Além do mais, o número do contingente dos EUA na Síria e no Afeganistão supera muitas vezes o divulgado oficialmente. Os EUA mantêm suas tropas por todo o mundo e clandestinamente participam de muitos conflitos armados. Ex-militares americanos confirmaram isso à Sputnik.
Tragédia perto de Tongo Tongo
Foi difícil disfarçar a morte dos militares estadunidenses, já que a viúva de um deles, La David Johnson, irritou-se com o comportamento do presidente do país, Donald Trump. Ao ligar para a mulher, o presidente destacou que o militar era ciente da missão e dos riscos. Além disso, de acordo com a viúva, durante conversa telefônica, o líder do país não conseguiu se lembrar do nome de seu marido. Por sua vez, Trump desmentiu essas informações no Twitter.
I had a very respectful conversation with the widow of Sgt. La David Johnson, and spoke his name from beginning, without hesitation!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 23 de outubro de 2017
Eu conversei por telefone muito respeitosamente com a viúva do sargento La David Johnson, e falei o nome dele desde o início, sem hesitar!
Contudo, com a popularidade das informações sobre o incidente, o escândalo desencadeou um motivo mais sério.
"Guerra sem limites"
Vários congressistas norte-americanos reconheceram que não sabiam nada sobre a missão de seus militares no Níger. Lindsey Graham foi um deles.
"É um tipo de guerra sem fronteiras e sem limites de tempo e de geografia. Devemos saber mais", afirmou ele.
A tragédia perto de Tongo Tongo é muito parecida com a que aconteceu 24 anos atrás, e que é conhecida como a luta perto de Mogadíscio, recorda Zakhar Artemiev, ex-militar do exército dos EUA. Naquela época, no início de outubro de 1993, 18 soldados norte-americanos foram mortos e 73 ficaram feridos. Aquele incidente também chocou os EUA, já que ninguém sabia sobre a presença dos militares estadunidenses na Somália.
"Meu comandante foi um dos soldados atacados em Mogadíscio, e ele não gosta de recordar a tragédia. Já ouvi bastantes histórias deste tipo […], elas acontecem em diversas partes do mundo. Muitas delas até então são desconhecidas."
"Em qualquer lugar, eles se sentem como se fossem donos"
"Na Europa, especialmente na Alemanha, militares dos EUA se sentem completamente livres. Uma densa rede de aeródromos militares faz com eles se desloquem a quaisquer direções. Basicamente, dessa forma eles tentam se introduzir em todos os lugares, possuindo, hoje em dia, destacamentos em muitos países", assinalou Zakharov, um dos russos que serviu no Fort Benning, maior base naval no território dos EUA, depois continuou servindo no Texas, e, mais posteriormente, na base estadunidense na Alemanha.
"Em qualquer lugar, militares norte-americanos agem como se fossem donos. Conheço um caso que aconteceu na Colômbia, onde nossos oficiais deram ordens à polícia", conta outro ex-militar dos EUA natural da Bielorrússia, Nikolai Felshtinsky, acrescentando que ninguém pode deter algum soldado estadunidense ou até mesmo adverti-lo.
Um terço dos soldados serve no exterior
De acordo com dados do Ministério da Defesa russo, as Forças Armadas dos EUA contam com 1,3 milhão de oficiais, já que 450 mil deles estão em serviço no exterior, ou seja, um terço dos soldados norte-americanos cumpre sua missão fora da Pátria. Além disso, 826 mil oficiais da Guarda e reservistas também fazem parte das Forças Armadas norte-americanas.
Pelo visto, nem congressistas sabem qual é o número real do contingente militar estrangeiro dos EUA, o que seria um tanto estranho, pois, de acordo com a Constituição norte-americana, suas Forças Armadas podem agir em qualquer outro país somente após a aprovação do Congresso.
Contudo, em 14 de setembro de 2001, três dias após os ataques terroristas nos EUA, o Congresso aprovou a Autorização para Uso de Forças Armadas contra Terroristas (AUMF), dando ao presidente direito de enviar tropas a locais onde operam forças responsáveis por ataques aos Estados Unidos.
Depois de um ano, em 2002, foi aprovada a resolução especial sobre o Iraque, que também autorizou o presidente a manter as Forças Armadas neste país "o quanto ele achar necessário".
"Documentos deste tipo dão direito ao dono da Casa Branca de solicitar permissão aos senadores, e enviar tropas norte-americanas a vários lugares do planeta", explicou Artemiev.
"Com o pretexto da luta contra o terrorismo, os EUA podem cumprir seus objetivos em qualquer ponto do mundo […] combatendo regimes que Trump, Obama e Bush não gostam, justificando suas ações como luta contra o terrorismo. É só escrever no papel: atividade terrorista suspeita", acredita Felshtinsky.
Por todo o mundo
De acordo com o comandante dos EUA, Raymond T. Odierno, as tropas norte-americanas estão instaladas em 150 países, já que mais de 600 bases militares dos EUA estão situadas em 38 países do mundo (mas há dados que afirmam haver 800 bases).
Uma das principais características da presença militar dos EUA em outros países é que, depois de entrarem, não se apressam para sair. O exemplo de hoje: militares dos EUA afirmam que permanecerão na Síria ainda por um tempo ilimitado para cumprir missões especiais.