Não é segredo que no Brasil já começaram a se ouvir vozes de que o português brasileiro se distinguiu demasiadamente do português europeu. A linguista Duarte acusa o purismo na linguística brasileira que depois foi substituído por modernismo radical:
"O século XIX no Brasil, sobretudo os últimos 50 anos do século XIX, é um tempo em que aparece um purismo em relação à língua. Há intelectuais brasileiros a pedirem que os brasileiros falem a língua de Camões. Quando digo a língua de Camões não é metaforicamente, é literalmente, isto é, que vão aos textos do século XVI, falar como supostamente aqueles escritores falavam, o que é completamente idiota."
"O que acontece é que o modernismo insiste na especificidade do brasileiro. Curiosamente, o que nós temos depois, nos anos 70 e 80, são linguistas que, ao contrário dos antigos gramáticos (o Brasil teve gramáticos surpreendentes, melhores que os portugueses, durante o século XX, há um espetacular, Manuel Said Ali). O que acontece é que a nova geração de linguistas brasileiros dos anos 70 e 80 entram nessa onda do modernismo, eu penso que em alguns casos não como afirmação da cultura brasileira, é mais por desconhecimento do que era o português falado em Portugal", afirma.
Porém, agora a situação tenta se moderar e linguistas brasileiros já entendem que as duas variedades do idioma português não são tão diferentes no fim das contas, acredita a professora. Isto já cria condições para uma cooperação maior entre Portugal e o Brasil na área linguística.
"Agora decidir que as duas variedades são línguas diferentes tem mais a ver com questões políticas e econômicas do que com questões linguísticas", disse.
"Se nós insistimos em dizer que há duas línguas, nós perdemos no panorama mundial, porque no limite iríamos ter um português de Angola, outro de Moçambique etc… O que é mais importante para nós, é dizer que somos uma língua, como dizem os ingleses, os americanos ou os de Singapura, ou dizer que temos não sei quantas linguazinhas?"
E os outros?
Obviamente, a situação entre português brasileiro e português europeu não é a única. Há outros exemplos de diferenças até mais explícitas que não resultam em separação linguística por razões políticas e econômicas, explica a professora Duarte.
"Se nós olharmos para o que se passa nas línguas dos antigos impérios coloniais, o inglês, o espanhol, o francês, aquilo que nós verificamos é que, por exemplo, as diferenças entre o francês falado na França ou no Canadá são gigantescas, mas ninguém diz que o francês do Canadá não é francês. As diferenças entre o espanhol falado na Península Ibérica ou em São Domingos [capital da República Dominicana] são gigantescas, mas ninguém diz que há dois espanhóis."