A Senadora Gleisi Hoffmann, que acompanhou a retomada da Caravana Lula em Minas Gerais na segunda-feira (23) retornou a Brasília na terça (24), ao falar com a Sputnik Brasil, deixou claro que o PT não cogita nenhuma possibilidade, além de Lula, para concorrer ao Palácio do Planalto em outubro de 2018.
Enfatizando que “Lula tem a linguagem do povo e é muito querido em todo o país”, Gleisi Hoffmann diz não ver riscos de a esquerda apresentar algum outro nome capaz de chegar à Presidência da República.
Sputnik Brasil: Teve início, ou reinício, a Caravana Lula. O que significa essa caravana do ex-presidente, e por que o Estado de Minas Gerais foi escolhido para essa retomada?
Gleisi Hoffmann: A caravana do Lula, como ele mesmo disse, é uma medição da realidade brasileira. Ou seja, ele vai para os Estados para saber como está a vida do povo, os programas governamentais e os investimentos depois que o PT foi retirado do poder. Ele quer sentir com o povo, com a população, como está a situação da vida de cada pessoa. E Minas Gerais foi escolhida porque é um Estado muito grande e é governado pelo PT, e na sequência da caravana pelo Nordeste o Estado de Minas teria a oportunidade de o presidente continuar a sua caravana. Por isso Minas foi escolhida. Obviamente o presidente está tendo condições de verificar in loco o desmonte que está acontecendo em relação aos benefícios que a população tem.
“Lula é o único candidato do PT à Presidência da República. Não existe Plano B, não existem alternativas e não há outro nome”, disse Hoffmann.
SB: Nós temos informações, principalmente da região do Vale do Aço, onde há uma organização muito grande de oponentes, de oposição a essa caminhada do presidente Lula, com setores mais à direita, mais conservadores, inclusive com a distribuição de faixas bastante agressivas. Vocês temem algum tipo de provocação e confronto em Minas Gerais?
"Eles vão oferecer o quê para o povo? A reforma da Previdência? Reforma trabalhista? Fechamento das universidades? Volta do trabalho escravo? A cabeça dessa gente é isso. Então não nos preocupa. Eles fazem muito barulho, pouca ação, não conseguem mobilizar ninguém em praça pública, Quando vão fazer alguma coisa com faixas ou bandeiras, tem umas 10, 15 pessoas no máximo", comentou as manifestações de setores à direita durante a campanha de Lula.
SB: No domingo circularam informações sobre a entrevista que o Presidente Lula deu ao jornal El Mundo, da Espanha, em que ele teria acusado a Presidente Dilma de ter traído a confiança do eleitorado. Qual a verdade desta informação e qual é o relacionamento entre os dois ex-presidentes, Lula e Dilma?
GH: Não tem nenhuma verdade nessa informação. É mentira. Inclusive, nós já desmentimos através de nota, já postamos a entrevista original do presidente, inclusive ele falando. Ontem a Presidente Dilma esteve conosco e com ele, e está acompanhando. O que o Presidente Lula disse foi diferente, ele falou sobre as eleições de 2014 e disse o seguinte: a população ficou contra a Presidente Dilma porque a população se sentiu traída por ela.
"Ele não falou que ela traiu. A população se sentiu traída por ela por conta de um ajuste que ela fez, pressionada pelo Congresso e pelo mercado, mas ele não disse que a presidente traiu. É diferente. Ele usou, inclusive, informações de uma pesquisa que foi feita no período depois da campanha e que dizia isso. A mídia quer causar intriga entre o Lula e a Dilma, quer causar intriga na esquerda, no PT, mas não vai conseguir", acrescentou.
SB: A grande pergunta que se faz no Brasil continua sendo a seguinte: o PT tem um Plano B em caso de novas condenações do Lula? Circulam, com insistência, pelo menos dois nomes do PT como possíveis alternativas à Presidência da República caso Lula não possa disputá-la: o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o seu ex-colega de Ministério, Jaques Wagner. Há um Plano B do PT para Lula?
GH: Não há. Isso é obra e arte da nossa oposição, dos adversários do Partido que querem que o PT lance um candidato que seja menos competitivo do que o Presidente Lula. É claro que não há isso. O Presidente Lula é candidato e será candidato até porque juridicamente ele pode ser candidato. Ele tem até o dia 6 de agosto [de 2018] para registrar a candidatura. Mesmo que ele seja condenado em segunda instância, ele pode registrar a candidatura e tem todo um prazo de discussão sobre ela. Portanto, ele vai ser candidato. Eu quero ver o que eles vão fazer para retirá-lo depois. Várias outras pessoas já foram candidatas em situação semelhante. Vão justificar o quê? Que é o Lula, então não pode ser?
GH: Ninguém num país como o Brasil, com essa diversidade populacional, cultural e de ideias, consegue fazer um governo sem alianças. Seria mentir para a população dizer que o PT iria governar sozinho. Eu acho que em um determinado momento houve um excesso, digamos assim, das alianças feitas pelo partido, mas era a realidade que se impunha naquela época. Qualquer partido que estivesse governando iria ter que fazer uma política de alianças. Acho que hoje estamos em outro momento, em que o próprio centro, que já nem existe, ou fatias da direita não querem fazer uma aliança, querem ir para a radicalidade e estão radicalizando, isso nós temos clareza. Os partidos que querem substituir o PT ou querem ser uma alternativa – primeiro quero dizer que respeito todos, acho que isso é importante, pois nós temos diversidade de ideias –, mas o PT é um partido muito grande, é um partido que tem raízes no movimento social, sindical, estruturado em todo o Brasil.
"Hoje nós não temos nenhum outro partido de esquerda que seja de massa estruturado em todo o Brasil como o PT. Acho que ainda vai demorar muito termos um partido alternativo, assim como vai demorar muito nós termos uma candidatura de esquerda ou centro-esquerda alternativa à do Lula, com a capacidade aglutinadora que ele tem e principalmente mobilizadora e de potencial de votos", observou a senadora.
SB: Já foi pensado quem será o ou a vice de Lula em 2018? Será alguém do partido ou alguém de fora do mundo político?
GH: Não foi pensado. Ainda estamos conversando com vários partidos. Nós vamos buscar fazer aliança eleitoral, e isso é uma decisão e uma discussão que vamos fazer mais para frente.
GH: Tem possibilidade variada, de ela ser candidata ao Senado, por exemplo, ou não ser candidata e ficar como uma dirigente partidária, social, enfim, visitando o Brasil e o exterior, falando do partido. Ela ainda não definiu, mas, com certeza, é um quadro valoroso, tem ajudado muito nesse enfrentamento ao golpe, não só participando de atividades aqui no Brasil mas também no exterior, e tem sido fundamental isso para fazermos a resistência.
SB: Se ela se candidatar ao Senado será pelo Rio Grande do Sul ou pelo seu Estado natal, Minas Gerais?
GH: Ainda não tem definição. Nós temos até 6 meses antes das eleições para definir o Colégio Eleitoral.