Como Washington abandonou curdos do Iraque e também perdeu

© AFP 2023 / SAFIN HAMEDMoças curdas seguram a bandeira da Curdistão iraquiano na cidade de Arbil
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Mais uma vez, os curdos perderam uma oportunidade de criar seu próprio Estado. Isso aconteceu porque os EUA os traíram mais uma vez.

Voltaram a jogar e perderam

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Ainda um mês atrás, depois do referendo sobre a independência que foi realizado em 20 de setembro (onde 90% dos votantes se expressaram "a favor"), os curdos iraquianos tinham tantas esperanças! Eles tinham seu próprio exército (peshmerga), seu próprio petróleo e seu dinheiro. Erbil (a capital do Curdistão iraquiano) era considerada um dos atores regionais mais fortes. Contudo, agora Bagdá mostrou ao Curdistão onde fica seu lugar. O exército iraquiano iniciou uma operação contra os curdos e conseguiu libertar os territórios que estão fora do Curdistão propriamente dito e que os curdos ocupavam desde o verão de 2014. Durante a operação, a perda de Kirkuk foi a mais dolorosa para os curdos.

Apesar de a crise ainda não ter terminado, já podemos analisar seus resultados. É evidente que os curdos perderam. Além de não terem conseguido realizar seu objetivo, o Curdistão sofreu perdas sérias. O referendo deveria legalizar todas as conquistas territoriais dos curdos no Iraque. Em vez disso, os curdos praticamente perderam o controle sobre eles. Além do mais, devido ao referendo, os curdos brigaram com seu principal parceiro externo, a Turquia.

Além do Curdistão, seu presidente, Massoud Barzani, também saiu perdendo. Além de a derrota dos curdos ter afetado sua imagem, ela levou ao surgimento de uma oposição aberta, o clã de Talabani (ex-presidente do Iraque) e a União Patriótica do Curdistão, liderada por ele.

Estas forças colaboraram com as autoridades iraquianas (no resultado, as unidades peshmerga abandonaram suas posições perto de Kirkuk pouco antes de a ofensiva das tropas iraquianas se iniciar, deixando assim a frente aberta) e, como resultado, podem receber uma parte do Curdistão para governar.

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Entre os perdedores estão os EUA, aparentemente aliados dos curdos iraquianos. Durante esta crise, Washington entregou de fato seus aliados a Bagdá, já que não impediu de jeito nenhum a ofensiva iraquiana. É difícil acreditar que os norte-americanos não soubessem sobre as preparações do ataque. Além disso, Washington não apoiou os curdos durante a crise, resolvendo, de acordo com o presidente Trump, "não apoiar nenhum dos lados".

Fica claro, que parcialmente os curdos também tiveram culpa – estes não escutaram quando os EUA apelaram a que não realizassem o referendo. Contudo, o desejo de castigar os curdos por sua desobediência levou à derrota estratégica dos norte-americanos.

A derrota não está em que todo mundo percebeu o valor das promessas norte-americanas, isso já se sabia antes da crise curda. Nem está em que os curdos acusam os EUA de traição, já que isto também não acontece pela primeira vez, e os curdos vão ter que aceitá-lo, por não ter outros aliados que se comparem com os EUA, que são capazes de garanti-lhes ao menos o regime de autonomia.

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A derrota está em que Washington demonstrou sua incapacidade de seguir o rumo escolhido. Pois ainda há pouco Trump prometeu a Teerã colocá-lo no lugar dele, e até resolveu abandonar o acordo nuclear. A situação no Curdistão era uma variante clássica da guerra entre os EUA e Irã na periferia, já que por trás das ações do exército iraquiano estavam os iranianos que desejavam resolver o problema curdo e não permitir que o Curdistão Iraquiano independente virasse cabeça-de-ponte de Washington. Esta cabeça-de-ponte poderia ser usada, por exemplo, para desestabilizar as províncias curdas do próprio Irã.

Os norte-americanos não apenas perderam esta guerra, eles se renderam ao Irã logo no início dessa guerra. E agora, quem no Oriente Médio vai apoiar os EUA no conflito com Teerã?

De fato, a derrota dos EUA virou uma vitória de Teerã, em geral, o Irã saiu um dos maiores beneficiários dessa crise. "Os norte-americanos deram o Iraque aos iranianos de presente", assinalou o representante do governo de Barzani, Vahal Ali.

Bagdá e Moscou estão entre os vencedores

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Porém, os iraquianos também estão na lista de beneficiários. Bagdá conseguiu recuperar sob seu controle um território importante e os campos petrolíferos importantes de Kirkuk e, por conseguinte, receberam uma fonte de renda para o orçamento. Além disso, eles desferiram um golpe forte, ou mesmo critico, no separatismo curdo. Entretanto, o Iraque agiu de um jeito muito cuidadoso. Primeiro, as ações militares do exército iraquiano foram realizadas apenas nos territórios dos quais peshmerga se apropriou ilegalmente, e que tentava incorporar no Curdistão Iraquiano. Enfim, Bagdá apenas levou o que era seu.

Segundo, logo depois de ter libertado estes territórios, o premiê iraquiano propôs ao presidente curdo resolver todos as divergências via conversações, percebendo muito bem que depois da operação militar bem-sucedida, os curdos ficarão em uma posição fraca nas negociações. Não é de admirar que o governo do Curdistão Iraquiano já demonstra prontidão para iniciar essas negociações.

É evidente que os curdos vão tirar conclusões de tudo o que aconteceu, e por isso, até Moscou pode ser considerada como um beneficiário. É que não são apenas os curdos iraquianos, mas também os sírios tirarão as conclusões corretas. E depois vão pensar duas vezes, se vale a pena serem aliados dos EUA e operar contra os interesses da Rússia em Deir ez-Zor, o que, por sua vez, permitirá a Moscou triunfar na campanha síria.

Gevorg Mirzayan, para Sputnik

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