A polarização está crescendo na Turquia, assegura Imanol Ortega, doutor em Ciências Sociais da Universidade de Granada, cuja tese foi baseada na análise da atuação do partido no poder.
"Algo que Erdogan também conseguiu é a polarização de 'comigo ou contra mim'. Isso levou a que as partes divididas pela grande maioria dos assuntos tabu, como a questão curda, […] se unissem contra o partido hegemônico no sistema político turco desde 2002 ", comentou o especialista à Sputnik Mundo.
De fato, após o anúncio das eleições presidenciais e legislativas antecipadas deste domingo, três partidos se juntaram sob o lema "Aliança da nação": o Partido Republicano do Povo, social-democrata, o Bom Partido (Iyi, nacionalista moderado de direita) e os islamitas do Saadet, que pode ser traduzido como "Partido da Felicidade".
Esse conglomerado recebe o apoio de 32 — 38% dos eleitores, a julgar pelas pesquisas anteriores, enquanto a coalizão dominante liderada pelo partido de Erdogan varia entre 42 e 46%. O restante, cerca de 20%, são nacionalistas curdos e de esquerda do Partido Democrático dos Povos.
Em 2002, quando o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) venceu pela primeira vez após ter sido fundado um ano antes por Erdogan, começou um ciclo eleitoral que lhe concedeu maiorias parlamentares por quatro vezes consecutivas.
"Deve-se notar que o AKP surgiu após uma grande crise econômica e um governo tripartido bastante ineficaz", recorda Ortega sobre a situação existente no país quando Erdogan se tornou primeiro-ministro.
Em 2014, ele foi eleito presidente por voto direto, de acordo com as primeiras reformas do sistema eleitoral realizadas em 2007.
"Dada a desvalorização da lira turca em 20% até agora e o grande desemprego nas cidades como Istambul e Ancara, acredito que as dificuldades que antes impulsionaram o AKP talvez possam o tirar do poder", resume Ortega.
A Turquia tornou-se um actor relevante no contexto internacional, tanto para o mundo muçulmano como para a Europa, Rússia e Estados Unidos, não só devido à sua localização geográfica estratégica, mas também devido ao seu poder militar, sendo o segundo exército mais importante da OTAN.