Desde o fatídico acidente, começou uma série de discussões em torno da responsabilidade pelo pagamento dos seguros. Mais recentemente, os procuradores federais encontraram indícios de que o avião da LaMia, a companhia responsável pelo voo, não pertence de fato aos donos que constam no papel, dificultando o processo de pagamento dos seguros.
A empresa boliviana Bisa Seguros y Reaseguros, com a qual o seguro havia sido estipulado, recusou-se a pagar o valor do prêmio estabelecido (equivalente a 25 milhões de dólares) alegando que a LaMia não vinha pagando a apólice. Além disso, segundo registros da imprensa, a Bisa exibiu às autoridades uma cláusula contratual em que a Colômbia ficava eximida da cobertura e que o valor do seguro só seria pago se o avião tivesse caído em solo boliviano.
A presidente da Afav-C (Associação dos Familiares das Vítimas do Voo da Chapecoense), Fabienne Belle, viúva de Luis Cesar Cunha, Cesinha, fisiologista da Chapecoense, falou com exclusividade à Sputnik sobre o drama que os familiares das vítimas estão vivendo desde a tragédia.
“Nós ainda não temos as conclusões das investigações. Sabemos que deveria ser pago um valor de 25 milhões de dólares referente ao seguro porém ele não foi pago. A Bisa Seguradora e as empresas de seguros propuseram um fundo de 200 mil dólares, o que recusamos por representar um valor muito aquém do estipulado", disse ela.
Uma nova investigação do Ministério Público Federal do Brasil apurou que o avião, na verdade, pertence ao Senador Ricardo Albacete, da Venezuela, e à sua filha, Loredana Albacete. É ela quem consta, por sinal, como proprietária do avião acidentado na cópia do contrato de fretamento da aeronave entregue aos procuradores.
Na última terça-feira (28) o procurador da República em Chapecó, Carlos Humberto Prola Júnior, declarou que nenhum brasileiro pode ser juridicamente responsabilizado pelo acidente fatal.
"As investigações prosseguem na Bolívia e na Colômbia e os verdadeiros responsáveis pela tragédia ainda não foram apontados. Se nós dermos quitação [aos valores inicialmente propostos], nós perderemos o direito de pleitear [o recebimento de] qualquer valor futuro e até o mesmo o direito de entrar com ações indenizatórias contra estes verdadeiros responsáveis pela tragédia”, disse Fabienne Belle.
Segundo a presidente da Afav-C, nenhum valor a título de indenização foi pago até o momento aos sobreviventes e aos familiares das vítimas fatais.
“Nós hoje temos muitas famílias que necessitam de auxílio já que vêm enfrentando dificuldades por não ter renda suficiente para se manter. Infelizmente, esta realidade está acontecendo e o pagamento dessas apólices e dessas indenizações ainda vai levar um bom tempo”, destacou Fabienne.
Fabienne disse ainda que o apoio do governo brasileiro aos sobreviventes e aos familiares das vítimas fatais é fundamental. Afinal, as investigações envolvem três países (Brasil, Bolívia e Colômbia) e é necessário que todas estas questões sejam tratadas em nível governamental, aponta a presidente da Afav-C.
Há exato um ano, na noite de 28 para 29 de novembro de 2016, o avião da empresa boliviana LaMia, que transportava a delegação da Chapecoense para a Colômbia onde iria disputar a decisão da Copa Sul Americana com o Atlético Nacional, caía na região de Cerro Gordo, próxima ao Aeroporto de Medellín. Das 77 pessoas que estavam a bordo, 71 morreram.