o autor, afirmam que, tomando em conta a simpatia inabalável dos sérvios em relação à Rússia, o processo de adesão da Bósnia e Herzegovina à OTAN pode "resultar na saída da República Sérvia da federação".

"Basta apenas uma pequena faísca para que o conflito chegue ao extremo. A ativação do processo de adesão bósnia à OTAN não será apenas uma faísca, será um facho", resumiu.

E a Sérvia?

Porém, ressalta Pshenichnikov, o objetivo final desse plano de "ocupação dos Bálcãs" é a Sérvia.

"Nisso consiste toda a lógica do processo de divisão da Iugoslávia, articulado pelo Ocidente na década de 90: dividir o país, fazer as partes separadas obedecerem ao Ocidente, enfraquecer os sérvios, tradicionalmente pró-russos, e fazê-los sair da zona de influência da Rússia", afirma o autor.

Hoje, Belgrado tem uma série de acordos com a OTAN que tornam, de fato, a Sérvia uma parte da Aliança, pois ela assumiu todas as obrigações de país-membro, mas não o é, e também não disfruta dos respectivos direitos, afirma o autor.

"De qualquer maneira, o Ocidente, representado pela OTAN e UE, gradualmente e persistentemente, estão ocupando os Bálcãs. […] Ao mesmo tempo, a opinião da população é ignorada, como foram ignorados muitos meses de manifestações em Montenegro, cujos participantes exigiam um referendo sobre a entrada do país na OTAN. O referendo nunca se realizou, mas Montenegro já faz parte do bloco", concluiu.

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