Entretanto, há outra questão interessante: na Aliança, Shea é responsável pelos novos desafios de segurança e parece que estes já foram inventados por Pristina.
Não é de excluir que o objetivo principal de Shea seja convencer seus chefes de que Pristina está pronta para transformar as Forças de Segurança de Kosovo em um verdadeiro exército. Isto, por sua vez, abrirá o caminho para a adesão à OTAN, o que é extremamente importante para os kosovares, que têm certos problemas nas relações com a União Europeia — por enquanto, ainda nem se planeja a liberalização do regime de vistos.
De acordo com o relatório do Departamento de Estado dos EUA datado de julho de 2017, há 315 kosovares combatendo no Daesh, mas na realidade o número pode ser muito maior, pois este processo é muito difícil de ser monitorizado.
Recentemente, a república bem modesta de Kosovo alocou 100 mil dólares à luta contra os elementos radicais, qualificando deste modo o terrorismo como um dos seus maiores desafios. Neste contexto, Pristina bem pode propor formar o seu próprio exército o mais rápido possível, para, junto com a OTAN, se tornar em uma barreira à penetração de islamistas no território europeu.
Esta teoria é em parte comprovada pela declaração de Shea de que as Forças de Segurança de Kosovo teriam tido mais sucesso que o esperado, enquanto Kosovo "está cada vez perto da adesão à OTAN".
O especialista observou que a OTAN está se comportando de modo muito hipócrita em relação à Sérvia: por um lado, desenvolve a cooperação militar com ela, mas, por outro, faz tudo para ficar com 15% do território sérvio.
"A Aliança está fazendo tudo o possível para ter o controle completo de Kosovo, dado que já lá tem a base de Bondsteel. Os interesses da Sérvia não se levam em conta. Porém, o argumento de criar um ‘exército de Kosovo' para se defender dos terroristas será levado em conta", manifestou Mijalkosvki.
Vale destacar que a visita de Shea coincidiu com a chegada de Wesley Clark, ex-comandante da operação da Aliança contra a Iugoslávia na época da guerra de Kosovo, ao Montenegro. Sendo que este país já várias vezes expressou sua disponibilidade para apoiar Kosovo no caminho para a OTAN, pode ser que a ideia de Pristina não esteja longe de virar realidade.