O aposentado general-major das Forças Armadas da Turquia, Ahmet Yavuz, notou que a crise nas relações entre Ancara e Washington não é antiga e que as tensões ao redor do pastor americano Andrew Brunson, preso na Turquia desde outubro de 2016, é somente a ponta do iceberg.
Yavuz considera que enquanto os EUA não derem passos reais rumo ao melhoramento da situação em questões como extradição do propagador islâmico Fethullah Gulen, acusado de participar do assassinato do embaixador da Rússia na Turquia, Andrei Karlov, não vale a pena esperar que Ancara dê os primeiros passos.
"Se as autoridades turcas decidirem reagir rigorosamente às ações dos EUA, pode ser tomada a decisão sobre o fechamento da base militar em Incirlik e suspensão do uso do radar em Kurecik. Por sua vez, essas ações podem provocar novos passos de resposta, e a tensão política entre os dois países pode se transformar em uma ruptura", explicou o militar aposentado turco, adicionando que, por enquanto, os EUA não estão se esforçando para resolver os problemas existentes.
"Se olhar para a situação de forma estrutural torna-se óbvio que as relações turco-americanas atingiram, digamos, um ponto sem volta. Os posicionamentos da Turquia e dos EUA não coincidem em praticamente nenhuma questão. Até mesmo nos assuntos de política externa, que são muito importantes para a Turquia, os EUA aplicam uma política hostil ao nosso país. […] Já não se pode falar sobre a Turquia e EUA como aliados. […] Os EUA desde a época da Guerra Fria têm considerado a Turquia não como um aliado, mas como uma colônia, por isso, mais cedo ou mais tarde, a crise nas relações se manifestaria inevitavelmente", sublinhou Hasan Unal.
Entre os problemas nas relações bilaterais, ele citou a retirada dos militares turcos do Chipre, a falta de apoio à Turquia no mar Egeu e, acima de tudo, o apoio norte-americano ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão para criação de um Estado curdo independente.
O professor continuou: "Ao invés de usarem métodos diplomáticos, os EUA optaram por pressionar, podendo levar ao rompimento das relações."
"Temos que mostrar para [Estados Unidos da] América que não tememos ameaças, sendo necessários um posicionamento decisivo e sólido e uma estratégia de xadrez bem pensada. […] Os EUA entendem o idioma de força e pressão. Deparando-se com força do adversário, eles começam a ser guiados pela lógica. E se a Turquia não se mostrar sólida, ela pode sofrer grandes perdas e pode dar aos EUA possibilidade da futura pressão na região, e em particular, no que se refere às sanções anti-iranianas", concluiu o analista.