Desde os alicerces
A guerra na Síria começou em março de 2011 na onda da Primavera Árabe. Os manifestantes exigiam o afastamento do poder do presidente Bashar Assad, causando desordens em massa e transformando as perturbações em um conflito armado de grande escala.
Em 30 de setembro de 2015, a pedido do presidente sírio, Bashar Assad, a Rússia começou a efetuar ataques aéreos contra as posições dos terroristas na Síria utilizando a Força Aeroespacial, o que obrigou a oposição a iniciar negociações de paz.
Em 14 de março de 2016, o presidente russo, Vladimir Putin, mandou retirar as principais forças russas da República Árabe, mantendo os pontos de permanência naval em Tartus e aéreo em Hmeymim para garantir a segurança.
O dia 11 de dezembro de 2017 marcou o fim da operação antiterrorista. Neste dia Putin desembarcou na base aérea russa em Hmeymim e ordenou o início de retirada das tropas russas da Síria para seus pontos de posicionamento permanente.
Libertação de Aleppo
O mês de dezembro do ano passado ficou marcado pela libertação de Aleppo, a segunda cidade mais importante economicamente, depois de Damasco, que permitia controlar o norte do país, as regiões fronteiriças com a Turquia onde vivem os curdos e o território do noroeste do Iraque.
No decorrer da operação, a Força Aeroespacial da Rússia efetuou uma série de bombardeamentos e ataques com mísseis de cruzeiro contra as posições dos terroristas no noroeste da Síria.
A libertação de Aleppo minou a base econômica dos terroristas e suspendeu os fluxos de militantes a Raqqa, a chamada capital do Daesh.
Logo na cidade foram introduzidos os especialistas do Centro Internacional Anti-Minas para a desminagem do território, bem como unidades da Polícia Militar da Rússia a fim de garantir a ordem em Aleppo e fornecer assistência ao governo sírio.
De Aleppo a Deir ez-Zor
Já em janeiro de 2017, o contingente russo começou a se reduzir. Ao mesmo tempo, em Astana, Cazaquistão, realizaram-se negociações entre a delegação da oposição armada e os representantes de Damasco oficial com mediação da Rússia, Turquia e Irã e que continuam em curso hoje em dia.
A Rússia também apresentou um projeto da futura constituição síria e, junto com a China, apoiou a Síria durante a votação no Conselho de Segurança da ONU, vetando a resolução que visava impor sanções à Síria por alegado uso de armas químicas. Mais tarde, a Rússia apresentou provas na Organização para a Proibição de Armas Químicas de que o ataque químico foi falsificado.
Em março de 2017, o exército sírio restaurou o controle completo sobre a cidade antiga de Palmira e, em maio do mesmo ano, a Rússia, Irã e Turquia acordaram as quatro zonas de desescalada na Síria durante as negociações regulares em Astana.
Depois da libertação da província de Aleppo em agosto de 2017, cerca de 85% do território sírio foram libertados dos terroristas. Posteriormente, o exército sírio rompeu o cerco de três anos da cidade de Deir ez-Zor, as cidades de Raqqa e Al-Bukamal foram limpas dos terroristas.
Ao final, em 11 de dezembro, Vladimir Putin mandou efetuar a retirada das tropas russas da Síria. De acordo com o presidente, os militares russos cumpriram sua tarefa brilhantemente, mostraram coragem, heroísmo e determinação e regressam para junto de seus familiares com a vitória.
A Rússia cumpriu também suas promessas de fornecimento de armamentos e equipamentos militares ao governo sírio, bem como de treinar militares do país em crise. A base aérea em Hmeymim e o posto de manutenção técnica e abastecimento da Marinha russa em Tartus continuarão funcionando. Além disso, a Síria conta com o Centro de Reconciliação russo em seu território e três batalhões da Polícia Militar.
Avanços, tarefas anunciadas e cumpridas
Além da Força Aeroespacial da Rússia, na Síria foi empregado o potencial da Marinha russa e das Forças das Operações Especiais transferidas para lá em 2015. Pela primeira vez, a Rússia decidiu posicionar a Polícia Militar no exterior.
Em geral, os militares russos testaram cerca de 600 unidades de armas e material militar. Uma atenção especial foi prestada às armas novas para verificação de possíveis falhas e seu posterior aperfeiçoamento. Em particular, durante a operação foram submetidos à prova os sistemas de mísseis Iskander, Bastion e Kalibr, mísseis de cruzeiro Kh-101, dando assim um impulso à indústria militar russa.
A campanha militar também tem para a Rússia uma importância política. O resultado mais óbvio dela é o reforço das posições do presidente sírio Bashar Assad e das da Rússia como intermediário nas negociações de paz quanto à questão síria.
A posição geopolítica da Rússia se tornou mais sólida, em especial nas relações com a Síria, Líbano, Iraque e Irã. O último recebeu finalmente os complexos de defesa antiaérea russos S-300.
O segundo objetivo foi salvar a Síria como Estado, não o próprio Bashar Assad, mas a Síria como Estado laico. Acima de tudo, Moscou conseguiu parar o processo da Primavera Árabe no país, que não levaria à liberalização, mas sim, à radicalização ou até à desintegração.
A terceira finalidade – proteção da Rússia dos terroristas e ideias radicais – por enquanto foi cumprida parcialmente, porque a própria guerra ainda não acabou. A derrota completa do Daesh pode levar algum tempo.
Finalmente, não foi ainda resolvido o problema curdo, e há de ser lançado um processo abrangente de estabilização pós-guerra, o que exigirá esforços persistentes e minuciosos tanto por parte dos serviços especiais e militares, como dos diplomatas.