Durante sua viagem ao pequeno povoado de bôeres na África do Sul, Kleinfontein, a Sputnik Brasil descobriu como é que esse povo se concentra em comunidades em busca de preservar sua cultura.
Embora o governo sul-africano continue negando o caráter sistemático desses crimes, vários jornalistas e organizações humanitárias já o consideram como genocídio; é assim, por exemplo, que o classifica o portal Genocide Watch.
Como Kleinfontein se protege
Avalia-se que desde 1997 o número de fazendeiros brancos teria se reduzido em um terço. Nem as cercas elétricas e os cães de guarda ajudam a acabar com os crimes, frequentemente de caráter muito violento.
No que se trata de comunidades inteiras, estas são alvos menos frequentes de criminosos, porém, também correm riscos. Entretanto, conta o nosso guia em Kleinfontein e membro do Conselho de Administração do povoado, Dannie de Beer, as autoridades de Kleinfontein decidiram não seguir o caminho armado de se protegerem.
"Sim, estamos cercados. Já a segurança que você viu na entrada serve mais para o controle fronteiriço, digamos assim. Mas é claro que não [agem] da mesma forma que em um país. Isso seria fantástico, é um pequeno sonho para nós. Eles não estão armados, não temos quaisquer agentes de segurança armados", diz Dannie.
O interlocutor da Sputnik assegura que nos raros casos de brigas ou desentendimentos na "fronteira", preferem que as autoridades locais resolvam a questão.
"Se acontece alguma briga ou algum desentendimento… Continuamos respeitando as leis sul-africanas e cabe à polícia da África do Sul lidar com isso", explica.
"Temos sido fazendeiros por décadas, por séculos. Desbravar terras e agricultura é algo que nós fazemos. Por isso é muito difícil chegar ao pé de algum fazendeiro, especialmente de idade avançada, e dizer: 'É perigoso para você ficar aqui.' Ele simplesmente responderia: 'Isto é a minha vida, é como eu fui criado, é algo que meu pai fazia, que meu avô fazia.' E você explicaria: 'Um fazendeiro da casa vizinha foi assassinado na semana passada.' Mas ele simplesmente se recusaria a se retirar daquelas terras", confessa.
Como se abafam as mortes
Outra coisa que provoca preocupação, não só dos africâneres, mas também de organizações humanitárias, é a ignorância do governo sul-africano e das principais mídias locais e internacionais em relação aos crimes nas fazendas. Em vez de reconhecer o horror que a população rural branca está vivendo, diz Dannie, as autoridades encontram pretextos para o explicar.
"A arrogância e a satisfação com as quais a nova África do Sul lida com o assunto do assassínio de fazendeiros [é inédita]. Eles simplesmente afirmam que são crimes isolados, normais, explicam que os fazendeiros são alvos fáceis, pois não têm cercas elétricas, não têm guardas. Então, na opinião deles, é mais fácil atacar uma fazenda. Mas uma fazenda pode abranger uns 10-15 quilômetros. Você tem que viajar! Você tem ora que andar a pé, ora pegar um veículo e ir deliberadamente para tentar atacar aquele fazendeiro. Não seria muito mais fácil ir para uma cidade, onde tem vivendas em frente de você mesmo?", se indigna o nosso entrevistado.
Para ele, as ações criminosas contra fazendeiros brancos na África do Sul são evidentemente algo "premeditado e vingativo", ou seja, um "ato de ódio".
"Aquelas pessoas refutam que os africâneres estejam em perigo, elas negam que haja ódio racial na África do Sul, que a cultura africâner esteja ameaçada, que os assassínios de fazendeiros sejam orquestrados, dizem que é um crime comum", prossegue.
Globalismo vs Nacionalismo
Aliás, o fato desta situação quase não receber atenção midiática, para Dannie, tem a ver com a narração liberal e globalista que afeta cada vez mais países.
Na opinião dele, "isto não funcionou antes e não vai funcionar agora", o que pode ser refletido na crise das estruturas da União Europeia, com visões cada vez mais divergentes e aspirações de saída de vários membros.
Em uma conversa com a Sputnik, Dannie expressa sua teoria sobre aquilo que contribui para a perda de identidade nacional: a coisa que o movimento africâner descarta e que tem atingido o continente europeu ao longo das últimas décadas. Para ele, a principal razão para isso é a importação de mão de obra.
É esse mesmo cenário que, passados muitos anos, acontece hoje em dia na Europa, adverte Dannie.
"Algo que a Europa também tem que tomar consciência… Acho que nesse respeito os alemães erraram logo no início, é […] o momento em que você começa a importar a força de trabalho de fora para trabalhar em vez de você — é o primeiro passo para perder seu país. A Alemanha começou com turcos, agora já tem regiões que não são Alemanha de fato, são Turquia", argumenta.
O nosso guia por Kleinfontein expressa suas reflexões em meio a um cenário verdadeiramente deslumbrante: no mesmo lugar onde mais de 118 anos atrás ocorreu uma das mais acirradas batalhas da Segunda Guerra dos Bôeres contra os britânicos.
![Cemitério de combatentes que morreram na Batalha de Diamond Hill, em Kleinfontein Cemitério de combatentes que morreram na Batalha de Diamond Hill, em Kleinfontein - Sputnik Brasil](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/1184/77/11847753_0:98:5184:3357_600x0_80_0_0_8f36c6ddcef6a032874b5594ff34e098.jpg)
![Monumento dedicado à Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein Monumento dedicado à Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein - Sputnik Brasil](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/1184/78/11847821_0:98:5184:3357_600x0_80_0_0_ff9cdca81263262404873073c64de55d.jpg)
![Monumento dedicado à Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein Monumento dedicado à Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein - Sputnik Brasil](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/1184/78/11847890_0:98:5184:3357_600x0_80_0_0_9521ec9d357af98a3af95bfed72f9af2.jpg)
![Local da Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein Local da Batalha de Diamond Hill entre bôeres e britânicos, datada de 1900, em Kleinfontein - Sputnik Brasil](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/1184/80/11848050_0:98:5184:3357_600x0_80_0_0_2d6fbab496200d60b213fb46a26dccc7.jpg)
![Dannie de Beer mostra o mapa de Kleinfontein Dannie de Beer mostra o mapa de Kleinfontein - Sputnik Brasil](https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/1184/81/11848130_0:98:5184:3357_600x0_80_0_0_31e293c9e98e1b2d7475f53424ee180d.jpg)
Por baixo do declive ficam dois cemitérios, um para os habitantes de Kleinfontein, e outro acolheu os heróis que pereceram em um combate com vantagem numérica esmagadora do inimigo.
"A batalha de Diamond Hill [Donkerhoek em africâner] aconteceu nesta mesma propriedade. Vamos passar pelas áreas onde mais de 100 anos atrás os bôeres atiravam com rifles contra os britânicos […] Então estas terras têm um valor histórico muito grande para nós […] Nossos antepassados morreram aqui, tem sangue deles aqui. Os britânicos eram 30 mil e os bôeres eram 3 mil. Morreram 2 bôeres e 28 britânicos. Eles estavam tão confusos com a batalha que o general britânico […] nem sequer queria dizer [para as autoridades] quantos bôeres havia lá", resume Dannie, sem poder abafar seu grande orgulho pela sua nação.
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