Eventual compra de Su-57 por Ancara – blefe político ou queda da produção bélica dos EUA?

© Sputnik / Yevgeny Biyatov / Acessar o banco de imagensCaças russos Su-57 durante o Salão Internacional de Aviação MAKS 2017, em Moscou
Caças russos Su-57 durante o Salão Internacional de Aviação MAKS 2017, em Moscou - Sputnik Brasil
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É bem evidente que nos últimos anos a Rússia se está tornando um concorrente cada vez maior dos EUA no mercado global de armamentos, apesar de todas as medidas restritivas impostas por Washington. A Sputnik explica ao que se deve o interesse elevado dos aliados estadunidenses pelos equipamentos russos e como é a "guerra de armas" hoje em dia.

Uma nova escalada na confrontação russo-americana no respectivo campo se deu ontem, quando o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, anunciou planos de "satisfazer as necessidades em outro lugar", caso o contrato sobre os F-35 norte-americanos não seja concretizado como previsto. Enquanto isso, vários analistas se apressaram a propor que uma substituição adequada para os turcos pudesse ser o novo caça russo Su-57. A Sputnik Brasil falou com especialistas em assuntos militares para entender o que está por trás de tais declarações e descobrir se a Rússia na verdade pode ultrapassar os EUA nesta área, mesmo em sua própria "casa", isto é, na OTAN.

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Em primeiro lugar, é preciso entender por que é que Ancara passou a fazer tais declarações, se o acordo para a compra dos F-35, avião muitas vezes criticado por falhas técnicas, já existe.

A coisa é que a Turquia, mesmo sendo membro da OTAN, tenta evidentemente se assegurar para o caso de Washington acabar por sair unilateralmente do acordo por causa da compra pela Turquia de sistemas de mísseis russos S-400 Triumph e da exigência para acabar com essa compra.

"É preciso entender que, com as entregas de S-400 à Turquia, se está travando uma chamada guerra de informações. De vez em quando […] aparece tal tipo de insinuações, em primeiro lugar por parte dos EUA e seus aliados, para que a Turquia descarte sua decisão", frisa o especialista em assuntos militares e diretor comercial do jornal Arsenal Otechestva, Aleksei Leonkov.

Ao mesmo tempo, isto bem parece uma espécie de "blefe" por parte do Pentágono, pois estes dois armamentos — os F-35 e o S-400 — não são substituíveis mutuamente e desempenham papéis completamente diferentes.

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"Se olharmos para estes dois sistemas — o sistema de aviação e o sistema de defesa antiaérea — eles cumprem tarefas diferentes. Primeiro, o F-35 é um sistema de ataque, é um avião que deve ser usado em ofensiva; é por isso que o dotam de caraterísticas furtivas, para que ele possa chegar inesperadamente até ao inimigo e usar os armamentos que tem a bordo. Já o sistema de defesa antiaérea [S-400] é, em primeiro lugar, um sistema defensivo que deve defender um objetivo ou um território que ele esteja protegendo", explicou Leonkov.

Nesse contexto, o país precisa garantir não só suas capacidades de defesa, mas também de ataque, especialmente sabendo que a prometida entrega dos sistemas Patriot estadunidenses, de fato, não deu em nada e resultou na celebração de um acordo com os russos.

"Os americanos não foram longe nas suas promessas. Por isso, os turcos têm toda a consciência de que isso é apenas outro trote, outra bajulação, enquanto os S-400 são uma realidade", sublinhou.

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No entanto, parece que os turcos também não evitam a simulação em sua relação com a Casa Branca. A coisa é que, comentou o especialista militar à Sputnik Brasil, as exportações do novo avião russo de 5ª geração Su-57 são ainda uma perspectiva muito distante para ser anunciada, e Ancara obviamente que sabe disso.

"Hoje em dia, os Su-57 estão passando aqui pela chamada exploração de teste nas tropas, ou seja, foi produzido um lote pequeno destes aviões que hoje em dia segue sendo testado por nossos pilotos da Força Aeroespacial da Rússia para detectar todas suas vantagens e desvantagens, para ter em consideração isso tudo quando começar a produção em série", disse Leonkov à Sputnik.

