'Stop Soros': como governo húngaro 'expulsou' magnata da sua pátria

© REUTERS / Bernadett SzaboCartaz retrata George Soros com a frase "Não deixemos que Soros seja último a rir", na Hungria (foto de arquivo)
Cartaz retrata George Soros com a frase Não deixemos que Soros seja último a rir, na Hungria (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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A figura do bilionário norte-americano George Soros é uma das principais não só para os amantes de teorias de conspiração, mas também na política de globalismo na Europa e mais além ao longo das ultimas décadas. A Sputnik Brasil explica por que o famoso magnata foi "expulso" da Hungria e por que gera cada vez mais nervosismo em outros países.

Não é a primeira vez que o famoso "filantropo" fica no epicentro de escândalos internacionais. Em muitos países, inclusive nos da região do antigo bloco soviético, as atividades contínuas da fundação de Soros, Open Society (Sociedade Aberta), têm sido classificadas como intervenção nos assuntos internos.

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Porém, se em alguns países tal suposição não passa de um protesto de certos políticos, na Hungria acabou por ser um dos pilares do partido governante. Saiba como o premiê do país conseguiu pôr fim à "doença globalista" alastrada por Soros por todo o continente europeu.

Não deixemos que Soros seja o último a rir

Apesar de o próprio Soros ter nascido na Hungria, nunca foi bem recebido em seu país de origem. A situação se agravou ainda nos últimos anos, com a chegada ao poder do partido Fidesz presidido por Viktor Orban, culminando com a recente ordem de fechar a representação da Open Society, aberta desde 1984, em Budapeste.

A "cruzada" contra Soros na Hungria foi reforçada nos últimos dois anos, com a simultânea reentrada de ideias cada vez mais conservadoras na agenda do governo. Foi aí que a ideologia neoliberal do magnata estadunidense entrou em conflito com a política de "tradicionais valores cristãos da Europa", declarada pelo partido de Orban.

Um dos principais pomos de discórdia nessa briga se trata da questão migratória, assunto amplamente usufruído na campanha eleitoral do Fidesz nas vésperas das legislativas que se deram em abril do ano corrente. Assim, um dos lemas desta força política ao longo da corrida foi "Não deixemos que Soros seja o último a rir".

Enquanto George Soros manifesta expressamente seu apoio à Europa aberta para migração, Orban e seus apoiadores fazem questão de relembrar a crise dos refugiados dos anos 2015-2016, alarmando contra a possível erosão da identidade nacional e cultural na sequência do respectivo fluxo de pessoas da África e Oriente Médio.

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Para promover suas ideias, no ano passado o parlamento húngaro adotou uma lei sobre os "agentes estrangeiros", o que dificultou bastante o funcionamento de organizações não governamentais patrocinadas do exterior. Já nesse ano, os deputados apresentaram novo pacote de várias leis batizado como "Stop Soros", atacando diretamente seu principal rival ideológico.

Em resultado disso, ontem (15) a fundação comunicou sobre a transferência da sua sede húngara para Berlim, citando como razão a "pressão" exercida pelas autoridades. Ao mesmo tempo, a entidade prometeu continuar suas atividades através de outras ferramentas e parcerias.

Que ideias Soros promove?

Ao longo da sua vida, George Soros ficou conhecido como apoiador das ideias do globalismo e neoliberalismo, inclusive do conceito dos Estados Unidos da Europa. É nomeadamente nisso que reside sua relutância em aceitar o Brexit, a saída britânica da União Europeia, e os governos europeus cujo foco principal é a soberania nacional e não intervenção por parte de entidades e países alheios.

Outra ideia promovida pelo magnata são as portas abertas europeias para recebimento de migrantes. Assim, Soros supôs que a Europa possa aceitar um milhão de refugiados anualmente, junto com a criação de um centro migratório unido para todo o continente.

Aqueles que compreendem Soros como um "agente dos EUA" veem essa iniciativa como uma tentativa de facilitar a condução das campanhas estadunidenses no Oriente Médio. É evidente que a população da região afetada pelos conflitos armados incessantes tem poucas resoluções a seu dispor: ora fugir, ora se integrar às fileiras dos radicais.

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Neste contexto, uma perspectiva de "enviar" os cidadãos carentes para a distante Europa sem que as organizações terroristas cresçam com novos membros é uma chance para "matar dois coelhos com uma cajadada só" para Washington.

Entretanto, há também quem evite chamar Soros de "agente" estadunidense. Para eles, o magnata simplesmente professa as ideias próximas ao Partido Democrata, mas na realidade é apenas "fanático" filantrópico que não poupa dinheiro para alastrar suas crenças. Contudo, parece que muitos países que vivenciaram a "herança" de Soros duvidam desta teoria.

Protesto cada vez mais forte ao redor do mundo

Segundo indicam especialistas, ao longo das últimas duas décadas Soros passou a se focar mais nos países do Leste Europeu, tais como a República Tcheca, a Eslováquia, a Sérvia e a Hungria, provavelmente por sua tendência crescente de manifestar os valores conservadores, não compatíveis com a linha globalista do magnata.

Por outro lado, Soros é amplamente conhecido por suas atitudes bem russófobas, em resultado de que as atividades do seu projeto foram restringidas na Rússia em 2015. Entretanto, vale ressaltar que na década de 90, quando na Rússia se criou certo vácuo político em busca de reformas liberais e democráticas, o magnata teve bastante sucesso com sua fundação. Por exemplo, com apoio da entidade estavam sendo publicados livros e manuais que ensinavam à criançada uma versão "certa" da história.

A mesma coisa com a proibição da Open Society aconteceu nas antigas repúblicas soviéticas, no Uzbequistão em 1997 e na Bielorrússia em 2004, por suas atividades "perigosas" à soberania nacional.

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Contra o bilionário se manifestam até os próprios americanos: em 2017, mais de 150 mil cidadãos dos EUA assinaram uma petição acusando Soros de cometer atos de "terrorismo" contra o Estado norte-americano, de tentar "desestabilizar" o país e de "suscitar rebeliões". O respectivo código teve a ver, particularmente, com o patrocínio grandioso que o magnata fez à campanha eleitoral democrata nas eleições presidenciais de 2016.

Outro rival de longa data de Soros é Israel, que acusa o bilionário de conduzir ações "que minam a própria existência do Estado judeu". O knesset, ou seja, o parlamento israelense, até passou a propor leis parecidas com as aprovadas recentemente na Hungria. Imagine só a escala da irritação israelense, dado que Soros tem de fato a descendência judia e sobreviveu ao Holocausto. Se o magnata é repudiado já até nos países de sua origem e residência, será que mais países virão logo para protestar?

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