"A falta de resposta à violência que tem ocorrido na Síria há sete anos, ao tratamento desumano que os refugiados são submetidos nos portões da fronteira, e ao genocídio do Rohingya [em Mianmar] revelaram o verdadeiro rosto do Ocidente", disse Erdogan, citado pela agência turca Anadolu.
"A islamofobia, o neonazismo e o racismo [estão] começando a substituir cada vez mais os valores como a democracia, os direitos humanos e as liberdades no Ocidente", acrescentou o líder da Turquia.
De acordo com Erdogan, "o Ocidente exportou todos os tipos de elementos doentios para as nações islâmicas na tentativa de garantir seu próprio futuro".
O presidente turco mencionou especificamente o Daesh, a Al-Qaeda, o Boko Haram, o YPG curdo e os apoiantes do clérigo turco exilado Fetullah Gulen — a quem Ancara culpa por uma tentativa de golpe fracassada no ano passado — dizendo que esses grupos têm "transformado toda a nossa região com um grande banho de sangue".
Erdogan advertiu que "um cenário está sendo montado para dividir o mundo islâmico, os muçulmanos, para destruir seus valores e, mais perigosamente, o seu futuro". E o mundo islâmico, de acordo com o líder da Turquia, atravessou um período de dificuldades nos últimos anos. "Literalmente uma era de instigação", destacou.
Apesar de ser um membro da OTAN e uma forte aliada ocidental há décadas, a Turquia vive relações tensas com os EUA e a União Europeia (UE) nos últimos anos. Entre uma série de questões, o abismo com Washington caracteriza-se principalmente pela falta de vontade de Washington de extraditar Gullen para a Turquia, além da manutenção do apoio ao YPG curdo, que Ancara considera uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a quem se refere como organização terrorista.
Os laços turcos com a Europa foram comprometidos pela crise dos refugiados e as negociações paralisadas sobre a viagem sem visto de turcos para a UE, que Bruxelas paralisou, citando a recusa de Ancara em alterar suas duras leis antiterroristas. Palavras mais fortes também foram trocadas depois que alguns países europeus, notadamente a Alemanha, proibiram as aparições públicas dos ministros turcos antes do referendo turco de abril, sobre reformas constitucionais que expandiram significativamente os poderes de Erdogan.
Na semana passada, o país culpou a OTAN por manchar seus líderes – do passado e do presente – e retirou suas tropas dos exercícios na Noruega, depois que o pai fundador da Turquia, Mustafa Kemal Ataturk, e o próprio Erdogan foram listados como inimigos durante um exercício assistido por computador. A OTAN pediu desculpas pelo incidente, que recaiu sobre um contratante civil norueguês que foi demitido por sua atitude anti-turca.