Uma nova escalada na confrontação russo-americana no respectivo campo se deu ontem, quando o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, anunciou planos de "satisfazer as necessidades em outro lugar", caso o contrato sobre os F-35 norte-americanos não seja concretizado como previsto. Enquanto isso, vários analistas se apressaram a propor que uma substituição adequada para os turcos pudesse ser o novo caça russo Su-57. A Sputnik Brasil falou com especialistas em assuntos militares para entender o que está por trás de tais declarações e descobrir se a Rússia na verdade pode ultrapassar os EUA nesta área, mesmo em sua própria "casa", isto é, na OTAN.
Em primeiro lugar, é preciso entender por que é que Ancara passou a fazer tais declarações, se o acordo para a compra dos F-35, avião muitas vezes criticado por falhas técnicas, já existe.
A coisa é que a Turquia, mesmo sendo membro da OTAN, tenta evidentemente se assegurar para o caso de Washington acabar por sair unilateralmente do acordo por causa da compra pela Turquia de sistemas de mísseis russos S-400 Triumph e da exigência para acabar com essa compra.
"É preciso entender que, com as entregas de S-400 à Turquia, se está travando uma chamada guerra de informações. De vez em quando […] aparece tal tipo de insinuações, em primeiro lugar por parte dos EUA e seus aliados, para que a Turquia descarte sua decisão", frisa o especialista em assuntos militares e diretor comercial do jornal Arsenal Otechestva, Aleksei Leonkov.
Ao mesmo tempo, isto bem parece uma espécie de "blefe" por parte do Pentágono, pois estes dois armamentos — os F-35 e o S-400 — não são substituíveis mutuamente e desempenham papéis completamente diferentes.
Nesse contexto, o país precisa garantir não só suas capacidades de defesa, mas também de ataque, especialmente sabendo que a prometida entrega dos sistemas Patriot estadunidenses, de fato, não deu em nada e resultou na celebração de um acordo com os russos.
"Os americanos não foram longe nas suas promessas. Por isso, os turcos têm toda a consciência de que isso é apenas outro trote, outra bajulação, enquanto os S-400 são uma realidade", sublinhou.
No entanto, parece que os turcos também não evitam a simulação em sua relação com a Casa Branca. A coisa é que, comentou o especialista militar à Sputnik Brasil, as exportações do novo avião russo de 5ª geração Su-57 são ainda uma perspectiva muito distante para ser anunciada, e Ancara obviamente que sabe disso.
"Hoje em dia, os Su-57 estão passando aqui pela chamada exploração de teste nas tropas, ou seja, foi produzido um lote pequeno destes aviões que hoje em dia segue sendo testado por nossos pilotos da Força Aeroespacial da Rússia para detectar todas suas vantagens e desvantagens, para ter em consideração isso tudo quando começar a produção em série", disse Leonkov à Sputnik.
Assim, antes que sejam terminadas todas essas etapas e o Su-57 seja posto em serviço pelo Ministério da Defesa da Rússia, estudado pelos pilotos e integrado completamente nas tropas russas, não se pode falar em qualquer tipo de exportações.
Isso, segundo o especialista, costuma levar uns cinco ou até dez anos.
"Claro que a Turquia responde aos EUA que preferia comprar os Su-57 em vez dos F-35, é uma espécie de jogo de informações", resumiu.
"Hoje, com base na comparação… entre as caraterísticas de combate, preço e qualidade, claro que a Turquia se inclina mais para a compra dos Su-57 para aumentar o nível das suas Forças Armadas", disse, adiantando que nesta situação é indispensável levar em conta a possível pressão por parte dos norte-americanos, que pode influir na decisão final."
Em que resultará essa 'disputa' armamentista?
Atualmente, a confrontação no mercado de armamentos, que "sempre existiu e continuará a haver", parece ter entrado em uma fase nova. É sabido que, ao longo de muitas décadas, os EUA têm liderado esse espaço, virando de fato o único e principal fornecedor de armas a países de várias regiões de globo.
Para isso, sublinha Leonkov, apontam inclusive as estatísticas de todos os grandes centros de pesquisa, como as do instituto suíço SIPRI ou do IISS de Londres. Já a Rússia e a China, por sua vez, recentemente se mostraram como grandes concorrentes. Contudo, esta "concorrência" ainda está longe de ser verdadeira, assegura o primeiro interlocutor da Sputnik.
Um fator que joga a favor de Moscou nesse respeito, acredita o especialista, são as provas reais da eficiência dos armamentos russos — isto é, seu desempenho na Síria.
Enquanto isso, os equipamentos usufruídos pela coalizão internacional encabeçada pelos EUA, pelo contrário, demonstraram fragilidades, sofrendo problemas com a eliminação eficaz dos terroristas e em evitar mortes de civis durante as operações, como foi em Raqqa e Mossul.
De acordo com Leonkov, cada vez mais países ficam conscientes deste problema de dependência e pouca eficiência das armas norte-americanas e tentam encontrar parceiros novos. Alguns países, por sua vez, conseguiram entendê-lo antes que fosse tarde demais.
"Qualquer país entende isso. Vamos tomar o exemplo da Venezuela. Se não fossem os armamentos russos outrora comprados por Hugo Chávez, o país teria sofrido toda a ira americana e repetido o destino triste da Líbia", disse.
Já para Andrei Koshkin, o fato de até países da OTAN, da qual a Turquia faz parte, não só quererem importar, mas comprarem de fato armamentos russos, certifica uma espécie de erosão dentro do bloco.