Longe do ambiente palaciano de São Petersburgo, em Montevidéu, há um pouco da história da Casa Romanov, a dinastia que governou o Império Russo por três séculos. A vida de Ekaterina Ioannovna Romanova, a última integrante da corte czarista, que nasceu na Rússia, é uma jornada fascinante que acontece em russo, sérvio, inglês, italiano e espanhol e que une Uruguai ao país eslavo.
Seus antepassados ilustres se destacaram não apenas por seus títulos nobres, mas por seus êxitos militares, científicos e artísticos, segundo explica Grigory Korolev no livro "Os russos no Uruguai: história e atualidade".
Filha do príncipe Ioann Konstantinovich e da princesa Elena Petrovna — irmã de Alexandre I, rei da Iugoslávia, "a princesa Ekaterina Romanova era a segunda sobrinha e afilhada do último imperador russo Nicolau II", conta Korolev em seu livro.
Ekaterina Ioannovna, cujo título completo era "Sua Alteza Sereníssima Princesa de Sangue Imperial", durante seus primeiros anos de vida compartilhou muito do seu tempo com o herdeiro do trono imperial, o czar Alexei Nikolaevich.
A vida da princesa mudou completamente em 18 de julho de 1918. Em meio à guerra civil que sucedeu a Revolução Russa, na cidade de Alapaevsk, seu pai Ioann foi executado junto com a Grã-Duquesa Elizaveta Fiodorovna, o Grão-Duque Sergey Mikhailovich, seus irmãos príncipes Konstantin e Igor Konstantinovich, o príncipe Vladimir Palei e a religiosa Várvara Yakovleva.
"No início, eles viviam na Suécia, onde a segunda avó da princesa, grega Olga, ensinou ela a ler em russo o 'Pai Nosso'. A mãe de Ekaterina se juntou a elas, que as levou para sua terra natal, a Sérvia, onde viveram oito anos. Para que as crianças recebessem uma boa formação, Elena Petrovna as levou primeiro para a França e depois para o Reino Unido. Lá, a famosa Ninette de Valois, dava aulas de balé à princesa", relata Korolev.
Naquela época, Ekaterina dominava a língua inglesa, que foi seu idioma principal durante maior parte de sua vida, assim como o russo. Do Reino Unido, ela viajava com frequência com sua mãe para a Itália, onde conheceu seu futuro marido, o marquês Ruggiero Farace di Villaforesta. Apesar de o pretendente ter um título nobre inferior, a princesa aceitou quando ele pediu sua mão em casamento.
Era 1937, com 22 anos, Ekaterina se casou com o marquês e diplomata Farace. Do casamento nasceram três filhos: Nicoletta (1938), Fiammetta (1942) e Giovanni (1943).
Farace morreu em 1970 de câncer, acompanhado por sua esposa até os últimos dias de sua vida em Roma. Depois de perder seu marido, Ekaterina se mudou com Fiammetta para os EUA, mas sempre passava o Natal no Uruguai com sua filha Nicoletta.
"Em 1982, Ekaterina Ioannovna decidiu se mudar definitivamente para o Uruguai. Em Montevidéu levava uma vida isolada e discreta. Maior parte de seu tempo era dedicada à criação de seus netos e à leitura. Em sua casa, pintava muito e cuidava de suas gatas persas", descreve Korolev.
Apaixonada pela música clássica e cinema, a princesa tinha uma vida social na comunidade britânica do Uruguai. Longe das lembranças infantis em Pavlovsk, sua vida era dividida entre um local pacato de Punta del Este, nas margens do Atlântico, e o bairro silencioso e elegante de Carrasco.
"Ekaterina Ioannovna amava a Rússia ardentemente. Acompanhava com atenção as notícias sobre nosso país. No fim de sua vida, passou muito tempo assistindo à BBC e, de acordo com sua filha, sempre com grande interesse ouvia as transmissões dos discursos de Vladimir Putin, tentando traduzi-los para Nicoletta e para seus netos diretamente", conta Korolev.
Ekaterina sofria "forte estresse emocional" quando lhe recordavam a história de sua família. Quando em 1998 os membros da Casa Romanov foram convidados a São Petersburgo para a cerimônia de reenterro de seus familiares executados, ela se recusou a ir. Em vez dela, foi Nicoletta.
A princesa morreu em 13 de março de 2007 com 92 anos. Seu círculo mais próximo organizou uma cerimônia privada. Com sua morte, o ramo da dinastia Romanov Konstatinovichi foi cortado pela linha feminina.
Poucos meses depois, no sepultamento principesco da Catedral de Pedro e Paulo em São Petersburgo, foi realizada uma missa em homenagem à princesa. Em Moscou, o Patriarca de Moscou e Toda a Rússia abençoou a memória de Ekaterina em uma missa.