Assim, antes que sejam terminadas todas essas etapas e o Su-57 seja posto em serviço pelo Ministério da Defesa da Rússia, estudado pelos pilotos e integrado completamente nas tropas russas, não se pode falar em qualquer tipo de exportações.

Isso, segundo o especialista, costuma levar uns cinco ou até dez anos.

"Claro que a Turquia responde aos EUA que preferia comprar os Su-57 em vez dos F-35, é uma espécie de jogo de informações", resumiu.

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Contudo, falando em perspectivas a longo prazo, muitos especialistas concordam que o Su-57 certamente seria uma melhor escolha para Ancara não só pelas suas capacidades de combate, mas também pelo preço. Foi isso que opinou o membro da Associação de Cientistas Políticos e Militares da Rússia, Andrei Koshkin, em uma conversa com a Sputnik.

"Hoje, com base na comparação… entre as caraterísticas de combate, preço e qualidade, claro que a Turquia se inclina mais para a compra dos Su-57 para aumentar o nível das suas Forças Armadas", disse, adiantando que nesta situação é indispensável levar em conta a possível pressão por parte dos norte-americanos, que pode influir na decisão final."

Em que resultará essa 'disputa' armamentista?

Atualmente, a confrontação no mercado de armamentos, que "sempre existiu e continuará a haver", parece ter entrado em uma fase nova. É sabido que, ao longo de muitas décadas, os EUA têm liderado esse espaço, virando de fato o único e principal fornecedor de armas a países de várias regiões de globo.

Para isso, sublinha Leonkov, apontam inclusive as estatísticas de todos os grandes centros de pesquisa, como as do instituto suíço SIPRI ou do IISS de Londres. Já a Rússia e a China, por sua vez, recentemente se mostraram como grandes concorrentes. Contudo, esta "concorrência" ainda está longe de ser verdadeira, assegura o primeiro interlocutor da Sputnik.

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"Caso fosse uma concorrência justa, poderíamos falar de algumas abordagens em pé de igualdade no que se trata das compras de armamentos. Mas, como sabemos, os norte-americanos aproveitam quaisquer medidas, inclusive de introdução de sanções contra as nossas empresas de produção bélica, o que dificulta nossas atividades de vendas militares. Apesar de eles estarem tentando criar obstáculos para nós, as vendas vão se realizando, mesmo de forma difícil", manifestou Leonkov, acrescentando que os norte-americanos estão criando uma "ilegalidade inédita" no mercado com suas tentativas de conter as exportações russas.

Um fator que joga a favor de Moscou nesse respeito, acredita o especialista, são as provas reais da eficiência dos armamentos russos — isto é, seu desempenho na Síria.

Enquanto isso, os equipamentos usufruídos pela coalizão internacional encabeçada pelos EUA, pelo contrário, demonstraram fragilidades, sofrendo problemas com a eliminação eficaz dos terroristas e em evitar mortes de civis durante as operações, como foi em Raqqa e Mossul.

De acordo com Leonkov, cada vez mais países ficam conscientes deste problema de dependência e pouca eficiência das armas norte-americanas e tentam encontrar parceiros novos. Alguns países, por sua vez, conseguiram entendê-lo antes que fosse tarde demais.

"Qualquer país entende isso. Vamos tomar o exemplo da Venezuela. Se não fossem os armamentos russos outrora comprados por Hugo Chávez, o país teria sofrido toda a ira americana e repetido o destino triste da Líbia", disse.

Já para Andrei Koshkin, o fato de até países da OTAN, da qual a Turquia faz parte, não só quererem importar, mas comprarem de fato armamentos russos, certifica uma espécie de erosão dentro do bloco.

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"Isto é a prova de uma divisão séria dentro da OTAN, de uma grave falta de obediência aos EUA por parte dos países-membros. […] Claro que isto é um duro golpe de caráter político para a OTAN, o que é constatado tanto por seus dirigentes quanto pelos dirigentes dos países-membros", ressaltou, citando como outro exemplo os sauditas que, embora não façam parte da Aliança Atlântica, sempre se consideraram como aliados fortes de Washington, e que hoje em dia consideram a possível compra de S-400 da Rússia com o fim de diminuir sua dependência da produção estadunidense.

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