A Terra Power está construindo um reator nuclear de "onda viajante" (TRW — traveling wave reactor). O respectivo fenômeno físico se chama assim porque, de acordo com o projeto, a reação nuclear nesta instalação decorrerá em uma região muito limitada da zona ativa, que se move gradualmente, ou seja, se comporta como uma onda. De fato, pelo seu funcionamento o reator é parecido com uma vela se queimando.
Prioridade soviética
"Ainda nos primórdios do projeto de ‘onda viajante', há mais de 10 anos, seus fundadores prestaram homenagem, o que não acontece frequentemente, à pessoa que foi a primeira a propor esta ideia tecnológica. Eu estou falando do conhecido físico soviético Savely Feinberg […] Nos finais dos anos 50, Feinberg discursou em uma das conferências científicas em Genebra e falou publicamente sobre a sua ideia de criar um reator de 'onda viajante', que depois recebeu o nome de 'vela nuclear'", disse à Sputnik o especialista russo em energia atômica e supervisor científico do projeto Proryv ("Avanço", em russo) da empresa estatal Rosatom.
De acordo com ele, do posterior desenvolvimento do conceito de "onda corrente" participaram especialistas destacados, inclusive o criador das armas termonucleares, Edward Teller, nos EUA.
"É interessante que atualmente Bill Gates reuniu uma equipe de cientistas muito forte para realizar o projeto. Devemos dar muito valor à sua equipe, pois ela inclui especialistas de Laboratórios Nacionais dos EUA, de Livermore, Los Alamos. A participação de Elon Musk desse projeto, ademais, significa um reforço sério do projeto na parte de engenharia. Ou seja, os especialistas que se ocupam juntos desse projeto são de mais alta categoria", adiantou.
Questões de segurança
Adamov esclareceu por que a realização prática da ideia que nasceu mais de 50 anos atrás se deu apenas hoje, e ainda por cima no estrangeiro.
"Acho que uma das razões é a consciência, ganha nos últimos anos, que na indústria de energia atômica comum têm se desenvolvido problemas sérios. O período anterior foi marcado por toda uma série de questões não resolvidas, em primeiro lugar relacionadas com a segurança da geração nuclear", assegurou Adamov.
Segundo Adamov, a produção atômica na URSS também se ocupou destes dilemas.
"Por isso, a primeira coisa que me vem à cabeça quando eu recordo o projeto de Bill Gates é a semelhança das nossas posições iniciais. Ou seja, o entendimento comum de que tem um conjunto de problemas na energia nuclear cuja resolução é vital. Depois, começam surgindo as diferenças, porque nós analisamos a ideia de construir um reator de ‘onda viajante' ainda no início da década de 90, quando a indústria atômica do país desenvolvia o conceito de transição para uma nova plataforma tecnológica de energia nuclear", frisou Adamov.
"Nós entendemos as limitações baseadas no fato de a tecnologia de ‘onda viajante' não resolver por completo o problema de segurança. Ademais, não propõe nenhuma solução para o problema dos resíduos radioativos e do combustível nuclear gasto, além do problema da não proliferação", explicou o cientista.
Além disso, esta ideia tem simplesmente grandes limitações tecnológicas, acrescentou.
Ameaça radioativa para Ucrânia
Adamov destacou que o projeto do reator não pressupõe a reciclagem dos materiais radioativos.
"Eles querem enterrá-los. Nos EUA, isso não se pode fazer, na China, onde eles celebraram um contrato para construir tal reator, também não acordaram enterrá-los. Enquanto isso, a Ucrânia é, de acordo com a mídia, um lugar ótimo para desenvolver lá laboratórios bacteriológicos e químicos. Por que não usar o território ucraniano para aí enterrar os materiais físseis e radioativos que representam uma ameaça radiológica?", expressou.