Em 27 de junho, o chefe do Pentágono, James Mattis, assegurou que seu país deve "trazer seu jogo no Ártico para um novo nível". A declaração foi bastante repercutida tanto na mídia internacional quanto na russa — tendo sido entendida com certa preocupação em relação a um eventual confronto estratégico dos norte-americanos com a Rússia nos respectivos territórios.
'Agonia' americana
De fato, após o colapso da URSS e o fim da Guerra Fria, o Ártico acabou sendo uma das regiões que escaparam ao olhar do Pentágono e acabou ficando maioritariamente dominada pelos russos, que conseguiram desenvolver lá toda uma série de projetos.
Deste modo, por exemplo, hoje em dia os EUA não possuem nenhum quebra-gelo de alto mar, enquanto um novo navio deste tipo poderá ser lançado à água daqui a cinco anos no mínimo. Ao mesmo tempo, a Rússia é de fato o único país que possui uma frota de quebra-gelos nucleares, unidades indispensáveis para desbravamento do Extremo Norte.
Tudo isso faz com que o Pentágono fique extremamente preocupado com o avanço da Rússia na região. Assim, os especialistas no assunto avaliam que em média o atraso americano neste campo é de ao menos 10%. Os maiores problemas dos militares estadunidenses nesse sentido é a ausência de navios adequados, o pouco treinamento militar adaptado ao clima ártico e a falta de respectivos equipamentos para os soldados.
Outros atores no palco
Evidentemente, não é por acaso que o Ártico está gerando tanta repercussão na política internacional: tem valor estratégico por possuir enormes reservas de recursos naturais e ser uma alternativa viável e mais barata às rotas comerciais já existentes. Nesse respeito, a Rússia já está se empenhando ativamente na criação da Rota Marítima do Norte, que promete grandes avanços, enquanto Washington, com seu nervosismo, já passou a propor convertê-la em patrimônio mundial e não só dos russos.
Mas claro que Moscou e Washington não são os únicos atores que tem pretensões nas áreas do Extremo Norte. Entre outros, há o Canadá, a Dinamarca, a Finlândia, a Islândia, a Noruega e a Suécia, sendo estes os países-membros do chamado Conselho Ártico.
A questão é que na última década a Rússia tem dado vários passos que acabaram ressuscitando as disputas territoriais na região. Isto, certamente, não agradou a nenhum destes Estados e os levou a reclamar pelo seu pedaço do bolo também.
Vale ressaltar que na época, em 2001, a Rússia não conseguiu promover o reconhecimento da sua solicitação nas Nações Unidas. Já em 2015, após um grande ciclo de pesquisas e investigação científica, o país voltou a apresentar um documento mais aprofundado, contudo com a mesma ideia.
De acordo com os especialistas, o resultado sairá não antes do próximo ano, pois ele se entrelaça ainda com outras solicitações do mesmo tipo, como a dinamarquesa ou a canadense. Não é de estranhar, pois as profundezas dos mares do Norte abrigam pelo menos uns 83 bilhões de toneladas de combustíveis, sem falar das reservas ainda não achadas, que devem ser muitas. Assim, caso a Rússia tenha sua solicitação aprovada, já vai ficar com ao menos 5 bilhões de toneladas, o que é crítico para a economia do país.
Há um verdadeiro risco de conflito armado?
Se nos focarmos no aspeto meramente militar e não no econômico em relação ao Ártico, vários analistas supõem que até existe um risco de conflito armado na área, principalmente entre os russos e os norte-americanos. Serão justas tais preocupações?
Enquanto isso, é cada vez estreita a cooperação da Rússia com a China, inclusive nas regiões árticas. Para alguns especialistas, a mesma trajetória poderá ser aplicada entre os antigos rivais da área, ou seja, os Estados árticos, pois o crescente risco ambiental e os desafios naturais devem ser algo que una essas potências.
Contudo, é difícil dizer se os países serão capazes de sacrificar seus apetites políticos e econômicos para o bem de todos. Até hoje, parece que nessa batalha cada um briga por si mesmo.