Gevorg Mirzayan, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Finanças do Governo da Rússia, analisa a nova doutrina dos EUA no seu artigo para a Sputnik.
Revisionistas e párias
Analistas e políticos responsáveis compartilham a opinião que hoje em dia o principal inimigo para os países desenvolvidos são, em primeiro lugar, os terroristas islâmicos. Eles são muito difíceis de eliminar porque sua organização não tem uma estrutura clara, com eles não se pode negociar, contudo, eles podem causar danos significativos com gastos mínimos.
"Mas para Trump tal inimigo não serve — ele é pouco personificado e é difícil (sem outro 11 de setembro) mobilizar as elites e a sociedade contra ele. Por isso, além destes adversários em rede, na doutrina são destacados mais dois tipos de inimigo: são os Estados 'revisionistas' e 'párias'", escreve Mirzayan.
Os outros dois inimigos — "as ditaduras da Coreia do Norte e Irã" — não podem ser considerados como respeitáveis por suas caraterísticas, por isso, na teoria da doutrina são chamados de "Estados párias". Estes países, de acordo com os EUA, "desestabilizam premeditadamente suas regiões, ameaçam os norte-americanos e seus aliados e maltratam sua população". O Irã foi também destacado como o principal culpado da ausência de prosperidade e ordem na região e de "patrocinador de terrorismo".
O principal rival
"No entanto, os EUA nos últimos anos não demostraram essa sabedoria. Tudo resultou no impasse do envolvimento, e a nova estratégia, considerando as ações excessivas do executor como falha de todo o conceito, afirma que essa teoria tem que ser reconsiderada", destaca o analista.
Para ela, os inimigos dos EUA usaram a "doutrina de envolvimento" para acumular poder, modernizar a economia e forças armadas, mas não mudaram sua relação negativa em relação a Washington, por isso tem que se alterar a referida fórmula.
A China é posicionada como o principal rival dos EUA (o país é mencionado 26 vezes) em quase todas as regiões, enquanto a Rússia apenas foi mencionada 17 vezes. O que é bom, aponta o analista, porque ser o "principal rival" exige muito dinheiro.
De forma tola, mas poderosa
Então, como é que os EUA vão enfrentar as ameaças indicadas na nova doutrina? Para Gevorg Mirzayan, será "de forma tola, mas poderosa".
Em primeiro lugar, a confrontação será total. A estratégia proclama o mundo como "arena de rivalidade permanente" e afirma que os EUA não vão dividir o mundo nos que estão com eles em guerra e nos que não estão.
A nova estratégia justifica assim as ações preventivas dos EUA contra os "inimigos nomeados" adverte o analista. Depois dessas linhas e sublinhados, é bem provável que muitos "inimigos potencias" dos EUA escolham um caminho de mísseis e armas nucleares como o de Pyongyang.
Vale destacar que sob "ameaça contra os interesses dos EUA" se pressupõe qualquer demonstração de soberania. No entanto, resume o autor, a história da Coreia do Norte mostra que contra um país realimente soberano não se pode usar a posição de força, isso é simplesmente inútil, mesmo que o inimigo dos EUA seja incomparavelmente mais fraco.