Uma estudante chinesa de 19 anos quis se suicidar depois de se ter endividado em mais de 230 mil yuanes (cerca de R$ 115 mil) a empresas de microfinanças para comprar um iPhone. A história começou com seu desejo de comprar um iPhone 6 Plus, mas lhe faltavam cerca de 12 mil yuanes (cerca de seis mil reais). A jovem decidiu pedir o dinheiro que faltava a uma empresa que ofereceu o empréstimo em 15 minutos sem fiança, informou o portal.
Um pouco de história
Tradicionalmente, na China, considerava-se vergonhoso ter dívidas e pedir empréstimos, mas tudo mudou quando a geração dos anos 90 entrou no mercado. Antes, as pessoas poupavam mais do que gastavam, mas agora a norma mudou e os jovens preferem gastar muito mais que seus pais. Esta tendência foi observada em meados da década de 2000 e as instituições financeiras não hesitaram em se aproveitar da situação concedendo cartões de crédito aos estudantes. O resultado foi rápido e, apenas em alguns anos, o volume de compras feitas através de cartões de crédito duplicou. Entretanto, a euforia não durou muito e, em 2009, o Banco Popular da China (o banco central do país) proibiu a emissão de cartões de crédito para estudantes que não tenham fonte de renda.
Naquele período, as instituições microfinanceiras ainda eram consideradas pelo governo da China como um bom instrumento na luta contra a pobreza. E isso era lógico se tomarmos em conta a experiência do Bangladesh, onde, nos anos 70, o economista Muhammad Yunus, ao ver como as pessoas locais eram vítimas de credores, decidiu oferecer-lhes dinheiro de seu próprio bolso para protegê-los dos abusos. Em 2006, foi galardoado com o Prêmio Nobel da Paz por seu mecanismo de luta contra a pobreza.
Em 2015, na China foi publicada o Programa de Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2016-2020, no qual os microcréditos receberam um grande papel na luta contra a pobreza e estimulação do aumento da qualidade de vida da população rural.
Entretanto, em 2016 ocorreu um escândalo com a maior plataforma financeira, Ezubao, que resultou ser a maior pirâmide financeira registrada no país, que roubou cerca de oito bilhões de dólares (cerca de R$ 25 bilhões) a quase um milhão de pessoas.
'Tubarões' do microcrédito
Hoje em dia, na China existem mais de seis mil instituições de microfinanças. Entretanto, essas instituições começaram a usar métodos agressivos para exigir a devolução do dinheiro, especialmente a intimidação. Por exemplo, o jornal chinês Southern Metropolis informou que alguns credores exigiam uma fotografia de seus clientes nus, junto com o cartão de identificação, como requisito para entregar o dinheiro, com o aviso de que as fotos seriam publicadas se o crédito não fosse amortizado no tempo.
Por um lado, qualquer pessoa pode solicitar um microcrédito sem fiança, mas, por outro lado, as empresas exigem uma grande quantidade de dados pessoais do cliente, o que facilita, levando em conta as possibilidades da tecnologia moderna, as violações dos direitos ligados à cobrança de dívidas, além de criar tensão social e elevar o problema a nível nacional.
É claro que todas essas medidas são estabelecidas para proteger os direitos dos consumidores, mas ao mesmo tempo constituem um grave problema para as instituições microfinanceiras, poucas delas – apenas as mais importantes – conseguirão superar este novo período.