As duas Coreias realizaram negociações diretas pela primeira vez em dois anos. O presidente Trump não demorou a tentar se apropriar deste êxito. No entanto, os passos para o diálogo foram empreendidos não graças ao presidente dos EUA, mas a despeito dele.
Sem mediadores
Apesar de o líder norte-americano dizer que é um mérito dele, as negociações diretas entre as Coreias foram, pelo contrário, uma manobra dirigida contra Washington, considera o presidente do Centro de Comunicações Estratégicas, Dmitry Abzalov.
"Isto formou uma imagem negativa de Donald Trump. Kim Jong-un, se dando conta disso, passou à ‘ofensiva pacífica', deixando os EUA mal vistos", opina o ex-diretor do Instituto sul-coreano para Reunificação das Coreias, Song Gye-un.
A política da Casa Branca se reduzia, de fato, afirma Abzalov, a acabar totalmente com o diálogo entre duas Coreias. O fato de Seul e Pyongyang terem conseguido encontrar um jeito de negociar mostra muito claramente que a política dos EUA nesta área foi ineficaz e fracassou.
"A Coreia do Sul realizou negociações diretas, sem mediadores, sem a participação dos EUA. Seul se apresentou como jogador autossuficiente e isso é plenamente justificado, pois, em caso de conflito, a Coreia do Sul sofrerá pouco menos do que a Coreia do Norte. E Washington praticamente foi posto de parte, o que resta a Trump é apenas saudar o restabelecimento do diálogo intercoreano", frisa Dmitry Abzalov.
Peso das sanções e cisões familiares
A Coreia do Norte superou a pressão dos EUA, mas a que preço?— perguntam os colunistas da Sputnik Vladimir Ardaev e Andrei Olfert. Para Song Gye-un, os passos de Kim Jong-un rumo ao diálogo são forçados, porque o líder norte-coreano espera a atenuação das sanções.
Durante as negociações em Panmunjom as delegações acordaram em restabelecer a linha de comunicação entre os militares e realizar consultas para diminuir a tensão, bem como a continuação de consultas de alto nível, o reinício do diálogo na área humanitária e esportiva. Durante os Jogos Olímpicos de inverno, Seul concordou em suspender uma série de restrições e iniciar passos correspondentes no Conselho de Segurança da ONU.
Mas houve temas em que não se chegou a consenso. Entre eles, a desnuclerização da península foi um dos assuntos que a parte norte-coreana simplesmente ignorou. Vale lembrar que Kim Jong-un declarou várias vezes que a Coreia do Norte nunca deixará de desenvolver e reforçar seu potencial nuclear. Para ele, na opinião de todos os analistas, as armas nucleares são a garantia mais sólida da segurança do país.
Ainda não se sabe se será alcançado um compromisso quanto aos encontros entre familiares, dadas as condições que Pyongyang apresenta. Os especialistas têm diversos pontos de vista em relação ao assunto: uns dizem que o encontro exige muitos recursos financeiros e, se Seul acordar cobrir os gastos, Pyongyang pode aprovar a realização do encontro; outros, ao contrário, acreditam que isso é pouco provável.
O mais importante, segundo analistas, é que, mesmo depois dos Jogos Olímpicos de inverno, a Coreia do Norte continuará as negociações e se focará no desenvolvimento da cooperação econômica com os países parceiros nos diversos projetos energéticos e ferroviários.