O Tratado sobre as Forças Armadas Convencionais na Europa (CFE, sigla em inglês) conta com participação de 28 países europeus, EUA e Canadá. A redução de armas foi reciprocamente controlada por inspetores. Devido à expansão da OTAN ao leste, desde 2007 a Rússia não vem cumprindo os termos do CFE. Neste artigo, a Sputnik explica por que o principal acordo, que deveria garantir a segurança na Europa, passou a ser folhas que não valem nada.
Paridade entre blocos
O tratado, assinado em 1990, definiu a quantidade de armas e equipamento militar na Europa entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia. De acordo com o tratado, cada bloco na região poderia contar com uma quantidade de armamentos que não superasse 20 mil tanques, 30 mil veículos blindados, 20 mil sistemas de artilharia, 6,8 mil aviões e 2 mil helicópteros de combate. Nos flancos, a quantidade de material bélico não poderia superar 4,7 mil tanques, 5,9 mil veículos blindados e 6 mil sistemas de artilharia.
"Inicialmente, o CFE prevenia a formação de agrupamentos dos dois blocos que planejavam atacar inesperadamente um ao outro. A Rússia expressou sua insatisfação com vários termos. Onde a OTAN tinha supremacia, por exemplo, em navios, eles não cumpriram as limitações. Além disso, o acordo não abrangeu os mísseis de cruzeiro de baseamento naval e aéreo. Com o tempo, a política da Aliança encabeçada pelos EUA em relação à Rússia começou a mudar, e a natureza agressiva do bloco se tornou evidente", assinala o especialista russo militar, Leonid Ivashov.
Em 1995, a Rússia reduziu seu arsenal na Europa ao limite, contudo, apareceram problemas quanto aos agrupamentos nos flancos. Parcialmente, a Guerra da Chechênia contribuiu, já que na área das ações militares foram concentradoras forças adicionais. Estas questões foram resolvidas ainda em 1996, contudo, logo apareceram outras.
Vantagem unilateral
"Este acordo já não corresponde à situação atual. A OTAN já está no território das antigas repúblicas soviéticas. Um novo acordo deveria substituir o CFE, contudo, o Ocidente não deseja isso. Hoje em dia, a Rússia pode impedir a expansão da Aliança ao leste apenas com uma potência militar impossível de ser combatida por ela. Eles compreendem apenas o idioma da força", explica o especialista militar, Konstantin Sivkov.
Cumprindo os novos termos, a Rússia reduziu suas forças no noroeste do país, retirou seu material bélico da Moldávia e ratificou o tratado. Contrariamente, a OTAN incorporou mais ex-integrantes do Pacto de Varsóvia e Estados bálticos que não faziam parte do CFE. Além do mais, na Bulgária e Romênia apareceram bases da OTAN. Assim, a quantidade total de armas convencionais da Aliança na Europa cresceu drasticamente e superou todos os limites estabelecidos.
"Sinal alarmante"
Anteriormente, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que hoje em dia a situação internacional mudou drasticamente e no fim das contas a Rússia passou a ser o único país a cumprir os termos do CFE.
"Nenhum dos integrantes da OTAN cumpre o acordo, e não desejamos participar deste teatro absurdo", afirmou Lavrov durante seu discurso em uma reunião do Conselho OTAN-Rússia em Oslo.
"Hoje em dia, não é o melhor período das relações entre a Rússia e os EUA, bem como entre a Rússia e a Europa, na busca da elaboração de um novo acordo. O antigo já 'morreu' e não pode ser recuperado. É possível usar parcialmente seus termos, princípios, limitações quanto à concentração de tropas e equipamento pesado, mas somente quando os europeus forem mais independentes", explicou o especialista.
Durante uma sessão extraordinária, a Rússia tentou modificar o acordo e incluir nele países bálticos, bem como reduzir a quantidade de armamentos da OTAN, mas não conseguiu reunir as emendas. Sendo assim, em 13 de julho de 2007, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou decreto sobre suspensão do cumprimento do CFE pelo país.
Desde sua assinatura, a Rússia parou de comunicar a seus sócios do acordo sobre descolamento de seu material bélico e fechou o acesso às tropas por investigadores estrangeiros. Depois, o país abandonou o Grupo Consultivo Comum do CFE, causando preocupações por parte da França, Alemanha e Polônia. Os ministros das Relações Exteriores dos países acima citados qualificaram este passo como "mais um sinal alarmante, enviado por Moscou".