Na quarta-feira, a Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio de Janeiro (AME-RJ) e a organização não governamental (ONG) Viva Rio protocolaram junto ao governo federal, no Palácio do Planalto, um manifesto requerendo ao presidente Michel Temer a imediata destituição do seu ministro.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o coronel da reserva da PM Fernando Belo, presidente da AME-RJ, falou das razões que levaram as duas entidades ao manifesto e se deteve nas críticas ao ministro, que insinuou ligações de comandantes de batalhões da PM com os traficantes de drogas.
"O nosso manifesto foi sim encaminhado ao Palácio do Planalto. Entendemos que se o Ministro Torquato Jardim tivesse sido escolhido para a pasta da Justiça por critérios técnicos, e não por razões políticas, ele saberia que o combate aos crimes de tráfico de drogas e contrabando de armas não é de competência das Polícias Militares e sim da força que ele comanda, a Polícia Federal", disse.
Jardim indicou ainda, em entrevistas na semana passada, que o assassinato do comandante do Terceiro Batalhão, coronel Luíz Gonzaga Teixeira, em 26 de outubro, teria sido um acerto de contas por parte de traficantes, dada a violência com a qual o crime foi cometido. Para Belo, a afirmação mostra o quão "desumano" foi Jardim ao chegar a tal conclusão.
"O ministro foi desumano e, até mesmo eu diria covarde na medida em que acusa um coronel da PM do Rio de ter sido executado por uma questão de acerto de contas. Isso é desumano, é uma covardia, na medida em que acusa uma pessoa íntegra que foi assassinada sem condições de se defender. Mas nós vamos prestar, como estamos prestando, toda assistência jurídica à família deste oficial", contou.
Belo destacou ainda que "as comunidades do Méier e de todos os bairros cobertos pelo 3º Batalhão da Polícia Militar aplaudem este homem correto que foi o Coronel Teixeira". "Para se ter uma idéia das condições em que ele atuava: há alguns anos, o 3º Batalhão chegou a ter um efetivo de 1.500 policiais. Hoje, este efetivo mal chega a 350 com a responsabilidade de patrulhar uma das áreas mais complexas do Rio de Janeiro", emendou o presidente da AME-RJ.
Ainda na opinião de Belo, Torquato Jardim demonstrou incompetência para continuar à frente do Ministério da Justiça, já que "não tem conhecimento do que fala". Além disso, o ministro deveria exibir publicamente as provas das acusações feitas contra os policiais militares do Rio.
"Se o ministro tem provas do que fala, deve apresentá-las para que os responsáveis sejam exemplarmente punidos. Não estamos dizendo que não há desvios de conduta na Polícia Militar. Pelo contrário, nós somos os primeiros a admitir a existência de erros e a lembrar que há coronéis presos pelo cometimento de delitos. Mas um ministro fazer afirmações levianas de que os coronéis da PM possuem ligações com traficantes de drogas, sem apresentar provas mesmo dispondo de um amplo Serviço de Inteligência, isto para nós é simplesmente inadmissível", afirmou.
Danos
Um dos pontos mais ressaltados pelo presidente da AME-RJ foi o fato das declarações de Torquato Jardim terem conseguido atrair contra si os protestos não só dos policiais militares e seus familiares, como também da sociedade civil – representada no manifesto pela ONG Viva Rio.
"O Sr. Torquato Jardim fez uma generalização muito perigosa ao fazer tais acusações. Quais as consequências disso? Uma delas é a ter colocado 400 mil policiais militares de todo país contra ele, contra suas afirmações e contra seu comportamento. Outra consequência: ele colocou contra si também a população civil. O Viva Rio é uma entidade que representa a sociedade civil e está junto conosco nesta indignação contra o ministro. Por isso, o Viva Rio e a AME-RJ estão pedindo ao presidente da República a destituição do seu ministro da Justiça por ele ter demonstrado, publicamente, sua total incapacidade para gerir uma pasta que é tão importante para o país", argumentou.
Belo aproveitou a ocasião para também defender o secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, e o coronel Wolney Dias, comandante da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Ambos foram também citados por Jardim em suas declarações na semana passada.
"Tanto o secretário quanto o comandante geral da PM são excelentes policiais e homens muito dignos. Foram companheiros de Academia na Polícia Militar e, desta convivência, nasceu uma amizade muito forte entre ambos, o que levou o Roberto Sá a convidar o coronel Wolney Dias a assumir o Comando Geral da PM. Não foi indicação política, indicação de deputado, mas foi tão somente uma indicação técnica de um grande profissional da Segurança Pública. Nenhum dos dois merecia as críticas infames que lhes foram feitas", finalizou.