Ataques seletivos
A aviação dos EUA começou recolhendo dados sobre as posições do Daesh (grupo terrorista, proibido na Rússia) em 26 de agosto de 2014. Os drones e caças se ingeriam no espaço aéreo sírio permanentemente e sem pedir autorização. Apenas em 10 de setembro de 2014 o então presidente Obama anunciou sobre a intervenção militar direta, prometendo combater o Daesh e treinar os rebeldes para a luta contra o pseudocalifado. Os primeiros ataques foram efetuados já em 22 de setembro. A coalizão agia apenas de noite.
Analistas militares destacam aqui um detalhe importante: a coalizão nunca atacava diretamente os jihadistas, mas quando a Rússia entrou no jogo, passaram a bombardear a infraestrutura petrolífera, usinas elétricas, fortificações — tudo o que o Exército Árabe da Síria poderia usar durante o contra-ataque.
Além disso, desde o início da operação, os norte-americanos apoiaram seus principais aliados no "terreno", ou seja, as unidades curdas, a "oposição moderada" e outras formações.
"Antes da nossa intervenção, os EUA e seus aliados já tinham efetuado milhares de voos. Hoje é evidente que eles não conseguiram prevenir o alastramento do Daesh pelo país. Muitas bombas foram lançadas literalmente no deserto", comenta para a Sputnik Sergei Sudakov, cientista político e especialista em estudos americanos.
Parada nos curdos
Após o início da operação antiterrorista da Rússia na Síria, em setembro de 2015, a coalizão se tornou mais passiva. Mas em outubro o Pentágono decidiu enviar 30 instrutores americanos aos campos da oposição síria para criar formações mais ou menos combativas. Os conselheiros militares conseguiram um certo êxito, com a participação deles foram formadas as Forças Democratas da Síria (FDS), unidades de aliados curdos e sírios dos EUA.
"Prestem atenção a como eles 'libertaram' Raqqa. Sobre a cidade foram lançados 'tapetes de bombas', tal como anteriormente em Mossul. Em ambas as cidades os americanos não deixavam os jornalistas passar para evidenciarem o quadro de destruição total pouco vantajoso para o Pentágono", apontou Sudakov.
Ele sublinhou que, ao contrário dos EUA, as tropas sírias e forças russas criaram corredores humanitários para civis. Enquanto os EUA por várias vezes foram detectados deixando sair de Raqqa assediada apenas "terroristas moderados" com suas armas. Surge a questão: que moderados, se esta é a capital do Daesh?
Salvar a face
Para Sergei Sudakov, a Rússia fez muita coisa, tanto para a libertação da Síria, quanto para o restabelecimento da paz no país.
"Bashar Assad agradeceu aos nossos militares pela abnegação com que eles ajudaram seu povo. Esta não era uma guerra nossa. Mas ajudamos e o fizemos bem. A nossa vitória foi uma ajuda aos civis. Os americanos medem suas vitórias pela ajuda aos seus aliados e se preocupam apenas com a geopolítica e seu prestigio", destacou.
Segundo Sudakov, o último fracasso dos EUA quanto à Coreia do Norte os faz quererem salvar a face pelo menos em uma parte do mundo. Pois para eles é muito doloroso pensar que estão perdendo a capacidade de pressionar Pyongyang e é isso que demonstram os lançamentos de mísseis norte-coreanos.
"EUA são capazes de tudo para manterem sua imagem pública de 'policial global', até de roubar as vitórias dos outros", resumiu o analista.