Voltaram a jogar e perderam
Apesar de a crise ainda não ter terminado, já podemos analisar seus resultados. É evidente que os curdos perderam. Além de não terem conseguido realizar seu objetivo, o Curdistão sofreu perdas sérias. O referendo deveria legalizar todas as conquistas territoriais dos curdos no Iraque. Em vez disso, os curdos praticamente perderam o controle sobre eles. Além do mais, devido ao referendo, os curdos brigaram com seu principal parceiro externo, a Turquia.
Além do Curdistão, seu presidente, Massoud Barzani, também saiu perdendo. Além de a derrota dos curdos ter afetado sua imagem, ela levou ao surgimento de uma oposição aberta, o clã de Talabani (ex-presidente do Iraque) e a União Patriótica do Curdistão, liderada por ele.
Estas forças colaboraram com as autoridades iraquianas (no resultado, as unidades peshmerga abandonaram suas posições perto de Kirkuk pouco antes de a ofensiva das tropas iraquianas se iniciar, deixando assim a frente aberta) e, como resultado, podem receber uma parte do Curdistão para governar.
A primeira batalha da guerra entre Iraque e EUA
Fica claro, que parcialmente os curdos também tiveram culpa – estes não escutaram quando os EUA apelaram a que não realizassem o referendo. Contudo, o desejo de castigar os curdos por sua desobediência levou à derrota estratégica dos norte-americanos.
A derrota não está em que todo mundo percebeu o valor das promessas norte-americanas, isso já se sabia antes da crise curda. Nem está em que os curdos acusam os EUA de traição, já que isto também não acontece pela primeira vez, e os curdos vão ter que aceitá-lo, por não ter outros aliados que se comparem com os EUA, que são capazes de garanti-lhes ao menos o regime de autonomia.
Os norte-americanos não apenas perderam esta guerra, eles se renderam ao Irã logo no início dessa guerra. E agora, quem no Oriente Médio vai apoiar os EUA no conflito com Teerã?
De fato, a derrota dos EUA virou uma vitória de Teerã, em geral, o Irã saiu um dos maiores beneficiários dessa crise. "Os norte-americanos deram o Iraque aos iranianos de presente", assinalou o representante do governo de Barzani, Vahal Ali.
Bagdá e Moscou estão entre os vencedores
Segundo, logo depois de ter libertado estes territórios, o premiê iraquiano propôs ao presidente curdo resolver todos as divergências via conversações, percebendo muito bem que depois da operação militar bem-sucedida, os curdos ficarão em uma posição fraca nas negociações. Não é de admirar que o governo do Curdistão Iraquiano já demonstra prontidão para iniciar essas negociações.
É evidente que os curdos vão tirar conclusões de tudo o que aconteceu, e por isso, até Moscou pode ser considerada como um beneficiário. É que não são apenas os curdos iraquianos, mas também os sírios tirarão as conclusões corretas. E depois vão pensar duas vezes, se vale a pena serem aliados dos EUA e operar contra os interesses da Rússia em Deir ez-Zor, o que, por sua vez, permitirá a Moscou triunfar na campanha síria.