No encontro com os jornalistas, Putin abordou diversos temas: desde a confirmação de sua candidatura à eleição presidencial de março de 2018 (o que já havia anunciado há uma semana durante visita à uma fábrica em Nijni-Novgorod, na parte central da Rússia) até ratificar as suas posições em relação à necessidade de um grande esforço internacional para o combate ao terrorismo em escala global. Além disso, falou da sólida parceria da Rússia com a China, negou novamente a tão falada interferência da Rússia na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, e ainda considerou que o momento mundial exige harmonia entre as nações. Ou seja, menos conflitos e mais diálogos para entendimentos.
Diego Pautasso, especialista em países do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre e Pesquisador do Nerint (Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) falou sobre próxima candidatura de Putin:
"O Presidente Vladimir Putin teve um papel fundamental na recuperação da Rússia pós década de 90. Aquela foi uma década trágica após o colapso da União Soviética. Ele conseguiu capturar esse capital eleitoral a partir de uma gestão dele e depois, com [o hoje Primeiro-Ministro e ex-Presidente] Dmitri Medvedev, recuperar a economia nacional, melhorar o desempenho econômico, afirmar a assertividade da Rússia no cenário internacional além de firmar, digamos, um grande pacto social pela reconstrução da Rússia. Tudo isso lhe confere uma dianteira no cenário eleitoral que me parece inalcançável para a próxima eleição".
Pautasso também abordou a resposta de Putin às acusações de interferência russa no processo eleitoral dos Estados Unidos:
"Mantenho tudo que venho dizendo à Sputnik Brasil em torno dessa questão. Para mim, trata-se muito mais da disputa de um jogo político-eleitoral interno dos Estados Unidos, de disputa acirrada pela Casa Branca, em que muitas vezes são utilizados os mais variados instrumentos de política e marketing eleitoral do que, propriamente, um envolvimento da Rússia no cenário eleitoral norte-americano. Por várias razões: primeiro porque as campanhas eleitorais norte-americanas têm recursos abundantes e não seriam os recursos da Rússia que seriam determinantes para a vitória de A ou B; segundo porque se as relações da Rússia estavam muito difíceis com o [então] Presidente Barack Obama e também com sua possível sucessora Hillary Clinton, nada assegurava que uma vitória de Donald Trump reinventaria as relações da Rússia com os Estados Unidos, sobretudo com seu perfil extremamente impulsivo e conservador. Da vitória de Trump para cá, tudo que vem acontecendo corrobora a tese de que não faria muito sentido a Rússia interferir a seu favor durante o processo eleitoral".
"Essa temática [de combate ao terrorismo] sempre foi fundamental em todos os governos de Vladimir Putin na Rússia. Vale lembrar de como ele combateu o terror na Chechênia, no Daguestão e na região do Cáucaso. No que diz respeito ao cenário internacional, a Rússia agiu de maneira muito incisiva na Síria, combatendo o Daesh e forçando essa organização criminosa a um grande recuo. O recado que Putin deu com este seu apelo foi uma mensagem de alerta, no sentido de que os Estados Unidos não podem mais ser irresponsáveis no combate ao terrorismo, permitindo que prosperem organizações como a Al Qaeda que surgiu no Afeganistão. O alerta que o [Presidente] Putin faz com essa mensagem é de que se a questão do terrorismo não for tratada com a devida responsabilidade, ela poderá se transformar num problema muito sério para toda a comunidade internacional. Portanto é um ponto que, para Putin, continua a ser de grande centralidade. Daí vem o destaque que ela deu à abordagem da questão do terrorismo em sua entrevista coletiva à imprensa russa e mundial".
A solidez da parceria entre russos e chineses também foi analisada por Paulo Velasco: