Devemos esperar um conflito armado entre OTAN e Moscou no Leste Europeu?

© REUTERS / Ints KalninsBandeiras dos EUA e da OTAN na base aérea militar em Siauliai, Lituânia, 27 de abril de 2017
Bandeiras dos EUA e da OTAN na base aérea militar em Siauliai, Lituânia, 27 de abril de 2017 - Sputnik Brasil
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Em junho deste ano, a OTAN admitiu mais um país-membro da Europa do Leste – Montenegro. A Sputnik explica por que a compostura deste bloco militar provoca tanto descontentamento por parte da Rússia e como a ampliação da OTAN arruinou as bases para relações de confiança entre Moscou e o Ocidente.

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A OTAN virou hoje em dia um verdadeiro bloco militar de larga escala, como se estivéssemos em tempos de guerra. Além disso, esta aliança não apenas está desenvolvendo seu potencial, se equipando com novos armamentos e realizando manobras, mas também se expande em território.

Nesse contexto, as preocupações de Moscou parecem ser mais que justificadas, porém, são totalmente ignoradas pela parte ocidental. Por que isso acontece, e será que a continuidade desse conflito de interesses poderia levar a um conflito real?

Pesos e contrapesos

De fato, a época em que a existência da OTAN foi realmente relevante e se encaixava na imagem de um mundo multipolar, por mais estranho que pareça, tem a ver com a Guerra Fria. Sim, de fato, havia dois "polos" — o bloco soviético e outro sob os auspícios da supremacia estadunidense, porém, esse sistema era muito mais equilibrado do que aquele que evidenciamos hoje.

Naqueles dias, logo após a tragédia histórica que rasgou toda a Europa, ou seja, a Segunda Guerra Mundial, os atores internacionais, inclusive o próprio continente europeu, estava precisando de algumas garantias que isso não voltasse a se repetir. Bem lógico que, com esse objetivo, se tenha formado um bloco militar destinado a cimentar a segurança na área.

Entretanto, na época em que toda a geopolítica se baseava em princípios de paridade, tanto na esfera militar como científica e muitas outras, a União Soviética, país que foi o mais devastado de todos pela guerra, não podia deixar as coisas como estavam. Daí, criou outro bloco — o Tratado de Varsóvia, que existiu mesmo até ao fim da Guerra Fria.

Pode-se discutir muito sobre o caráter dessa aliança e o modo das autoridades soviéticas a terem usado para promover suas ideias no flanco leste europeu, inclusive durante as repressões de protestos democráticos na Polônia em 1956 e na Tchecoslováquia em 1968. Porém, seria justo sublinhar que após o colapso do governo comunista na Rússia, esta não chegou a criar um novo bloco de caráter militar, tendo em conta que a Guerra Fria virou coisa do passado, enquanto a Aliança Atlântica não só ficou, mas seguiu "florescendo".

Promessa dada é promessa cumprida?

Pronto, a URSS colapsou, virando um país bem enfraquecido economicamente em seu caminho longo e vulnerável de democratização. Os EUA, por sua vez, saíram da Guerra Fria como vencedores e se tornaram, de fato, no único "polo" geopolítico na época.

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Nesta situação, claro que as novas autoridades russas deveriam ponderar a futura estratégia para não ameaçar sua própria segurança, bem como suas posições na respectiva região. Por isso, segunda se alega, após a reunificação da Alemanha, entre o Ocidente e Moscou foi alcançado um consenso. Em troca da aceitação da permanência da Alemanha unida na OTAN, o Kremlin exigiu que o bloco nunca avançasse mais para Leste em direção a Moscou.

A promessa foi dada, com um problema só — nunca foi documentada, ou seja, se manifestou apenas em palavras. Entretanto, as autoridades russas parecem ter tido confiança nos seus parceiros ocidentais (evidentemente, na política a confiança incondicional é algo que se deve evitar) e ficaram com consciência tranquila.

Como a gente vê hoje, não tardou muito para quebrar essa promessa. Era de esperar — é por isso que hoje em dia se ouvem muitas críticas do então líder russo, Mikhail Gorbachev, que, evidentemente, não conseguiu exercer pressão suficiente sobre os europeus e americanos e exigir um acordo escrito. Nesse caso, a gente já estaria falando doutra situação.

Podemos esperar uma guerra?

Passados apenas alguns anos após o suposto consenso, a trajetória começou a se desviar do planejado. Na época em que a Rússia estava passando por um período doloroso de reformas democráticas e pela profunda crise financeira de 1998, o Ocidente começa a negociar com os países do antigo bloco soviético com a perspectiva de os acolher na Aliança.

Esta primeira ampliação de 1999 (Hungria, Polônia e República Tcheca) e a subsequente ampliação sem precedentes de 2004 desferiram um golpe duro contra a posição geopolítica russa e logo se tornaram em um dos mais sérios fatores perturbadores no relacionamento potencialmente frutífero entre os países ocidentais e Moscou.

Desde então, falando da política internacional, o Kremlin tem feito questão de reiterar sua preocupação em relação a este processo — vale relembrar o famoso discurso de Putin em Munique pronunciado em 2007. Na época, a dureza da intervenção surpreendeu muitos, mas, passada uma década, ele acabou por ser em algum sentido até profético.

A reunificação da Rússia com a Crimeia, onde fica um dos mais importantes bastiões navais russos, foi também em grande parte argumentada com a ameaça proveniente do oeste, com a aproximação cada vez maior das tropas da Aliança Atlântica das fronteiras russas sob pretexto da suposta "agressão russa", uma lógica que parece bem paradoxal.

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Mas a OTAN parece não planejar parar aí. Continuamos ouvindo discussões sobre a futura adesão de Macedônia e até da autoproclamada República de Kosovo. Aonde tudo isso poderá levar, tomando em consideração a instalação de sistemas de mísseis estadunidenses no território polaco e os futuros planos de fazer alastrar esse escudo bélico por toda a Europa?

Certamente, a situação de hoje parece ter atingido seu auge. Os canais de comunicação bilateral deixaram de funcionar em um contexto de confrontação ideológica e sanções, a retórica fica cada vez mais acalorada, o bloco já nem tenta abafar suas prioridades, ou seja, a contenção da Rússia e proteção contra sua política "agressiva".

Olhando para tudo isso com cabeça fria, fica evidente quem apenas se disfarça de pacificador. Para o Kremlin, isto já é um fato consumado e este, evidentemente, fará todo o possível para resistir ao modelo do mundo promovido pela parte ocidental e defender sua visão da multipolaridade na política. Oxalá que isto seja possível por meios meramente diplomáticos, por mais que a esperança diminua.

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