Como 'vela nuclear' dos EUA pode mergulhar Ucrânia em catástrofe radioativa?

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O projeto da empresa Terra Power, financiada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates, para a construção de um reator nuclear ucraniano de "onda viajante", muitas vezes chamado de "vela nuclear", não corresponde aos requerimentos de segurança e cria uma grande ameaça para o país, afirmou à Sputnik um especialista em energia atômica.

A Terra Power está construindo um reator nuclear de "onda viajante" (TRW — traveling wave reactor). O respectivo fenômeno físico se chama assim porque, de acordo com o projeto, a reação nuclear nesta instalação decorrerá em uma região muito limitada da zona ativa, que se move gradualmente, ou seja, se comporta como uma onda. De fato, pelo seu funcionamento o reator é parecido com uma vela se queimando.

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Mais cedo, foi comunicado que as empresas Microsoft, Google, Tesla e a companhia de Elon Musk, Space X, tinham alcançado um acordo sobre o início das obras de construção do primeiro modelo experimental de um reator nuclear baseado em "onda viajante". Também foi divulgado que se planeja construir este reator em território ucraniano.

Prioridade soviética

"Ainda nos primórdios do projeto de ‘onda viajante', há mais de 10 anos, seus fundadores prestaram homenagem, o que não acontece frequentemente, à pessoa que foi a primeira a propor esta ideia tecnológica. Eu estou falando do conhecido físico soviético Savely Feinberg […] Nos finais dos anos 50, Feinberg discursou em uma das conferências científicas em Genebra e falou publicamente sobre a sua ideia de criar um reator de 'onda viajante', que depois recebeu o nome de 'vela nuclear'", disse à Sputnik o especialista russo em energia atômica e supervisor científico do projeto Proryv ("Avanço", em russo) da empresa estatal Rosatom.

De acordo com ele, do posterior desenvolvimento do conceito de "onda corrente" participaram especialistas destacados, inclusive o criador das armas termonucleares, Edward Teller, nos EUA.

"É interessante que atualmente Bill Gates reuniu uma equipe de cientistas muito forte para realizar o projeto. Devemos dar muito valor à sua equipe, pois ela inclui especialistas de Laboratórios Nacionais dos EUA, de Livermore, Los Alamos. A participação de Elon Musk desse projeto, ademais, significa um reforço sério do projeto na parte de engenharia. Ou seja, os especialistas que se ocupam juntos desse projeto são de mais alta categoria", adiantou.

Questões de segurança

Adamov esclareceu por que a realização prática da ideia que nasceu mais de 50 anos atrás se deu apenas hoje, e ainda por cima no estrangeiro.

"Acho que uma das razões é a consciência, ganha nos últimos anos, que na indústria de energia atômica comum têm se desenvolvido problemas sérios. O período anterior foi marcado por toda uma série de questões não resolvidas, em primeiro lugar relacionadas com a segurança da geração nuclear", assegurou Adamov.

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"Sabemos bem que houve acidentes graves com reatores e em depósitos de resíduos radioativos, bem como nos de combustível nuclear gasto, primeiro nos EUA, depois no Reino Unido, na URSS, em seguida no Japão. Entre outros problemas está a grande acumulação de combustível nuclear usado e de resíduos radioativos. Ademais, o potencial de energia nuclear usando apenas urânio-235 é bastante limitado e não se compara com o uso de outras fontes de energia. Será apenas com a transição para os reatores de nêutrons rápidos que obteremos a oportunidade de usar completamente o urânio e a situação mudará drasticamente: em teoria, a energia atômica poderá suprir todas as necessidades energéticas, deixando os recursos orgânicos para uso não energético", ressaltou o especialista russo.

Segundo Adamov, a produção atômica na URSS também se ocupou destes dilemas.

"Por isso, a primeira coisa que me vem à cabeça quando eu recordo o projeto de Bill Gates é a semelhança das nossas posições iniciais. Ou seja, o entendimento comum de que tem um conjunto de problemas na energia nuclear cuja resolução é vital. Depois, começam surgindo as diferenças, porque nós analisamos a ideia de construir um reator de ‘onda viajante' ainda no início da década de 90, quando a indústria atômica do país desenvolvia o conceito de transição para uma nova plataforma tecnológica de energia nuclear", frisou Adamov.

"Nós entendemos as limitações baseadas no fato de a tecnologia de ‘onda viajante' não resolver por completo o problema de segurança. Ademais, não propõe nenhuma solução para o problema dos resíduos radioativos e do combustível nuclear gasto, além do problema da não proliferação", explicou o cientista.

Além disso, esta ideia tem simplesmente grandes limitações tecnológicas, acrescentou.

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"Particularmente, ainda não foram criados materiais que sejam capazes de funcionar nas condições de uma radiação gama e de nêutrons tão forte como a que supostamente existirá neste reator, nem sequer existem perspectivas para a criação de tais materiais", esclareceu.

Ameaça radioativa para Ucrânia

Adamov destacou que o projeto do reator não pressupõe a reciclagem dos materiais radioativos.

"Eles querem enterrá-los. Nos EUA, isso não se pode fazer, na China, onde eles celebraram um contrato para construir tal reator, também não acordaram enterrá-los. Enquanto isso, a Ucrânia é, de acordo com a mídia, um lugar ótimo para desenvolver lá laboratórios bacteriológicos e químicos. Por que não usar o território ucraniano para aí enterrar os materiais físseis e radioativos que representam uma ameaça radiológica?", expressou.

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