Dos 28 países integrantes da União Europeia, 25 apoiaram o projeto. Só o Reino Unido, Dinamarca e Malta não aderiram à iniciativa.
Assim, os antigos planos da UE de criar seu próprio exército parece que deram um passo para se tornarem reais.
Quais são os motivos para a criação do novo programa e como a PESCO e a OTAN podem coexistir em se tratando da defesa europeia?
Evitando nova 'comédia de erros'
Vale destacar que nos planos do programa está o aperfeiçoamento da logística e infraestrutura militar dos países europeus. Ele é o resultado de várias falhas de projetos conjuntos da OTAN. Assim, durante as manobras Saber Strike, as tropas da Aliança Atlântica deveriam se deslocar da parte ocidental da Europa à oriental. A transferência ocorreu com muita confusão, que a edição Bloomberg qualificou como "comédia de erros".
Eventos curiosos também vieram à tona. Por exemplo, no meio dos treinamentos foi revelado que vários tanques falharam em atravessar certas pontes, uma vez que estas poderiam não suportar seu peso.
É por isso que entre as primeiras iniciativas do novo projeto está prevista a conciliação das leis quanto à facilitação do transporte de soldados e equipamento bélico através das fronteiras. É evidente que este assunto é mais fácil de resolver dentro da Europa que a nível intercontinental.
Além disso, a própria ideia da criação de um exército europeu não é nova, já que a unificação da Europa se iniciou com o projeto da Comunidade Europeia de Defesa. Embora esta iniciativa não tivesse sido realizada, a ideia continuou ocupando as mentes dos líderes europeus. É bem conhecido que o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é um antigo apoiador da criação dos "Estados Unidos da Europa". É óbvio, que tal estrutura tem de ser capaz de assegurar plenamente sua própria defesa.
Alternativa à OTAN?
Em novembro, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou que a Aliança Atlântica apoia o reforço do potencial militar da União Europeia.
"Eu saúdo esta decisão, já que acredito que ela contribui para o reforço da defesa europeia. É bom para a Europa, bem como para a OTAN", assinalou Stoltenberg.
Contudo, outros veem o novo programa como uma provável alternativa à Aliança. A edição britânica The Times assinalou que os países da UE estão tentando substituir a OTAN: "A separação entre a Alemanha e os EUA continua e já abrange não só o espaço econômico e político, mas também o espaço militar."
Ou seja, a Europa vem elaborando um sistema que no futuro vai levantar a questão de desnecessidade da Aliança, bem como a presença militar dos EUA na Europa.
Vale destacar também, que o processo de afastamento da União Europeia da OTAN já começou fazendo com que os países europeus ganhem mais independência e resistam às tentativas de serem controlados por parte dos EUA.
Assim, as negociações entre a UE e os EUA quanto ao Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (mais conhecido como TTIP), que deveriam ter sido concluídas ainda em 2014, fracassaram. O vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, explicou que europeus não desejam aceitar as exigências norte-americanas:
"De fato, as negociações com os EUA fracassaram porque nós, os europeus, não desejamos obedecer às exigências estadunidenses."
Um passo pequeno para uma ideia ambiciosa?
Não é surpreendente que os veículos da mídia mais influentes dos EUA se apressaram a qualificar o programa europeu como ilusório. Entre elas está The National Interest, que publicou um artigo intitulado "Um passo em direção a uma má ideia: o exército europeu".
"A PESCO parece ser grande em promessas e fanfarras, mas é pouco provável que ela consiga contribuir muito para o fortalecimento das capacidades militares [da Europa]. O projeto não vai aumentar os gastos com defesa. Na verdade, pode fazer com que algumas nações europeias gastem menos com ela. A única coisa que a PESCO é capaz de fazer é criar uma barreira de burocracia adicional da UE", escreveu o autor do artigo.
Contudo, é preciso levar em consideração que por enquanto trata-se de apenas um programa de colaboração no campo de defesa que foi lançado há pouco. Sabe-se que nem todas as iniciativas da União Europeia foram completamente realizadas, outras falharam de todo, mas o projeto tem perspectivas ambiciosas.
Talvez, tal como outras iniciativas no campo de defesa, que tradicionalmente se "atrasam" em relação à colaboração econômica entre os países europeus, a PESCO poderia enfrentar vários obstáculos, tanto internos como externos, já que a OTAN não aceitaria facilmente a competição.
Aparentemente, o sucesso do projeto vai depender de vários fatores, inclusive da vontade política dos líderes europeus e dos recursos com que eles podem contribuir para a realização do planejado.