iPhone ao preço da vida: como China tenta se salvar de microcréditos

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O portal do centro Carnegie em Moscou analisou a situação difícil com os microcréditos na China e como o governo do país tenta melhorar o controle no campo de empréstimos e microcréditos a pessoas singulares.

Uma estudante chinesa de 19 anos quis se suicidar depois de se ter endividado em mais de 230 mil yuanes (cerca de R$ 115 mil) a empresas de microfinanças para comprar um iPhone. A história começou com seu desejo de comprar um iPhone 6 Plus, mas lhe faltavam cerca de 12 mil yuanes (cerca de seis mil reais). A jovem decidiu pedir o dinheiro que faltava a uma empresa que ofereceu o empréstimo em 15 minutos sem fiança, informou o portal.

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Aconteceu que, além do dinheiro emprestado à taxa de juro anual de quase 40%, ela foi obrigada a pagar quatro mil yuanes (mais de dois mil reais) por "serviços de secretariado". Ao entender que ela não poderia se livrar da dívida, a jovem recorreu a um novo empréstimo para amortizá-lo, e assim por diante por várias vezes. Finalmente, os pais da menina tiveram que gastar todas as suas poupanças para salvar sua filha e pagar suas dívidas, mas ainda faltavam 60 mil yuanes (R$ 30 mil).

Um pouco de história

Tradicionalmente, na China, considerava-se vergonhoso ter dívidas e pedir empréstimos, mas tudo mudou quando a geração dos anos 90 entrou no mercado. Antes, as pessoas poupavam mais do que gastavam, mas agora a norma mudou e os jovens preferem gastar muito mais que seus pais. Esta tendência foi observada em meados da década de 2000 e as instituições financeiras não hesitaram em se aproveitar da situação concedendo cartões de crédito aos estudantes. O resultado foi rápido e, apenas em alguns anos, o volume de compras feitas através de cartões de crédito duplicou. Entretanto, a euforia não durou muito e, em 2009, o Banco Popular da China (o banco central do país) proibiu a emissão de cartões de crédito para estudantes que não tenham fonte de renda.

Naquele período, as instituições microfinanceiras ainda eram consideradas pelo governo da China como um bom instrumento na luta contra a pobreza. E isso era lógico se tomarmos em conta a experiência do Bangladesh, onde, nos anos 70, o economista Muhammad Yunus, ao ver como as pessoas locais eram vítimas de credores, decidiu oferecer-lhes dinheiro de seu próprio bolso para protegê-los dos abusos. Em 2006, foi galardoado com o Prêmio Nobel da Paz por seu mecanismo de luta contra a pobreza.

Em 2015, na China foi publicada o Programa de Desenvolvimento do Sistema Financeiro 2016-2020, no qual os microcréditos receberam um grande papel na luta contra a pobreza e estimulação do aumento da qualidade de vida da população rural.

Entretanto, em 2016 ocorreu um escândalo com a maior plataforma financeira, Ezubao, que resultou ser a maior pirâmide financeira registrada no país, que roubou cerca de oito bilhões de dólares (cerca de R$ 25 bilhões) a quase um milhão de pessoas.

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A Comissão Reguladora Bancária da China emitiu novas regras rigorosas de funcionamento de tais plataformas como a Ezubao, incentivando o desenvolvimento das instituições de microfinanças. Tudo isso levou a um grande crescimento no consumo, tão desejado pelo governo da China.

'Tubarões' do microcrédito

Hoje em dia, na China existem mais de seis mil instituições de microfinanças. Entretanto, essas instituições começaram a usar métodos agressivos para exigir a devolução do dinheiro, especialmente a intimidação. Por exemplo, o jornal chinês Southern Metropolis informou que alguns credores exigiam uma fotografia de seus clientes nus, junto com o cartão de identificação, como requisito para entregar o dinheiro, com o aviso de que as fotos seriam publicadas se o crédito não fosse amortizado no tempo.

Por um lado, qualquer pessoa pode solicitar um microcrédito sem fiança, mas, por outro lado, as empresas exigem uma grande quantidade de dados pessoais do cliente, o que facilita, levando em conta as possibilidades da tecnologia moderna, as violações dos direitos ligados à cobrança de dívidas, além de criar tensão social e elevar o problema a nível nacional.

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As novas regras foram elaboradas para pôr fim a todos esses riscos. De acordo com os dados publicados, a taxa de juros anual não pode agora exceder 36%; é proibido conceder empréstimos a pessoas que não têm renda fixa, como estudantes ou desempregados; as instituições devem avaliar cuidadosamente a capacidade de pagamento dos clientes. As atividades dos cobradores de dívidas também foram limitadas, e agora eles não podem intimidar os devedores e intervir em sua vida privada.

É claro que todas essas medidas são estabelecidas para proteger os direitos dos consumidores, mas ao mesmo tempo constituem um grave problema para as instituições microfinanceiras, poucas delas – apenas as mais importantes – conseguirão superar este novo período.

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